Em atualização — Chegou à redação do Diário Causa Operária (DCO) a informação de que mais um palestino se encontra preso no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo.
Ashraf Hamid Daoud Abuwarda, de 59 anos, chegou ao Brasil no início da semana, entre os dias 10 e 12 de agosto. Desde a quarta-feira (13), um amigo seu, que atualmente mora em Nova Iorque, nos Estados Unidos, vem mantendo contato com nossa equipe.
“Não fizeram nada por ele e não o levaram ao médico”, afirmou o amigo.
Abuwarda tem alterações na vesícula biliar, fígado aumentado (hepatomegalia), níveis elevados de glicose no sangue e hipertensão arterial. Ele trouxe consigo os resultados dos exames que comprovam suas condições de saúde.
Segundo o relato feito pelo amigo, o palestino não recebeu colchão, travesseiro ou cobertor para dormir. “Ele dorme em cadeiras”, disse.
A última semana foi uma das mais frias de São Paulo, com temperaturas médias de 10 °C nas manhãs da capital paulista. O tratamento dado a Abuwarda, além de degradante, pode causar uma evolução em seu quadro clínico, provocando crises agudas potencialmente fatais, como infartos, derrames, infecções graves ou descompensação metabólica.
Abuwarda nasceu em 22 de julho de 1966, em Jabalia. A cidade, situada na Faixa de Gaza, foi palco do episódio que levou à Primeira Intifada, em 1987. Na época, um grupo de trabalhadores palestinos foi atropelado por um veículo israelense. A reação a esse acontecimento deu lugar a um grande levante contra a ocupação sionista.
Embora palestino de origem, Abuwarda residia, até a última semana, nos Estados Unidos. Segundo seu amigo, ele morou no país da América do Norte por cerca de quatro décadas. O palestino decidiu deixar os EUA porque se sentiu ameaçado com a atual política migratória do país, que está levando a um aumento das deportações. Em mais de uma oportunidade, representantes do governo norte-americanos prometeram realizar “a maior operação de deportação em massa da história”.
Os Estados Unidos não reconhecem formalmente o Estado da Palestina como país soberano. Assim, para efeitos de imigração, um passaporte palestino não é aceito como prova de cidadania plena, apenas como documento de viagem. Essa situação poderia levar Abuwarda a ser deportado para qualquer país, inclusive aqueles onde há uma crise humanitária, como o Sudão.
Para evitar ser deportado, Abuwarda comprou uma passagem para a Bolívia, com conexão no Aeroporto de Guarulhos. Trata-se de uma forma comum de ingresso no Brasil, visto que a Bolívia costuma aceitar o passaporte palestino. Desde o 7 de outubro, quando se intensificou o cerco israelense à Faixa de Gaza, palestinos têm tentado entrar no Brasil fazendo uso desse expediente, mas são barrados pela Polícia Federal.
Há um ano, o Diário Causa Operária denunciou que uma família de quatro palestinos, incluindo duas crianças com menos de 10 anos, permaneceram presas no Aeroporto de Guarulhos. A mãe das crianças, Ghalia A.M. Hamad, é repórter da emissora catarense Al Jazeera, e estava grávida. Em determinado momento, Hamad foi separada de seu esposo por funcionários da Polícia Federal. Essa família também havia comprado passagens com destino à Bolívia.
DCO entrevista palestino expulso do Brasil pela Polícia Federal
Assim que Abuwarda chegou ao Brasil, foi detido por funcionários da Polícia Federal. Cerca de dois dias depois, ao serem informados de que o palestino havia partido dos Estados Unidos, e não do Oriente Médio, os agentes teriam se desculpado e afirmado que Abuwarda seria liberado. À nossa equipe, o amigo de Abuwarda relatou que:
“Eles achavam que ele tinha vindo da Palestina, por ele ser palestino. E como ele veio dos Estados Unidos, então apareceu essa pessoa, que falou: ‘pode ficar tranquilo que a gente vai conseguir te liberar’. Essa pessoa chegou até a abraçar ele.”
No dia seguinte, no entanto, a promessa não se concretizou. Abuwarda permaneceu preso e, agora, está sendo ameaçado de ser deportado para outro país.
“O policial informou para ele que ele vai ser deportado para o México. Ele não quer ir para o México, ele quer ficar no Brasil, e ele vai ser mandado para lá, segundo esse policial. Eles estão forçando ele a ir.”