O presidente Lula junto ao secretário-geral da ONU, António Guterres, promoveram nesta quarta-feira (23) a Cúpula Virtual sobre Ambição Climática. No encontro online que reuniu dezessete líderes entre chefes de Estado e de governo, Lula fez pedidos por maior responsabilidade com as metas climáticas e a transição energética: “O planeta já está farto de promessas não cumpridas“.

com a referência de que em novembro acontece no Brasil, em Belém (PA), a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).

No seu discurso acompanhado por líderes como Xi Jinping, da China, João Lourenço, de Angola, e Recep Erdoğan, da Turquia (fotos), o brasileiro lamentou a morte do Papa Francisco, ao lembrar da postura ambientalista do pontífice. Em seguida enfatizou a importância do multilateralismo para resolver as questões climáticas, pois “negar a crise climática não vai fazê-la desaparecer”. Nesse sentido, Lula afirmou que pretende que a COP30 seja um “grande mutirão” para formalizar compromissos climáticos ambiciosos (confira o discurso completo ao final).

A reunião ainda contou com o presidente do Conselho da União Europeia, António Costa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o primeiro-ministro e presidente do governo da Espanha, Pedro Sanchez, o presidente da França, Emmanuel Macron, além de líderes da Malásia, Nigéria, Chile, Vietnã, Ilhas Marshall e Tanzânia.

Leia mais: COP30: Poucos países avançam em metas climáticas

A cobrança acontece porque somente 10% dos membros da Convenção da ONU atualizaram as suas contribuições. O Brasil, na COP29 em Baku, no Azerbaijão, ampliou a sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) de 59% para 67% de redução de emissões de gases de efeito estufa até 2035, em relação ao nível de emissões de 2005.

Depois da reunião os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) falaram com repórteres. Vieira ressaltou que reuniões como esta e outros eventos que envolvam lideranças jovens e religiosas, artistas, povos originários, cientistas serão convocadas com a intenção de formarem “um novo pacto ambiental para o planeta”.

Por sua vez, Marina ainda destacou a importância de mais recursos para o cumprimento da missão de não aumentar em 1,5ºC a temperatura terrestre, assim como de projetos como a Aliança Global contra a Fome e Pobreza, lançada na Cúpula do G20 pelo Brasil, e do Fundo Floresta Tropical para Sempre, iniciativa brasileira que traz o mecanismo de remuneração para países em desenvolvimento que preservem suas florestas. A ideia é que o projeto ganhe relevo até a COP.

ONU

Também após o encontro o secretário-geral da ONU, na sede da entidade em Nova Iorque, falou com a imprensa. Guterres reafirmou as posições por alternativas sustentáveis e pela eliminação paulatina do uso de combustíveis fósseis. Ele pede a mobilização de US$ 1,3 trilhão por ano até 2035, como cobram ambientalistas, para mitigar efeitos das mudanças climáticas e ainda destaca que os países mais pobres são os menos responsáveis pelo aquecimento global, contudo são os mais afetados pelas mudanças do clima.

Como exemplo, citou o continente africano e ilhas do Pacífico, que padecem dos efeitos do aquecimento e elevação do nível do mar. A situação ocorre pela falta de recursos para mudar a realidade nestes locais, sem a possibilidade de ampliar a captação de energia renovável e realizar projetos que minimizem os efeitos das mudanças climáticas para a população.

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Confira o discurso de Lula:

Discurso do presidente Lula na Cúpula Virtual sobre Ambição Climática

Cumprimento o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, e todos meus colegas, chefes de Estado e de governo que aceitaram o nosso convite para esta Cúpula.

Nosso encontro ocorre em um momento particularmente triste, em razão do falecimento do Papa Francisco.

Tenho certeza de que seus ensinamentos sobre a necessidade de uma “ecologia integral”, que enxergue a natureza e o ser humano como uma totalidade, vão nos servir de inspiração.

A menos de sete meses da COP30, que o Brasil sediará em Belém do Pará, o planeta parece estar entrando em território desconhecido pela ciência.

O aquecimento global está ocorrendo em ritmo mais acelerado do que o previsto.

Em 2024, a temperatura média da Terra ultrapassou pela primeira vez o limite crítico de um grau e meio acima dos níveis pré-industriais.

Muitos ecossistemas, como as florestas, as geleiras e os mares, correm o risco de atingir um ponto de não retorno.

A Amazônia registrou a pior seca da sua história e o calor extremo tem provocado o branqueamento massivo de corais no oceano.

Negar a crise climática não vai fazê-la desaparecer.

Precisamos assegurar que o multilateralismo e a cooperação internacional sigam como pedra angular da resposta global à mudança do clima.

Apesar das investidas contra o Acordo de Paris, foi graças a ele que revertemos as projeções mais pessimistas de elevação da temperatura, que previam aumento de quatro graus até o fim do século.

No Brasil, quando queremos mobilizar esforços em torno de um objetivo comum, utilizamos uma palavra de origem indígena chamada “mutirão”.

Queremos fazer da COP30 um grande mutirão em prol da implementação dos compromissos climáticos.

Guerras, corridas armamentistas e cortes na ajuda ao desenvolvimento e no financiamento climático nos empurram para trás.

O planeta já está farto de promessas não cumpridas.

Neste ano, todos os países devem apresentar suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas, as NDCs, com metas de redução de emissões de carbono até 2035.

O Brasil apresentou sua NDC na COP de Baku. Prevemos redução de 59 a 67% de emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia.

Internamente, estamos formulando um Plano Clima que contemplará estratégias de mitigação, adaptação e justiça climática.

Não se pode falar em transição justa sem incorporar a perspectiva de setores historicamente marginalizados, como mulheres, negros e indígenas, e sem considerar as circunstâncias do Sul Global.

A arquitetura de preparação das NDCs é suficientemente flexível para combinar metas ambiciosas e as necessidades de desenvolvimento de cada Estado.

Os países ricos, que foram os maiores beneficiados pela economia baseada em carbono, precisam estar à altura de suas responsabilidades.

Está em suas mãos antecipar metas de neutralidade climática e ampliar o financiamento até o objetivo de um trilhão e trezentos bilhões de dólares.

Faço um chamado especial por apoio a quatro iniciativas que devem pavimentar nosso caminho até Belém nos próximos meses.

A primeira delas é um esforço que chamamos de Balanço Ético Global. O Brasil e a ONU reunirão lideranças jovens e religiosas, artistas, povos originários, cientistas e tomadores de decisão em torno de um novo pacto com o planeta.

A segunda é a Aliança Global de Combate à Fome e a Pobreza. Junto com a FAO, elaboramos um guia para a inclusão de políticas sociais e de transformação de sistemas alimentares nas NDCs.

A terceira é a Iniciativa Global pela Integridade das Informações sobre a Mudança do Clima, em parceria com a UNESCO, que visa a valorizar a ciência e combater a desinformação.

Por fim, temos o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, a ser lançado na COP30, que vai remunerar países em desenvolvimento que preservam suas florestas.

Esta cúpula representa o início de um amplo movimento rumo à COP 30.

No ano em que celebramos o 80º (octogésimo) aniversário das Nações Unidas, convido a todos para um diálogo franco, aberto e genuíno sobre o que é preciso fazer para avançar na luta contra a mudança do clima.

Muito obrigado.

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Last Update: 23/04/2025