Parlamentares do PT na Câmara mostram contradição e incoerência de Fux, pois o ministro já havia condenado mais de 400 golpistas dos atos de 8 de janeiro

No Supremo Tribunal Federal (STF), o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete acusados pela trama golpista teve mais um capítulo nessa quarta-feira (10/9). A Primeira Turma da Corte seguiu a análise com o voto do ministro Luiz Fux. Ele divergiu dos colegas Alexandre de Moraes e Flávio Dino, que votaram pela condenação de todos os réus. Fux absolveu a maioria, inclusive Bolsonaro, condenando apenas Mauro Cid e Braga Netto por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

Leia mais: Petistas criticam e apontam as contradições do voto de Luiz Fux em julgamento de Bolsonaro no STF

Tentou livrar os cabeças

Nas redes sociais, parlamentares petistas avaliaram o voto do ministro. O líder da Bancada na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT-RJ), assistiu presencialmente a sessão e diz nunca ter visto tanta contradição e incoerência. “É engraçado, porque ele votou pela condenação de mais de 400 pessoas pelos mesmos crimes, aquelas que participaram do 8 de janeiro. Agora, na hora de julgar os cabeças, Jair Bolsonaro, muda tudo”.

Lindbergh também chamou a atenção para o fato de Fux não ter questionado o foro do Supremo no recebimento da denúncia dos oito réus envolvidos. Além disso, observou que “ele chegou a citar o caso do Lula. Na época, havia o questionamento sobre o juízo natural ser Curitiba. Ele argumenta isso agora, só que lá atrás votou contra. Ele votou contra. Na época do Lula, não defendeu nenhuma tese garantista”.

A deputada federal Dandara (PT-MG) considerou a conduta hipócrita e escandalosa. “Protegendo golpistas com um voto vergonhoso e oportunista que ataca o STF. Veja as contradições do voto do ministro: Fux julgou invasores do 8/1 sem questionar foro. STF já manteve foro para crimes no cargo. Há réu com foro (deputado. Ramagem). Fux cita doutrinas nunca aplicadas antes. STF é sim competente para crimes de golpe! