O ataque da PM no Morro Santo Amaro, no bairro carioca do Catete, durante uma festa junina tradicional, autorizada pela própria PM, é mais uma evidência do fracasso e do horror que emergem da política de segurança do governador Cláudio Castro.

O que era uma festa alegre, familiar, reunindo centenas de pessoas, inclusive de outras comunidades do estado, terminou em pânico, correria e muitos tiros. No caos, a PM matou o jovem trabalhador Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, filho único de Monica e Fernando, e feriu cinco pessoas, um deles, um adolescente de 16 anos, morador de São Gonçalo; ele fazia parte da Quadrilha Balão Dourado, que tinha acabado de se apresentar no evento quando foi atingido. A Polícia Civil afirmou que nenhuma das vítimas tinha envolvimento com o tráfico.

Essa é uma tragédia que se repete cotidianamente no estado do Rio de Janeiro, um estado que mata mais de dois dos seus cidadãos, por dia.

Todo o trágico episódio da favela do Santo Amaro atesta a falência da política de segurança pública do governador Cláudio Castro, alicerçada no confronto, nos ataques às populações das favelas e periferias. Uma política que espalha o medo, o descrédito e a morte e aprofunda o preconceito contra as comunidades mais pobres da cidade.

(Enquanto escrevia, neste dia 10/06, uma nova e espetaculosa operação da Polícia Civil, no Complexo de Israel, para a Avenida Brasil, a Linha Vermelha, trens, ônibus e BRT; 21 escolas e dois postos de saúde estão fechados. Há notícias de quatro feridos, todos inocentes, sendo três passageiros de ônibus).

Nos últimos 10 anos, o estado do Rio de Janeiro ocupou, por seis anos, a triste liderança nacional de maior número de mortes em intervenções policiais. As vítimas são, na imensa maioria, negras e do sexo masculino, 54,5% tinham entre 12 e 24 anos – uma infância e juventude sendo eliminadas pelo estado.

É preciso combater o crime organizado, sim, mas com eficiência, inteligência e respeito aos direitos humanos. Há centenas de anos, o Brasil mata pobres, negros e a população periférica sem conseguir reduzir um ponto percentual do crime, que só faz crescer e se disseminar pelo estado. É uma política violenta, racista, classista, letal e inútil. Gasta-se milhões e milhões de reais para nada. O crime prospera a cada ano, enquanto Claudio Castro destina 15% para uma política de segurança pública comprovadamente derrotada.

De janeiro a abril de 2025, o Rio de Janeiro registrou números alarmantes de mortes violentas – que incluem homicídios, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. As mortes violentas cresceram 6%: dos 1.181 verificados de janeiro a abril de 2024, para 1.254 nos quatro meses iniciais deste ano. O Rio é o único estado do país a apresentar crescimento nos três indicadores, no período.

Já as mortes cometidas por agentes do estado saltaram 34%, neste período, chegando a 285 vítimas, nos primeiros quatro meses do ano. Em todo o país, houve queda de 2,5% de 2024 para 2025.

O fracasso do governo Claudio Castro mata também a polícia, onde o Rio é igualmente líder. De janeiro a abril de 2025, o Brasil registrou 71 mortes de agentes de segurança. A maioria ocorreu em nosso estado, onde os casos dobraram. As 37 mortes de agentes em 2025 representam mais da metade (52%) das 71 registradas em todo o país, segundo o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), do Ministério da Justiça.

O aumento de mortes de agentes, no Rio de Janeiro, ocorreu, principalmente, entre policiais militares (de 9, em 2024, para 17, em 2025), policiais civis (de nenhum, no ano passado, para quatro mortos ) e de agentes penitenciários (de dois crimes para 10). Dessas mortes, ao menos 10 aconteceram com agentes em folga, uma delas foi durante uma operação policial e outra enquanto o policial estava em serviço, mas não atuava em uma operação.

É preciso mudar já. Não basta exonerar os responsáveis por este ou aquele episódio. É urgente adotar amplamente o uso de câmeras corporais nas fardas dos policiais e nas viaturas. É imprescindível instituir e cumprir o aviso prévio das operações para autoridades das áreas de saúde e educação para proteger escolas e unidades de saúde de tiroteios entre policiais e criminosos; ao contrário do que diz o governador, isso não aumenta o crime, não é uma senha para bandidos, como demonstram os indicadores em todo o país.

Herus estava do lado de fora da padaria, passando um pix para pagar um refrigerante, quando os policiais chegaram pela escadaria de um beco e o atingiram. Ainda vivo, foi arrastado pelas escadas, sob o olhar desesperado da mãe. O rosto do jovem ficou marcado pelos solavancos e arranhões. Morreu no hospital.

Trata-se de mais um episódio trágico, que expõe a falência de uma política de segurança baseada no confronto e na desumanização das periferias. Nada será capaz de reparar a dor da perda ou trazer Herus de volta, mas é dever do governo do Rio de Janeiro assumir a responsabilidade pelo ocorrido, garantindo uma investigação rigorosa, transparente e independente, além de dar apoio integral à família de Herus e às demais vítimas afetadas.

Principalmente, é preciso mudar radicalmente a política de segurança do estado. Mas, com essa mudança, Claudio Castro não se compromete.

Reimont é deputado federal (PT-RJ)

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Last Update: 13/06/2025