
Da Página do MST
Eucalipto não faz floresta, não enche o prato, destrói a terra, água e mata rios!“
Na manhã desta quinta-feira (13), nós, Mulheres Sem Terra, ocupamos área da Suzano Papel e Celulose, na cidade de Aracruz, no Espírito Santo, com cerca de 1.000 mulheres, para denunciar os seus crimes ambientais, as consequências do monocultivo de eucalipto para os povos, a terra e a natureza, bem como questionar o Estado brasileiro sobre a função social e ambiental da terra.
A ação faz parte da Jornada Nacional de Luta das mulheres Sem Terra, que acontece de 11 a 14, na semana após o 08 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, em que as Sem Terra em todo o Brasil entoam: “O agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital!”.
Vivemos em um contexto de aprofundamento do colapso ambiental e climático, em que o povo brasileiro sofre com a alta nos preços dos alimentos, enquanto empresas como a Suzano avançam com seu poder destrutivo, lucrando com suas falsas “soluções” para a crise ambiental.
A Suzano e seus crimes contra os povos e natureza
Essa empresa vem há décadas causando destruição e devastação ambiental sistemática, com grilagem de terra, envenenamento de solos, rios e matas nativas, para a expansão dos seus monocultivos de eucalipto, o que leva à perda de biodiversidade e à degradação de ecossistemas, instaurando uma série de conflitos contra os povos do campo, águas e florestas. Essas violências impactam primeiramente a vida das mulheres, especialmente, as mulheres negras, camponesas, indígenas e quilombolas.
Estudos mostram que as fábricas da Suzano e os monocultivos de eucalipto consomem cerca de 200 bilhões de litros de água por ano, causando a seca de rios e córregos, sendo o equivalente ao consumo de mais de 6 milhões de pessoas. Estima-se que suas emissões de CO2 na atmosfera chegam a 4 milhões de toneladas por ano, mais do que alguns países inteiros. Além disso, na América Latina é a única empresa autorizada a plantar dois tipos de eucalipto transgênico, mesmo que isso represente graves riscos à saúde.
O uso intensivo de agrotóxicos é outra marca dos monocultivos de eucalipto, e através da pulverização aérea contamina a terra, a água e as comunidades no entorno, mas também as roças, hortas e até a produção de abelhas de pequenos agricultores nas áreas próximas. Entre os venenos mais utilizados estão o herbicida Glifosato e o formicida Sulfuramida – um produto para combater formigas, atualmente banidos em muitos países do mundo e ambos associados ao desenvolvimento do câncer e diversas outras doenças. A contaminação também se dá pelo uso do cloro nas fábricas de celulose, o qual a empresa despeja suas dioxinas, um dos produtos mais tóxicos que se tem conhecimento no mundo, nos rios e no mar.
A Suzano e seus crimes contra a democracia
É importante dizer que sua história devastadora no Espírito Santo, datam desde a ditadura empresarial militar, em que seus acionistas foram premiados por apoiar o golpe, com a facilitação e a construção de uma série de medidas para privilegiar a empresa nos conflitos fundiários entre os povos tradicionais e a empresa de celulose, bem como facilitar fraudes nas titulações. Nesse período o Brasil passou de importador de pasta de celulose branqueada para um dos maiores exportadores do mundo.
Em 2002, a Assembleia Legislativa capixaba criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Aracruz), trazendo à tona essa relação entre a empresa, a ditadura e a grilagem de terra. Segundo apuração, a empresa usava os funcionários como “laranjas”, que falsamente se qualificavam como agricultores, e manifestavam a intenção de desenvolver atividades agrícolas na propriedade. Contudo, após obter a titulação das propriedades rurais, transferiram à então Aracruz Celulose o título da propriedade, acarretando a concentração de muita terra no Espírito Santo.
Atualmente, seguindo seu histórico de conspirar contra o povo brasileiro, a Suzanno segue a financiar e apoiar o conservadorismo. Os integrantes da diretoria da empresa e fundadores, os Feffer, com uma fortuna acumulada de mais de 30 bilhões reais, integram e patrocinam o Movimento Endireita Brasil, do qual Carla Zambelli e Ricardo Salles também fazem parte. Ambos, são a base do bolsonarismo que intentou o golpe em janeiro de 2023 e ruralistas. Zambelli integra a Frente Parlamentar Agropecuária e apoiou o PL da Grilagem, já Salles foi acusado e condenado pelo Ministério Público de São Paulo, quando secretário de Meio Ambiente, de favorecer empresas – entre elas a Suzano Celulose, privilegiando extração ilegal de madeira e minérios em detrimentos de medidas socioambientais.
Por que as mulheres Sem Terra lutam?
É neste contexto que ocupamos a Suzano Papel e Celulose, para denunciar que suas terras poderiam assentar mais de 100 mil famílias em todo o Brasil e produzir comida para a população brasileira. A empresa representa uma síntese do que significa o modelo do agronegócio para o povo brasileiro – uma grande falácia, um projeto de ganância que condena os povos e a natureza, um empecilho para o Brasil ser um país com soberania popular, justiça social e ambiental. O agronegócio é a mentira do Brasil!
Reafirmamos o compromisso do MST de seguir lutando por Reforma Agrária Popular, para avançar na produção de alimentos saudáveis e a preços justos para o povo brasileiro. Denunciamos o Estado e a Frente Agropecuária, que inviabiliza a retomada da Reforma Agrária, bem como cobramos agilidade do governo federal para desapropriar e assentar as famílias que estão em 22 áreas apropriadas ilegalmente pela Suzano.
O Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital!
Por Marielle e à vida das mulheres,
Sem anistia para golpista!
Mulheres Sem Terra, 13 de março de 2025, Aracruz/ES.