Deputados criticaram as altas taxas de juros definidas pelo Banco Central.
Parlamentares da Bancada do PT criticaram durante audiência pública da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, nesta quarta-feira (9/7), a alta taxa de juros definidas pelo Banco Central no País. Diante do presidente da instituição, Gabriel Galípolo, convidado para falar sobre a atuação do Banco em relação à economia, os petistas afirmaram que, apesar dos indicadores positivos de crescimento do PIB, da queda histórica do desemprego e do aumento da massa salarial dos brasileiros, o juro recorde de 15% impede um avanço ainda maior da economia e retira grande parte dos recursos do País para o pagamento de juros da dívida.
Na abertura da reunião, o presidente da Comissão de Finanças e Tributação, deputado Rogério Correia (PT-MG), lembrou ao presidente do Banco Central que, atualmente, o Brasil possui os juros reais mais altos do mundo – cerca de 10%, se descontada a inflação prevista de pouco mais de 5% ao ano.
“E, apesar dos juros altos, temos uma inflação controlada e um PIB em crescimento maior do que muitos países do mundo. Está previsto para este ano um crescimento do PIB de 2,23%. A taxa de câmbio (dólar em relação ao real) de R$ 6,30, caiu para R$ 5,45 na última semana, e o real foi a moeda que mais valorizou no mundo: cerca de 12,3% em 2025”, explicou.

Como exemplo da vitalidade da moeda brasileira, Correia apontou que a moeda argentina desvalorizou -12,8% no mesmo período. “São dados que levantam o questionamento: para que juros tão altos?”, indagou.
Na mesma linha, o deputado Florentino Neto (PT-PI) – vice-presidente do colegiado e autor de um dos requerimentos de convite a Gabriel Galípolo – manifestou preocupação sobre o impacto da alta taxa de juros sobre o Orçamento do País. Ele destacou que, grande parte dos recursos do governo são destinados para pagamentos dos juros da dívida, por meio da remuneração de títulos emitidos e adquiridos por rentistas.
“Urge reavaliar os fundamentos da política monetária em curso. A manutenção da taxa Selic em 15% ao ano impõe custos extraordinários ao Tesouro Nacional, drenando recursos públicos e restringindo o investimento produtivo. Com isso, temos um processo de precarização orçamentária dos serviços públicos, de setores chaves como saúde, educação, segurança pública, ciência e tecnologia, infraestrutura e demais políticas públicas. A quem serve essa taxa de juros? Ela é orientada ao interesse da nação ou subjugada para atender às expectativas e pressões do mercado financeiro?”, questionou.
Juro alto inibe o crescimento

O deputado Merlong Solano (PT-PI) disse ao presidente do Banco Central que o Governo Lula tem feito a sua parte para fortalecer a economia do País. Ele lembrou que um forte ajuste fiscal foi realizado, com o cumprimento das metas do arcabouço fiscal, resultando em queda expressiva das despesas e do déficit primário do País.
O parlamentar ressaltou, que, mesmo diante desse esforço, “o governo tem adotado políticas que têm feito o PIB crescer acima das expectativas, o dobro do verificado em governos passados, com queda recorde do desemprego e com o Brasil se transformando no segundo destino de investimentos externos”.
“Essa alta taxa de juro inibe o crescimento, ajuda a concentrar renda e dificulta as aquisições das famílias quando precisam recorrer ao crédito. E o que é pior: sem atingir o objetivo de trazer a inflação para o centro da meta (de 3% ao ano). Eu pergunto: esse remédio (utilizar a taxa de juro como mecanismo de controle da inflação) não está vencido? Não existe outro caminho?”, indagou o petista.

Já o deputado Paulo Guedes (PT-MG) ressaltou que a taxa de juros atualmente em vigor no País só beneficia apenas uma pequena parcela, situada no topo da pirâmide social, em detrimento da maioria esmagadora da população.
“A alta taxa de juro só interessa a quem tem altos ganhos facilitados – uma pequena parcela que está no topo da pirâmide social. Estamos falando de quase R$ 900 bilhões de pagamento de juros da dívida, enquanto vemos a discussão entre governo e esta Casa por causa de R$ 20 bilhões (para fechar o Orçamento anual dentro da meta fiscal), por conta da derrubada do IOF”, criticou.
O deputado Alencar Santana (PT-SP) e a deputada Ana Pimentel (PT-MG) também criticaram a alta taxa de juros definidas pelo Banco Central.
Presidente do BC tenta justificar taxa de juro
Ao responder às críticas dos deputados petistas, o presidente do Banco Central reconheceu que a taxa de juro no Brasil é muito alta e que restringe o crescimento do País, da renda e do emprego. Ele disse ainda que, historicamente, a taxa de juro definida pelo Banco Central tem se mantido mais elevada no Brasil do que em outros Países.
No entanto, ele observou que o Banco Central tem como função obedecer ao decreto que instituiu o centro da meta inflacionária do País em 3% ao ano.
“Isso não nos impede de discutir a taxa de juros estrutural no Brasil, que, durante tantos anos, precisou conviver com juros mais elevados em comparação a outros países. Esse é o debate que temos que fazer, e o Banco Central está totalmente aberto a isso”, afirmou Gabriel Galípolo.
Héber Carvalho
