A Justiça de São Paulo aceitou a primeira denúncia contra policiais militares envolvidos na Operação Verão, realizada no começo deste ano sob o comando do governador Tarcísio de Freitas, que resultou na morte de 56 pessoas na Baixada Santista.
Com isso, dois agentes da Rota se tornaram réus por homicídio qualificado. Segundo os promotores, esses policiais simularam um confronto e alteraram a cena do crime. O processo corre em segredo de justiça.
O caso que levou à denúncia diz respeito à morte de Allan de Moraes Santos, de 36 anos, ocorrida em fevereiro, na cidade de Santos. Segundo os policiais militares, quatro agentes averiguavam uma denúncia sobre um homem transportando armas num carro.
Ainda de acordo com eles, Santos teria desobedecido uma ordem de parada, jogado o veículo contra a viatura e disparado contra os PMs. Um agente teria respondido à suposta agressão com quatro tiros de fuzil e outro com quatro tiros de pistola.
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Mas, de acordo com os investigadores, a história é outra: os policiais teriam seguido o carro da vítima por alguns metros, até que o ultrapassaram e bloquearam a passagem. A ordem de parada, então, foi obedecida por ele.
Segundo trecho da denúncia obtida pelo G1, “com o tiro de fuzil, em razão da multiplicidade e gravidade dos ferimentos, não havia como a vítima manobrar e acelerar o carro para fugir do local, tampouco manusear uma pistola para disparar, em meio ao confronto, contra os policiais”.
Alta letalidade
Embora a Operação Verão seja realizada anualmente como forma de reforçar o policiamento no litoral paulista durante os meses de alta temporada, neste ano, ela acabou servindo para ações violentas, sob o argumento de combate ao crime organizado.
Seja qual for o argumento, o fato é que a truculência policial é uma política tradicional da direita e da extrema-direita. E os números mais recentes deixam claro que Tarcísio segue a mesma cartilha.
De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz, nos primeiros oito meses deste ano, as mortes causadas pela polícia saltaram 78% no estado de São Paulo. Ao todo, 441 pessoas foram assassinadas dessa forma, contra 247 em todo o ano de 2023. No caso das pessoas negras, o crescimento foi ainda maior: 83%, com 283 ocorrências ante 154 no ano passado.
Movimentos sociais, políticos e entidades ligadas aos direitos humanos têm denunciado o aumento da brutalidade da polícia, que já era violenta e ficou ainda mais letal sob o comando de Guilherme Derrite, secretário de Segurança, e Tarcísio.
Na avaliação do ouvidor da PM-SP, Cláudio Silva, feita à rádio Nova Brasil — no contexto da morte de um estudante de Medicina por um policial, ocorrida no dia 20 — “no geral, os policiais estão preparados, mas o que se vive em São Paulo é uma ordem para que primeiro se atire e depois se verifique de quem se trata a pessoa que foi alvo daquele tiro”.
Um dos parlamentares que mais têm denunciado a necropolítica bolsonarista é o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). Atuante na luta pelos direitos da população negra e contra as arbitrariedades policiais, ele declarou, recentemente, via redes sociais, que “o extermínio virou política de segurança respaldada pelo governo estadual. Os maus policiais estão incentivados a violar direitos”.
Com agências