Por pouco o planeta não se tornou cenário de um filme de ação, por Luís Carlos

Dia 19 passado o mundo quase entrou em pânico com o chamado “apagão cibernético global” que afetou sistemas como os aeroportos, bancos e hospitais.

No final do século passado o planeta estremeceu com a possibilidade de pane geral de todos os sistemas devido ao “bug do milênio”, felizmente a mudança ocorreu sem problemas.

É certo que nessa diferença de 24 anos entre um evento e outro está toda a evolução eletrônica que tornou todos os sistemas mundiais dependentes da internet infinitamente mais complexos.

Hoje em dia tudo, mas tudo mesmo, está conectado à rede mundial de computadores. Até mesmo quando você paga algo com seu celular ou publica seu artigo científico e o armazena na nuvem.

Mas o que preocupa são os grandes sistemas que, se não forem extremamente protegidos com várias camadas, podem eventualmente se tornarem inoperantes, o que causaria certamente um retorno a uma era analógica impossível de ser revivida com um mínimo de sucesso.

Tínhamos uma certa tranquilidade de que os operadores desses sistemas, preocupados com possíveis eventos como ataques cibernéticos ou fenômenos violentos da natureza, se cercam de toda a segurança para torná-los inexpugnáveis, mas o tal do “apagão” nos mostrou que pode não ser bem assim.

Porém, já no dia seguinte, com o erro corrigido, as pessoas acordaram como se nada de mais tivesse ocorrido e foram para seus trabalhos normalmente, confiantes em que nunca nenhum desastre cibernético será capaz de criar uma situação em que nos matássemos mutuamente com requintes de selvageria.

Nesse dia 19, último, lembrei-me de um trecho de meu livro, Um Humano Num Pálido Ponto Azul, publicado em 2021, que trata justamente dessa ameaça constante sobre nossas cabeças. Peço, portanto, licença para reproduzi-lo.

“Quase todo o conhecimento do mundo se perdeu com o incêndio da Biblioteca de Alexandria, idealizada por Ptolomeu, em cerca de 640 d.C., causando imenso retrocesso no acúmulo de conhecimento da Humanidade.

Foi necessário recomeçar tudo praticamente do zero ou do pouco que restou, o que causou ao ser humano um atraso de séculos em seu desenvolvimento científico. Poderíamos estar hoje viajando para outros planetas, ter eliminado várias doenças, alcançado níveis maiores de consciência ou até mesmo já destruído a Terra se isso não tivesse acontecido.

Será que o risco de perder todo o conhecimento acumulado pela Humanidade deixou de existir na medida em que toda a Ciência, a Arte e todos os registros históricos passaram a ser distribuídos em inúmeras bibliotecas e museus espalhados pelo mundo e não mais em um único lugar?

Quanto ao imenso arquivo digital mantido centralizado por enormes companhias como o Google, o risco mais temido é o de um cataclismo localizado, de uma invasão de hackers, uma guerra cibernética, ou simplesmente um erro ou uma negligência que nos levaria a um caos de proporções inimagináveis, capaz de nos fazer regredir aos tempos da Idade Média. Logicamente esses sistemas assim como os da CIA, NSA, bolsas de valores do mundo inteiro, casas da moeda, bancos etc., são protegidíssimos, o que nos garante confiabilidade. Até que um dia sejam expugnados pela primeira vez…

Luís Carlos é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

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Última Atualização: 23/07/2024