A Polícia Federal encaminhou ao Supremo Tribunal Federal um pen drive com imagens e depoimentos colhidos nos Estados Unidos na investigação sobre um suposto esquema de desvio e venda de joias do governo durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Indiciado pela Polícia Federal, o ex-presidente teme uma denúncia da Procuradoria-Geral da República.

A PF obteve o material a partir de um acordo de assistência jurídica firmado no ano passado com o Departamento de Justiça norte-americano. Em abril de 2024, agentes brasileiros estiveram em Miami, Orlando, Nova York e Wilson Grove.

Na ocasião, os policiais foram a lojas onde auxiliares de Bolsonaro teriam vendido os itens de luxo. Eles confiscaram, por exemplo, imagens de câmeras de segurança, notas fiscais, fotos e anotações. Os detalhes foram revelados nesta segunda-feira 13 pela CNN Brasil.

Os investigadores já enquadraram Bolsonaro em três crimes no relatório final do inquérito sobre as joias: associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato.

No documento, enviado ao ministro do STF Alexandre de Moraes, eles detalham a cronologia do esquema: o recebimento dos bens por Bolsonaro, o deslocamento e a venda nos Estados Unidos, e a operação deflagrada para recuperar os objetos após o caso entrar na mira da Justiça.

O primeiro delito atribuído ao ex-presidente é peculato – quando um agente se apropria indevidamente de bens públicos. O relatório cita ao menos dois kits de joias que teriam sido “subtraídos diretamente” com o objetivo de vendê-los no exterior.

“Os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, diz o documento.

Os gastos de Bolsonaro durante a viagem aos Estados Unidos, entre o fim de 2022 e o início de 2023, constam do material apreendido pela PF em posse do ex-ajudante de ordens Marcelo Câmara. Antes de deixar o Brasil, na antevéspera da posse de Lula, o ex-capitão transferiu 800 mil reais da sua conta no Banco do Brasil para uma conta no BB Américas.

Ao deixar os EUA, Bolsonaro possuía o mesmo valor em conta, um indicativo de que teria utilizado apenas dinheiro em espécie para bancar a estadia no exterior. Esse método, concluiu a PF, é “uma das formas mais usuais para reintegrar o ‘dinheiro sujo’ à economia formal, com aparência lícita”. Estaria, portanto, configurado o crime de lavagem de dinheiro.

Na sequência, ao imputar o crime de associação criminosa a Bolsonaro, a PF argumentou que ele tinha “plena ciência” do esquema de venda de joias e presentes ao menos desde 2019.

Ele teria agido não apenas na coordenação do envio dos itens para o exterior e na tentativa de reaver os objetivos apreendidos pelo Fisco, mas para desviar o foco da investigação e ocultar o dinheiro ilícito.

“Conclui-se que os investigados se associaram para consecução de um fim comum, qual seja, a prática dos crimes de peculato e lavagem de capitais, objetivando o desvio de bens de alto valor patrimonial recebidos em razão do cargo pelo ex-Presidente da República e/ou por comitivas do governo brasileiro, que estavam atuando em seu nome, em viagens internacionais, entregues por autoridades estrangeiras, para posteriormente serem vendidos no exterior.”

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Last Update: 13/01/2025