E perfeitamente possível conciliar petróleo e transição energética justa”, sublinhou a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, na coletiva de imprensa da diretoria-executiva para divulgação dos resultados do trimestre, do Plano de Negócios 2025-2029, e da retomada do Plano Estratégico para 2050, após anos de ausência de definição de uma perspectiva de longo prazo. Chambriard destacou o papel da companhia, responsável por 31% de toda a energia primária consumida no Brasil, como “empresa líder na transição energética justa e na segurança energética”. O lema é prover energia que assegure prosperidade de forma ética, justa, segura e competitiva.
A maior empresa do País anunciou investimentos de 111 bilhões de dólares nos próximos cinco anos, 8,8% acima do montante atual, de 102 bilhões entre 2024 e 2028, com foco na ampliação da produção de petróleo. A dívida financeira foi reduzida de 63 bilhões para 23 bilhões de dólares. Os investimentos em transição energética aumentarão 42%, para 16,3 bilhões de dólares, equivalentes a 15% do total dos recursos de longo prazo, diante dos 11% atuais. Serão distribuídos 64,2 bilhões em dividendos aos acionistas neste ano, um total que “não inviabiliza em nada o nosso planejamento estratégico”, ressaltou o diretor-financeiro da Petrobras, Fernando Melgarejo.
Entre os objetivos, destaca-se a produção de petróleo com metade da pegada de carbono da média mundial e de diesel coprocessado com 5% de óleo vegetal em cinco refinarias. Até 30% dos recursos de pesquisa serão destinados a projetos de baixo carbono.
A exploração responsável e eficiente em custo e em emissões de petróleo e gás é essencial para financiar uma transição energética que seja justa e inclusiva. Além disso, garante a segurança energética global com menores emissões, especialmente quando alinhada ao planejamento energético nacional e ao plano de controle de emissões para atendimento à contribuição do Brasil para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, segundo o Acordo de Paris.
De acordo com o diretor-executivo de Transição Energética e Sustentabilidade, Mauricio Tolmasquim, “a atuação em negócios de baixo carbono visa a diversificação rentável do portfólio, promovendo a perenização da companhia. No que se refere a projetos em geração renovável, a companhia busca atuar preferencialmente em parceria com empresas de grande porte do setor, com o objetivo de descarbonização das operações, integração da carteira de soluções de baixo carbono e captura de oportunidades de mercado no Brasil”. Em relação aos bioprodutos, prossegue Tolmasquim, que incluem as cadeias de etanol, biodiesel e biometano, a Petrobras buscará ingressar nos segmentos preferencialmente por meio de parcerias estratégicas minoritárias ou com controle compartilhado, com players relevantes do setor.
No financiamento total para transição energética, a companhia aposta ainda no Programa Petrobras Carbono Neutro e em um fundo de descarbonização, com orçamento de 1,3 bilhão de dólares para o período de 2025 a 2029, destinado a financiar soluções de descarbonização selecionadas por seu potencial de redução de emissões, considerando custo e impacto em mitigação de carbono. Além dos esforços de redução intrínseca, a Petrobras prevê, como ferramenta complementar, o uso de compensação por crédito de carbono de qualidade para reduzir suas emissões totais, ampliando a contribuição para a manutenção de florestas de pé e o restauro de ecossistemas.
O Plano de Negócios 2025-2029 manteve os compromissos de descarbonização propostos no documento anterior. Em relação às ambições associadas à redução da pegada de carbono, destacam-se a busca pela neutralidade das emissões operacionais até 2050, a meta “Near Zero Methane 2030” e o crescimento líquido neutro até 2030, não ultrapassando o patamar de emissões de 2022, mesmo com o aumento de produção e atividades previstas.

Amostra do Diesel R, feito a partir de conteúdo renovável como óleo vegetal – Imagem: Michel Chedid/Agência Petrobras
“O Brasil é privilegiado com extensas áreas de terra, disponibilidade de água e muita radiação solar, o que o torna ideal para a produção de biocombustíveis. O País também possui um gigantesco potencial para a geração de energia renovável, tanto eólica quanto solar fotovoltaica, e, consequentemente, para a produção de hidrogênio de baixa emissão de carbono”, destaca Tolmasquim. “A Petrobras, devido à sua capacidade técnica e financeira, sinergias com sua estrutura de ativos, conhecimento logístico e do mercado, enxerga como natural a sua atuação nesses segmentos de negócio. O mesmo conceito se aplica à captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS), onde a Petrobras se sobressai devido à sua expertise em geologia e engenharia de reservatórios, tendo hoje o maior projeto de CCUS do mundo. Dessa forma, a Petrobras priorizou em seu Plano de Negócios a atuação em bioprodutos, geração renovável, hidrogênio de baixa emissão de carbono e seus derivados, além dos projetos de CCUS.”
