A Polícia Federal suspeita que policiais federais que integraram a chamada “Abin paralela” atuaram, de forma clandestina, na campanha de Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, em 2022. Naquele ano, ele concorreu ao cargo de deputado federal pelo PL e saiu vitorioso.
A hipótese foi exposta pela PF durante o depoimento do ex-diretor, realizado há duas semanas, no âmbito do inquérito que investiga a existência de uma suposta estrutura de espionagem de adversários do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A informação foi revelada pelo jornal O Globo desta quinta-feira 1º.
O principal indício da campanha clandestina colhido pela PF é uma planilha de pagamentos que contém os nomes de dois agentes próximos a Ramagem. O documento teria relação direta com os gastos de campanha do bolsonarista. A planilha periciada pela PF foi apreendida durante uma operação de busca e apreensão em endereços do ex-chefe da Abin.
Um dos nomes citados no documento é de Henrique Cesar Prado Zordan, agente da Polícia Federal levado por Ramagem para a Abin. Ele seria um dos integrantes do gabinete paralelo de espionagem. Outro indício de que ele teria participado clandestinamente da campanha do aliado é uma licença-capacitação tirada pelo agente durante todo o período eleitoral.
Uma conversa entre Ramagem e Zordan também engrossa a suspeita. Nas mensagens, o agente questionava Ramagem se teria que pesquisar outros candidatos do Rio de Janeiro que tinham a segurança pública como principal mote de campanha. A pesquisa serviria para formar uma lista de potenciais concorrentes diretos do ex-diretor da Abin naquela eleição e teria sido solicitada pelo próprio candidato.
O policial também teria, segundo o jornal, as senhas das redes sociais de Ramagem.
No depoimento prestado sobre o tema, o ex-diretor da Abin reconheceu a proximidade com Zordan, afirmou que recebeu visitas do agente em 2022, mas alega que ele não participou da sua campanha para deputado.
O outro nome que aparece na planilha sob investigação da PF é o de Felipe Arlotta. Ele também atuou na Abin durante a gestão de Ramagem e seria integrante do grupo de espionagem ilegal. Seu nome consta na lista de investigados no caso.
Ramagem, no depoimento, negou a participação dos agentes na sua campanha e afirmou, também, que “não se recorda de qualquer gasto eleitoral com qualquer policial federal”.