Horas após militares cercarem a sede da presidência da Bolívia, a polícia boliviana prendeu o general Juan José Zúñiga. Ele liderou uma tentativa de golpe que cercou a Praça Murillo e as sedes do governo e do Congresso.
Zúñiga foi capturado e conduzido até um veículo policial do lado de fora de um quartel militar. “Está preso, meu general!”, indicou o vice-ministro de Governo, Jhonny Aguilera, segundo imagens da emissora estatal.
Além da prisão, o procurador-geral do Estado, Juan Lanchipa, determinou a criação de uma comissão de promotores para investigar a ação dos militares.
A ordem consta de carta enviada ao promotor departamental de La Paz, William Alave, nesta quarta-feira. O teor do documento foi revelado pelo jornal boliviano La Razón.
Um relatório deve ser apresentado em até 24 horas sobre o caso, segundo o ofício enviado pelo procurador, que também contém orientações de como proceder diante da tentativa de invadir a sede do governo boliviano.
“Você deve tomar no mesmo dia todas as ações judiciais que correspondam ao processamento e julgamento dos supostos autores do material, direta, indiretamente, ou instigadores e demais participantes, nos eventos acima descritos”, afirma a carta.
Lanchipa ainda recomendou que a promotoria de La Paz deve “envidar todos os esforços necessários para obter os elementos de convicção que contribuam para o esclarecimento dos fatos que constituem atos ilícitos, e os requisitos, as ordens de citação devem ser emitidas em no mesmo dia, mandamentos e resoluções devidamente fundamentadas”.
No início da noite, os militares começaram a se retirar das imediações dos palácios com seus tanques.
Assumiram os cargos:
- José Sánchez Velásquez, no Exército;
- Gerardo Zabala Álvarez, na Força Aérea; e
- Renán Guardia Ramírez, na Marinha.
Mais cedo, o presidente Luís Arce alertou contra o que chamou de “mobilização irregular de algumas unidades do Exército”. Na mesma linha, o ex-presidente Evo Morales afirmou que um golpe de Estado estava em preparação.
Após assumirem o controle da praça, militares tentaram, inclusive, derrubar uma porta do palácio presidencial. Antes de ser oficialmente destituído do posto de comandante do Exército, o general Juan José Zúñiga chegou ao local em um tanque e armado. Ele estava afastado do posto desde a semana passada.
“Os três chefes das Forças Armadas vieram expressar a nossa consternação. Haverá um novo gabinete de ministros, certamente as coisas vão mudar, mas o nosso país não pode continuar assim”, disse Zúñiga a uma TV local.
Mais tarde, o general afirmou que as Forças Armadas “pretendem reestruturar a democracia, que seja uma verdadeira democracia”.
Segundo Evo, além da mudança no Alto Comando Militar, “deve ser imediatamente iniciado um processo criminal com a demissão do general Zúñiga e dos seus cúmplices, em cumprimento da Constituição Política do Estado e da Lei Orgânica das Forças Armadas”.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, reagiu rapidamente e declarou condenar os acontecimentos desta quarta na Bolívia.
“O Exército deve submeter-se ao poder civil legitimamente eleito”, publicou nas redes sociais. “A comunidade internacional, a OEA e a Secretaria-Geral não tolerarão qualquer violação da ordem constitucional legítima na Bolívia ou em qualquer outro lugar.”
Os eventos na Bolívia coincidem com o início, nesta quarta, da assembleia-geral da OEA, que reunirá até sexta-feira em Assunção 23 ministros das Relações Exteriores da região, com foco em encontrar posições consensuais sobre a defesa da democracia.
Jeanine Áñez, que chegou à Presidência boliviana em 2019 após a derrubada de Evo Morales, manifestou nesta quarta “total repúdio à mobilização dos militares na Plaza Murillo na tentativa de destruir a ordem constitucional”. No fim de 2023, o Supremo Tribunal de Justiça da Bolívia ratificou uma condenação de dez anos de prisão contra Áñez por assumir o poder de forma ilegal.
No Brasil, o presidente Lula (PT) afirmou torcer para que a democracia prevaleça na Bolívia e disse que “golpe nunca deu certo”.
Em manifestação oficial, o Ministério das Relações Exteriores enfatizou que o governo brasileiro “condena nos mais firmes termos a tentativa de golpe de Estado em curso na Bolívia, que envolve mobilização irregular de tropas do Exército, em clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país”. O Itamaraty também expressou solidariedade a Arce.
(Com informações da AFP).