A Petrobras divulgou, na última sexta-feira, 21, seu Plano de Negócios 2025-2029 e seu Plano Estratégico 2050, informes ao mercado que permitem à sociedade compreender o papel projetado para a estatal, para o petróleo e seus derivados na matriz energética brasileira nos próximos anos. A retomada de uma visão de longo prazo e a transversalidade do tema da transição energética representam importantes avanços, embora constrangidos e limitados pelos compromissos de curto prazo.
O plano reafirma o compromisso da empresa com geração de valor, rentabilidade e distribuição de dividendos no próximo período, assim como com a manutenção de seu foco operacional na exploração e produção de óleo e gás (E&P) e a expansão das suas atividades nos segmentos do refino, fertilizantes, petroquímico e de bioprodutos. A descarbonização de suas operações é o centro de sua agenda de mitigação das emissões, enquanto o avanço para novas rotas tecnológicas seguirá gradual. A novidade foi o anúncio da virada da Petrobras para o etanol.
No longo prazo, ancorada em premissas que consideram as singularidades das mudanças climáticas para a segurança energética nacional, a empresa indica diversificação gradual de seu parque industrial, ambição de alcançar neutralidade de emissões até 2050 e sua manutenção como garantidora de 31% da oferta primária de energia no país.
Voltar a pensar no longo prazo é uma importante contribuição da atual gestão. A Petrobras é um instrumento-chave para a promoção do desenvolvimento industrial de baixo carbono e da agenda da transição energética justa no Brasil, em especial em um cenário global marcado por incertezas geopolíticas, conflitos em torno da segurança energética e pelos efeitos cada vez mais intensos e acelerados da crise climática. A cadeia produtiva do petróleo está no centro desta agenda.
Os avanços e projeções prometidas, no entanto, esbarram, mais uma vez, nos compromissos financeiros de curto prazo da Petrobras, que por múltiplas vezes afasta a companhia do interesse público. Mesmo com a elevação projetada da geração de caixa operacional na comparação com o plano anterior, saindo do piso de cento e oitenta bilhões de dólares no Plano Estratégico 2024-2028 para cento e noventa bilhões de dólares no Plano Estratégico 2025-2029, a companhia aponta uma redução de seu fluxo de investimentos totais e ampliação do pagamento de dividendos ordinários no próximo quinquênio, um evidente retrocesso em relação ao plano anterior. Novamente, na disputa pela apropriação da renda petroleira, vence o rentismo em detrimento de investimentos de longo prazo na transição energética.
A companhia projeta um total de investimentos para o quinquênio 2025-2029 de cento e onze bilhões de dólares, valor 8,8% superior aos cento e dois bilhões de dólares previstos no plano anterior. Do total de investimentos, noventa e oito bilhões de dólares estão na carteira de projetos em implantação, e outros treze bilhões de dólares ainda estão em avaliação, sendo que a parte majoritária, 72%, ou oito bilhões de dólares, refere-se à energia de baixo carbono.
O segmento de exploração e produção representa 69% do total dos investimentos previstos, setenta e sete bilhões de dólares, mantendo-se como foco operacional da companhia. No segmento de refino, transporte e comercialização, ao qual foram incorporados os segmentos de fertilizantes e petroquímico, são projetados vinte bilhões de dólares em investimentos, 18% do total. Para o segmento de gás e energia de baixo carbono, os investimentos previstos totalizam onze bilhões e meio de dólares, dos quais oito bilhões e novecentos milhões de dólares estão na carteira de avaliação.
A expansão projetada de 42% nos investimentos em descarbonização, novas rotas tecnológicas e pesquisa, desenvolvimento e inovação, que podem alcançar dezesseis bilhões e trezentos milhões de dólares no quinquênio, valida a preocupação da companhia na diversificação de suas atividades, mas ainda em intensidade inferior ao seu potencial.
Nos nove primeiros meses de 2024, a companhia já anunciou o pagamento de cerca de sessenta e quatro bilhões e quinhentos milhões de reais em dividendos referentes ao exercício 2024, dos quais vinte bilhões de reais em dividendos extraordinários, também anunciados no último dia 21. Trata-se de um valor cerca de 20% superior ao lucro líquido apurado no período, cinquenta e três bilhões e seiscentos milhões de reais.
Para 2025, a companhia prevê a manutenção dos mesmos dezoito bilhões e quinhentos milhões de dólares de investimentos previstos no plano anterior, mas ampliando a destinação de recursos para o segmento de refino, transporte e comercialização, em especial para a ampliação da capacidade produtiva da Refinaria Abreu e Lima, melhorias em refinarias e retomada dos investimentos no segmento de fertilizantes, com o objetivo de reduzir a dependência brasileira tanto de derivados quanto de nitrogenados.
A sinalização de avanço mais acelerado em direção à produção de bioprodutos (etanol, biorrefino, biodiesel e biometano), expressa nas falas da presidente da empresa, Magda Chambriard, e do diretor Maurício Tolmasquim, precisa estar alinhada ao fortalecimento da Petrobras Biocombustível, mas também colocará novos desafios à companhia.
A agenda da transição energética é uma oportunidade para o Brasil, para a indústria e para a Petrobras avançarem no desenvolvimento de potencialidades nacionais e regionais. A garantia da segurança energética e alimentar do país é essencial, e a Petrobras é uma empresa-chave nessa missão.
Essa agenda precisa estar integrada a um projeto nacional de reindustrialização, com destaque para o desenvolvimento de novas rotas tecnológicas que levem em conta as características regionais. Para além da rota orgânica, a Petrobras deve avançar em investimentos na rota eletrolítica e na diversificação, mirando oportunidades de mercado de longo prazo.
Para isso, a rentabilidade de curto prazo não pode ser um fim em si mesmo. Para que o Brasil possa desenvolver seu potencial baseado em uma nova indústria de baixo carbono, a construção de uma empresa forte e integrada de energia comprometida com a transição energética justa deve ser a bússola da Petrobras para 2050.