A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (16) a segunda fase da Operação Unha e Carne e prendeu preventivamente o desembargador federal Macário Ramos Júdice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). A investigação apura o vazamento de informações sigilosas sobre ações contra o crime organizado no Rio de Janeiro.
A ordem de prisão foi expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao todo, foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão e um de prisão nos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. O magistrado foi detido em sua residência, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da capital fluminense.
Segundo a PF, há fortes indícios de que o desembargador tenha atuado para favorecer uma organização criminosa, auxiliando no vazamento da Operação Zargun, que tinha como objetivo prender o então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos, conhecido como TH Joias.
TH Joias, que havia assumido o mandato em junho, foi preso em setembro sob suspeita de tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, além de manter vínculos com a facção criminosa Comando Vermelho (CV). À época, o processo estava sob responsabilidade direta de Macário Júdice Neto no TRF-2.
Conexão política e vazamento antecipado
As investigações também revelam uma conexão direta entre o desembargador e o deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil), ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Bacellar foi o principal alvo da primeira fase da Operação Unha e Carne, deflagrada em 3 de dezembro, e voltou a ser alvo nesta nova etapa.
Mensagens encontradas no celular de Bacellar, apreendido na primeira fase, indicam comunicação direta com o desembargador, material que embasou o pedido de prisão preventiva autorizado pelo STF.
Fontes da Polícia Federal afirmam que Macário e Bacellar estiveram juntos em um restaurante na véspera da Operação Zargun, em setembro. Ainda segundo as apurações, naquela mesma ocasião, Bacellar teria ligado para TH Joias para alertá-lo da iminente ação policial.
Bacellar chegou a ser preso por suspeita de ter vazado informações da operação, mas foi solto pelo plenário da Alerj na semana passada. Atualmente, ele está licenciado do mandato, afastado da presidência da Casa, utiliza tornozeleira eletrônica e cumpre outras medidas cautelares. Em depoimento à PF, após ser preso, Bacellar admitiu ter conversado com TH Joias antes e durante a ação dos agentes.
Defesa reage e TRF-2 se cala
A defesa do desembargador, representada pelo advogado Fernando Augusto Fernandes, contestou a prisão e afirmou que o ministro Alexandre de Moraes foi “induzido a erro ao determinar a medida extrema da prisão”.
Segundo o advogado, a defesa ainda não teve acesso à íntegra da decisão judicial, o que, segundo ele, “impede o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa”. A defesa informou que apresentará esclarecimentos nos autos e pedirá a imediata soltura do magistrado.
Procurado, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região informou que não irá se manifestar, uma vez que a decisão que determinou a prisão não partiu da própria corte.