Polícia de SP ficou seis dias com celular de assessor de Moraes; Zambelli foi avisada de ocorrência
“A polícia levou quase 24h para ter um súbito interesse pelo conteúdo guardado no telefone?”, questiona Rodrigo
A Polícia Civil de São Paulo ficou pelo menos seis dias de posse do telefone celular de Eduardo Tagliaferro, ex-perito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), citado em reportagem da Folha de S. Paulo, jornal de direita paulista.
Tagliaferro aparece em vários dos diálogos reproduzidos pela Folha, conversando com outros auxiliares do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Greenwald e Serapião afirmam que as mensagens não foram obtidas com hackeamento ilegal.
E, por óbvio, não têm nenhuma obrigação de revelar como obtiveram os diálogos. Ao contrário, podem e devem proteger suas fontes.
Mas como a reportagem da Folha tem servido de munição para a extrema direita atacar Moraes, até com pedidos de impeachment, abre-se caminho para uma importante indagação: quem teria copiado as mensagens e repassado aos jornalistas?
O material veio da polícia?
Ou seria fruto de arapongagem militar?
Reparem: Zambelli fez a postagem enquanto Tagliaferro ainda era ouvido nas dependências da polícia paulista, no município de Caieiras, na Grande São Paulo.
Quem avisou Zambelli sobre o potencial político daquele caso, que começara como episódio de violência doméstica?
Não temos a resposta. Mas sabemos que o caso foi conduzido pela delegada Luciana Rafaelli Santini, como se observa no trecho final do boletim de ocorrência emitido pela Delegacia de Caieiras, às 6:10 da manhã do dia 9/05/23.
A polícia levou quase 24h para ter um súbito interesse pelo conteúdo guardado no telefone?
O fato é que só no dia 15/05/23 o aparelho foi devolvido a Tagliaferro.
A polícia de Tarcísio passou seis dias com o celular à disposição.
Foram extraídos todos os dados do aparelho? Ou só aqueles que interessavam à investigação sobre violência doméstica?
O que se sabe é que Tagliaferro foi imediatamente afastado de suas funções no TSE, após o episódio.
Este jornalista conversou com uma fonte em Brasília que garante: os funcionários do gabinete de Moraes receberam a instrução de bloquear Tagliaferro nas redes e evitar contato com ele, o que teria deixado o perito magoado com os antigos colegas.
Circulam nas redes sociais vídeos em que Tagliaferro participa de programas na rádio de extrema direita paulista Jovem Pan, defendendo o uso e porte de armas…
Quem conhece Tagliaferro mais de perto diz que ele não tem um perfil de gestor comprometido com temas da democracia e estranha que ele tenha integrado um gabinete estratégico — que investigava postagens golpistas.
O que importa é que, um ano e três meses depois da prisão e apreensão do celular, as mensagens vazaram, numa operação midiática que tem como objetivo claro enfraquecer Moraes e anistiar o líder extremista Jair Bolsonaro.
As conversas vazadas, segundo a maior parte dos juristas ouvidos pelo ICL e por outros meios de comunicação, não indicam ilegalidades cometidas por Moraes. Mas servem como ferramenta de agitação política.
O próprio Tagliaferro poderia ter vazado o conteúdo? Foi a pergunta que fiz à fonte de Brasília, que teve interlocução constante com ele no período em que o perito atuava no TSE.
“É uma possibilidade, mas eu acho uma hipótese muito frágil, porque se passaram um ano e três meses. Para o Tagliaferro, não faz sentido se vingar só agora”, diz a fonte.
O vazamento das mensagens e a forma como a Folha tratou o episódio indicam forte articulação de bastidor para enfraquecer Moraes e salvar Jair.
Chama atenção que Zambelli tenha deixado suas digitais em mais esse episódio, indicando que a deputada extremista não é mesmo provida de grande inteligência — como disse certa vez a ministra Carmen Lúcia.
Ainda assim, fica a pergunta: se os arquivos foram extraídos do celular de Tagliaferro em maio de 2023, por que só vazaram agora?
São perguntas em aberto.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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