A Autoridade Palestina, criada em 1993 pelos Acordos de Oslo, atua na prática como a polícia colonial dos sionistas na Cisjordânia, e anteriormente na Faixa da Gaza antes da histórica vitória eleitoral do Hamas em 2006. Ela portanto se assemelha muito a polícia palestina, criada pelos ingleses pouco após a conquista da Palestina no ano de 1917. Os britânicos, além lançar o projeto de colonização sionista também criaram a polícia colonial.

Estruturas formais da administração militar britânica na Palestina, incluindo uma nova força policial, foram estabelecidas sob a Administração de Território Inimigo Ocupado em 1918, e dois anos depois a Polícia da Palestina foi oficialmente criada. O governo britânico priorizou a transição de instituições militares para civis mesmo antes de receber oficialmente o Mandato da Palestina em 1923. Seu objetivo era principalmente conter a revolta da população contra o projeto sionista, que nos primeiros anos já teve um impacto gigantesco sobre os palestinos.

A Polícia da Palestina foi inicialmente estruturada nos moldes da maioria das forças policiais coloniais britânicas, com um pequeno corpo de oficiais britânicos no comando de uma força de oficiais locais e outros membros recrutados na região. No entanto, essa estrutura começou a mudar após vários casos de luta dos palestinos contra os sionistas ocorridos entre abril de 1920 e maio de 1921.

Durante essas manifestações, que evoluíram para confrontos violentos, palestinos atacaram sionistas e a polícia lançou uma repressão pesada contra a população. Líderes sionistas denunciaram a incapacidade ou recusa da polícia em proteger a sua comunidade e pressionaram os britânicos a aumentar o número de policiais judeus, especialmente nas grandes cidades como Jerusalém, Jafa e Haifa, e a alinhar a estratégia de segurança britânica aos interesses sionistas, concedendo autonomia às colônias e bairros judeus na área de policiamento.

A pressão sionista resultou na demissão de Percy Bramley, o primeiro diretor de segurança pública do Mandato, que os sionistas percebiam como hostil ao seu movimento. As autoridades do Mandato temiam que conceder mais autonomia às instituições sionistas provocasse uma reação negativa da população palestina. No entanto, também determinaram que a força policial era muito pequena e demasiadamente árabe para conter adequadamente o crescente descontentamento com as políticas sionistas.

No final de 1921, menos de cem oficiais – menos da metade britânicos – supervisionavam uma força de menos de 1.200 membros, dos quais cerca de 90% eram palestinos. Dessa forma, os oficiais britânicos buscaram estabelecer um “equilíbrio” entre policiais britânicos, judeus e palestinos, acreditando que isso reforçaria a segurança geral na Palestina, ao mesmo tempo em que criaria instituições “confiáveis” que contribuíram para a realização da política do “Lar Nacional Judaico”.

A administração colonial também introduziu uma Gendarmaria Palestina, com seções separadas para palestinos e britânicos. A seção palestina contava com cerca de quinhentos membros e foi planejada de forma que aproximadamente metade fosse recrutada de populações de minorias religiosas,principalmente cristãos, drusos, circassianos e judeus.

A seção britânica tinha cerca de setecentos membros, além de oficiais. Quase todos os seus recrutas originais haviam servido anteriormente na Real Polícia Irlandesa e em seu corpo auxiliar, popularmente conhecido como “Black and Tans”. Essa é uma das mais famosas policias coloniais britanicas devido a sua extrema violência contra o movimento nacionalista irlandês.

A polícia colonial e a Revolução de 1926

A Revolução Palestina de 1936 provocou mudanças estruturais enormes na Polícia da Palestina. As recomendações anteriores de profissionalização foram abandonadas, e em 1937 a administração do Mandato Britânico recorreu a Sir Charles Tegart, ex-chefe da Polícia de Bengala (província da Índia), para desenvolver uma nova estratégia de segurança. Tegart propôs a militarização da Polícia da Palestina para recuperar territórios que haviam caído fora do controle britânico e estavam sendo governados por revolucionários..

Seguindo suas recomendações, os britânicos ergueram uma barreira de arame farpado e postos de guarda no norte da Galileia, ao longo da fronteira da Palestina com o Líbano e a Síria, que ficou conhecida como o “Muro de Tegart”. Também foi proposta a construção de fortalezas policiais estrategicamente localizadas para penetrar em redutos rebeldes, contendo escritórios, alojamentos, armarias, tribunais e prisões. Essas fortalezas – chamadas de “Fortes de Tegart” – tornaram-se um elemento permanente na Palestina e foram posteriormente utilizadas pelas forças israelenses, jordanianas e pela Autoridade Palestina.

A composição da Polícia da Palestina também mudou drasticamente durante a Revolução. Devido ao apoio popular dentre a própria força policial, os administradores britânicos passaram a questionar a confiabilidade dos policiais palestinos e começaram a marginalizá-los, enquanto recrutavam mais britânicos e judeus para esmagar a revolta.

De 1935 a 1938, o número de britânicos na força aumentou de 900 para quase 2.500, enquanto o número de policiais palestinos permaneceu relativamente estável. Paralelamente, o número de policiais judeus dobrou, e milhares de judeus foram incorporados a forças auxiliares como a Polícia de Assentamentos Judaicos e as esquadrilhas noturnas especiais organizadas por Orde Wingate – conhecidas por sua violência brutal contra a população.

Ou seja, a polícia foi se transformando cada vez mais em uma força de sionistas para esmagar a população palestina. Ela na prática deixou de existir em 1948 com a criação do Estado de “Israel” e a catástrofe, a Naqba, que foi a limpeza étnica na Palestina. Essa polícia voltou a existir após 1993 com a criação da Autoridade Palestina. Ela voltou a atuar como fazia no início da colonização britânica, como força auxiliar das tropas de ocupação, isto é, o exército sionista.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 09/03/2025