“Mas quem é o partido? Ele fica sentado em uma casa com telefones?
Seus pensamentos são secretos, suas decisões desconhecidas?
Quem é ele? Nós somos ele. Você, eu, vocês – todos” […]Quem é o partido? de Bertolt Brecht

O 17º Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores, realizado no último fim de
semana em Brasília, marcou um momento decisivo na trajetória recente da
esquerda brasileira. Diante de um cenário político ainda em disputa, o Encontro não
foi apenas um espaço de debates internos, mas um gesto público de vitalidade
partidária, de capacidade organizativa.

A presença massiva de delegados e delegadas de todas as tendências, aliada ao
processo que culminou na eleição da nova direção nacional, mostrou que o PT
segue sendo a maior e mais enraizada organização popular e democrática de
esquerda do país. Mas o encontro também deixou claro que há um novo ciclo em
curso — um ciclo que exige do partido mais do que resistência: exige iniciativa
política, capacidade de formulação estratégica e inserção ativa nos conflitos sociais
que moldam o Brasil contemporâneo.

O desafio para os próximos anos é duplo: por um lado, consolidar as conquistas e
avanços do governo Lula; por outro, preparar uma transição que preserve o projeto
político petista para além da figura de nosso maior líder. Em outras palavras, o PT
precisa ser capaz de se renovar sem se descaracterizar, de se reorganizar sem se
fragmentar.

  1. Unidade como ponto de partida, não de chegada
    A unidade reafirmada no Encontro não foi construída por consenso automático, mas
    por um pacto estratégico em torno da necessidade de fortalecer o partido frente aos
    embates de 2026. As nossas diferentes correntes internas, embora diversas em
    ênfases e propostas, compreenderam que a fragmentação não pode ser um luxo
    num momento em que a extrema direita segue viva, organizada e articulada nos
    territórios e nas redes.
  2. A reconstrução do partido como tarefa histórica
    Ficou evidente que o PT precisa reocupar seu lugar como instrumento da classe
    trabalhadora — não apenas nas instituições, mas nos locais de vida e trabalho do
    povo. Isso exige repensar sua forma de organização, superar a burocratização que
    se consolidou nos últimos anos e reconstruir vínculos com os movimentos
    populares, os sindicatos combativos, a juventude e as periferias. Como bem disse
    nosso novo presidente eleito, Edinho Silva, em outras palavras, é preciso resgatar o
    nosso modelo de governar, nossas agendas.
  3. A sucessão de Lula: preparar o futuro sem negar o presente
    A liderança de Lula ainda é central para o nosso projeto petista, mas o Encontro
    deixou claro que o partido precisa se preparar para existir com força também sem
    sua presença nas urnas. Porque como bem disse o presidente Lula no Encontro, o
    sucessor dele não é um nome, é o Partido dos Trabalhadores. Isso não significa
    abandonar nossa figura simbólica, mas usá-la como ponte para formar novos
    quadros, novas lideranças e um novo imaginário de poder popular. A sucessão deve
    ser coletiva, orgânica e estratégica.
  4. Reenraizar o PT na luta social e cultural
    Um dos eixos mais relevantes discutidos foi a necessidade de o partido voltar a
    disputar corações e mentes — não só com programas de governo, mas com
    práticas culturais, educativas e organizativas. Isso implica estar presente nas
    escolas, nas redes, nos aplicativos, nas ocupações, nas associações de bairro, nos
    terreiros, nas igrejas progressistas. A hegemonia se disputa também no cotidiano.
    Precisamos nos reconectar com a base.
  5. Preparar 2026 como parte de um projeto de longo prazo
    O Encontro apontou que a eleição de 2026 não pode ser tratada como um fim em si
    mesmo. A vitória eleitoral será frágil se não estiver ancorada em um projeto
    estratégico de médio e longo prazo. O PT precisa crescer no Congresso, mas
    também nas consciências. Precisa formar novos militantes, defender seu programa
    com clareza e ousadia, e reconectar política e esperança — elementos centrais de
    qualquer virada histórica.
  6. O novo modelo de PED
    Não quero me prolongar na avaliação que tenho sobre nosso Processo Eleitoral
    Direto que foi feito neste ano. Mas quero destacar aqui que considerando o acúmulo
    histórico do Partido dos Trabalhadores e a necessidade de reaproximar suas
    instâncias da militância de base, a substituição do atual modelo das nossas eleições
    internas por um novo sistema, baseado na construção coletiva e territorializada da
    vida orgânica do partido.
    Com isso, gostaria de dizer que sai do 17º Encontro Nacional do PT reflexivo com
    tudo o que foi discutido, mas esperançoso de que talvez no horizonte do nosso
    partido novas paisagens estão surgindo, trazendo renovação e luta.
    Luciano Barbosa
    Secretário Municipal de Políticas Públicas

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Last Update: 05/08/2025