Indiciado em dois dos três inquéritos em que é alvo da Polícia Federal (PF), Jair Bolsonaro pode ter de responder pelo terceiro crime: tentativa de golpe de Estado. A corporação pretende concluir essa investigação até o final deste mês.
O ex-presidente já foi indiciado nos inquéritos da falsificação do cartão de vacina, em março, e o da venda das joias sauditas, em julho.
No inquérito sobre a tentativa de golpe, fontes da PF já revelaram como provável o indiciamento de Jair Bolsonaro, do general Walter Braga Netto, do general e ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e do ex-comandante da Marinha Almir Garnier.
O foco principal das investigações é comprovar que o ex-presidente e membros do alto escalão das Forças Armadas se articularam para promover um golpe de Estado e anular as eleições de que deram vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os depoimentos dos ex-comandantes do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, reforçam a existência do plano golpista.
Freire Gomes disse à PF que se reuniu com Jair Bolsonaro no dia 7 de dezembro, no Palácio da Alvorada, quando lhe foi apresentado o teor de um decreto golpista. O documento foi lido pelo então assessor especial da Presidência, Filipe Martins.
No seu depoimento, Martins ficou calado a maior parte do tempo e negou à PF a autoria ou o conhecimento de qualquer minuta de golpe.
O ex-comandante também afirmou que houve uma segunda reunião na qual foi apresentada uma revisão do documento. Nele, estava a decretação de um Estado de Defesa no país.
Freire Gomes disse que “sempre posicionou que o Exército não atuaria em tais situações; que inclusive chegou a esclarecer ao então presidente da República Jair Bolsonaro que não haveria mais o que fazer em relação ao resultado das eleições e que qualquer atitude, conforme as propostas, poderia resultar na responsabilização penal do então presidente da República”.
“O então presidente da República, Jair Bolsonaro, apresentava a hipótese de utilização da Garantia da Lei e da Ordem [GLO] e outros institutos jurídicos mais complexos, como a decretação do Estado de Defesa para solucionar uma possível crise institucional”, disse Baptista Júnior no seu depoimento.
Ameaça de prisão
O ex-comandante da Aeronáutica relatou também que o general Freire Gomes ameaçou prender o ex-presidente caso levasse adiante uma tentativa de golpe de Estado.
“Em uma das reuniões dos Comandantes das Forças Armadas com o então Presidente da República, após o segundo turno, depois de o presidente Jair Bolsonaro aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, o General Freire Gomes afirmou que se caso tentasse tal ato, teria que prender o presidente da República”, afirmou.
O ex-comandante da Aeronáutica ainda garantiu que o chefe da Marinha, Almirante Almir Garnier Santos, colocou tropas à disposição para atender ao pedido de Jair Bolsonaro numa reunião com ex-ministro Paulo Nogueira.
Na ocasião, tanto Freire Gomes quanto Baptista Júnior teriam se recusado a ver a minuta que estava na mesa do ex-ministro da Defesa.
“Que em uma das reuniões com os Comandantes das Forças Armadas, dentro do contexto apresentado pelo então presidente Jair Bolsonaro de possibilidade de utilização da GLO, o Almirante Almir Garnier afirmou que colocaria suas tropas à disposição de Jair Bolsonaro. Que tal posição foi dissonante dos demais Comandantes (Exército e Aeronáutica)”, diz o ex-comandante no depoimento.