
A Polícia Federal (PF) concluiu que a estrutura conhecida como “Abin paralela” espionou, por engano, um homônimo do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O caso faz parte da investigação que apura o uso da Agência Brasileira de Inteligência para fins políticos durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
A informação está no relatório final da PF, que foi enviado ao Supremo após a quebra de sigilo dos autos do inquérito. Segundo o documento, a tentativa de monitoramento ocorreu por meio do sistema ilegal First Mile, utilizado pela rede clandestina da Abin.
Monitoramento mirou pessoa errada
De acordo com os investigadores, o agente teria feito três buscas pelo nome “Alexandre de Moraes Soares”, morador de São Paulo — mesma cidade natal do ministro do STF. No entanto, o alvo das buscas não tem ligação com o Judiciário e, segundo a PF, atuaria como gerente em uma rede de lojas do setor varejista.
“O registro, por exemplo, associado à pesquisa de ‘ALEXANDRE DE MORAES SOARES’ não apresenta nenhuma justificativa, levando à plausibilidade de terem sido realizadas 3 pesquisas do homônimo do excelentíssimo ministro relator no dia 18/05/2019. O homônimo alvo da pesquisa, ainda, reside no Estado de São Paulo”, afirma o relatório.
A investigação identificou que a busca foi feita por Thiago Quinalia, então agente de inteligência da Abin. Ele foi designado, em 2024, para atuar como auxiliar de adido na França. No entanto, deixou o posto e abandonou o cargo público, sem retornar ao Brasil em abril como previsto. A PF afirma que não há informações sobre o paradeiro do ex-servidor.
Para os investigadores, há indícios de que o verdadeiro objetivo da ação era descobrir a localização do ministro Alexandre de Moraes. Isso explicaria o uso do sistema de geolocalização do First Mile.
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O relatório da PF também destaca que a data da espionagem coincide com momentos importantes da tramitação do inquérito das fake news, aberto no STF em março de 2019 e sob relatoria de Moraes.
“O marco temporal da pesquisa é compatível com a instauração do Inquérito n.º 4781 em março de 2019 pelo então presidente do STF, excelentíssimo ministro DIAS TOFFOLLI. Em 14/05/2019, houve a disponibilização para julgamento de recurso para suspender a apuração”, acrescenta o relatório.