Quando se levam em conta todas as iniciativas de baixo carbono, serão investidos 5,7 bilhões de dólares, principalmente em geração eólica, solar fotovoltaica, hidrogênio de baixa emissão de carbono e CCUS. Outros 4,3 bilhões serão aplicados em bioprodutos, destacando que somente para etanol, biodiesel e biometano serão reservados 2,8 bilhões de dólares. Além disso, 5,3 bilhões financiarão a descarbonização da operação com mitigação de emissões e 1 bilhão de dólares incrementarão a pesquisa e o desenvolvimento de projetos de baixo carbono.
A produção e comercialização de combustíveis e produtos de baixo carbono, incluindo as cadeias de etanol, biodiesel e biometano, almejam o atendimento às demandas de mercado, desenvolvendo ações para acesso adequado à matéria-prima. No etanol, o mandato atual em 27% aumentará para 30% e poderá chegar a 35%. O market share do biodiesel deverá aumentar em linha com a evolução do porcentual obrigatório estabelecido no novo mandato, atingindo 20% em 2030. No biometano, o foco é a regulação com metas anuais de redução de emissões para produtores de gás natural, iniciando em 2026 com 1%, podendo chegar a 10% em 2034 (média decenal). A Petrobras possui uma estratégia de gestão da descarbonização das suas operações nas emissões dos escopos 1 e 2 que se baseia, em primeiro lugar, no robusto entendimento do seu perfil de emissões. Por essa razão, investimos na criação de uma ferramenta de gestão de inventário que foi construída de forma personalizada.
Até 30% dos recursos de pesquisa serão destinados a projetos de baixo carbono
Por meio dessa ferramenta, é possível entender o perfil de emissões da empresa, conhecendo as suas principais tipologias de fonte, por segmento de negócio, tendo dessa forma o indicativo de quais direções ela deve tomar no planejamento de mitigação das operações. Cabe destacar que o inventário da Petrobras possui verificação por terceira parte desde 2003 e, por sete anos consecutivos, tem recebido o selo Ouro. A partir desse inventário, a Petrobras atua, via Programa Carbono Neutro, para a criação da sua estratégia de descarbonização, baseada na curva MACC (Curva de Custo Marginal de Abatimento, na tradução em português), ferramenta consolidada na indústria que elenca as oportunidades a partir do custo marginal de abatimento e o potencial de mitigação, conseguindo indicar as oportunidades de descarbonização que escrevem a trajetória mais custo-efetivo possível.
Atualmente, a MACC da Petrobras possui mais de 700 oportunidades estudadas e disponibilizadas para a trajetória NetZero e mais 535 oportunidades mapeadas e em processo de desenvolvimento para ingresso na MACC e posterior disponibilização para serem selecionadas pelas áreas. Dentre as principais oportunidades de descarbonização selecionadas, destacam-se: 1) Substituição de máquinas e equipamentos com baixa eficiência energética; 2) Substituição de parte de gás fóssil consumido nas refinarias por biometano; 3) Redução das perdas por meio da queima de tocha, de emissões fugitivas e venting; 4) Melhorias em processos industriais no refino; 5) CCUS; 6) Eletrificação de grandes máquinas; 7) Eletrificação das plataformas.

Primeira planta para produção de hidrogênio renovável da Petrobras com previsão de operação para 2026 – Imagem: Luiz Fernando Almeida Fontenele/Agência Petrobras
A trajetória de descarbonização leva em conta a aquisição de crédito de carbono como estratégia complementar à redução intrínseca (absorve flutuações e dá maior segurança ao cumprimento das metas e ambições). O foco são projetos de Soluções Baseadas em Natureza no Brasil. A premissa avalia as emissões oriundas do uso de terra buscando sempre a qualidade e integridade mínimas desses créditos. As emissões de Escopo 3, que ocorrem em atividades fora do controle da empresa, são muito mais desafiadoras que as emissões operacionais, pois envolvem especialmente as emissões da queima dos combustíveis produzidos, como gasolina, diesel e querosene, e o processo de transformação do portfólio. O inventário de emissões do Escopo 3 da Petrobras é realizado em todas as categorias e são acompanhados diversos indicadores relacionados a essas emissões e ao avanço da transição da sua cesta de produtos.
O segmento de CCUS é um pilar importante de desenvolvimento e o foco é a prospecção de reservatórios salinos onshore e offshore para servir os diferentes polos industriais em estudo. O CCUS é uma das diversas tecnologias e iniciativas sustentáveis que a Petrobras investe para neutralizar suas emissões de carbono ao liderar a transição energética justa no País. Assim, o óleo produzido na camada do pré-sal tem emissão de gás carbônico até 70% menor do que a média mundial. Com tudo isso, pode-se dizer seguramente que a transição energética justa é algo que já faz parte da vida dos brasileiros. •
Publicado na edição n° 1340 de CartaCapital, em 11 de dezembro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Petrobras: liderança e responsabilidade’