O avanço da inteligência artificial nos escritórios tem reconfigurado rotinas, simplificado tarefas administrativas e otimizado a produtividade de equipes em todo o mundo.
Ferramentas como ChatGPT, Claude e Gemini já são utilizadas diariamente para escrever e-mails, organizar calendários e produzir resumos automáticos.
No entanto, cresce a percepção de que essas aplicações estão longe de explorar o verdadeiro potencial da IA.
Embora agilizem o dia a dia, muitas dessas tarefas têm baixo impacto estratégico.
Para especialistas, isso revela um uso subdimensionado de uma tecnologia que poderia estar orientando transformações mais profundas em áreas como saúde, educação, energia ou planejamento urbano.
Alto custo para baixo impacto
Além da limitação funcional, há também a questão do custo.
O uso de modelos avançados de linguagem demanda significativa energia computacional.
O resultado é um consumo elevado de recursos — tanto financeiros quanto energéticos — que, quando direcionado a demandas operacionais simples, pode se tornar ineficiente para as empresas.
Segundo avaliação do Financial Times, sistemas como Claude e ChatGPT apresentam bom desempenho em tarefas básicas.
No entanto, quando desafiados a executar ações mais complexas, como reservas ou planejamento de viagens, ainda dependem de correções manuais ou supervisão constante.
A banalização do uso da IA
Para Bruno Nunes, CEO da Base39 e especialista em tecnologia, há um descompasso entre o potencial da IA e a forma como ela vem sendo aplicada.
“É um desperdício usar uma tecnologia tão sofisticada para resolver problemas que não impactam nosso futuro”, afirma.
Segundo ele, a banalização do uso da IA não apenas representa uma perda de oportunidade, mas também pode atrasar avanços em setores que realmente demandam soluções estruturais e inovadoras.
Além disso, a dependência excessiva de tarefas triviais pode reduzir o interesse de empresas em explorar usos mais ousados e relevantes da tecnologia.
A IA ainda não substitui o essencial
Outro risco apontado por especialistas está relacionado à delegação de funções que exigem julgamento humano.
Mesmo com avanços em automação, a IA ainda não substitui competências como empatia, pensamento crítico e liderança.
Essas habilidades seguem sendo essenciais, especialmente em cargos de alta responsabilidade.
Além disso, o uso indiscriminado de sistemas automatizados pode levar ao empobrecimento das competências interpessoais.
A longo prazo, isso impacta negativamente o ambiente organizacional e a capacidade de liderança dentro das empresas.
O desafio da intencionalidade
Portanto, o debate não está na adoção da inteligência artificial, mas na forma como ela é aplicada.
A pergunta mais relevante talvez não seja “o que a IA pode fazer?”, mas sim “por que e onde aplicá-la?”.
Para que a IA cumpra seu papel transformador, é necessário ir além da automação do trivial.
Empresas e profissionais precisam avaliar como a tecnologia pode ampliar capacidades humanas, estimular a criatividade e oferecer respostas a problemas reais.
Essa decisão — de onde e como usar a IA — pode ser, no fim das contas, a mais estratégica de todas.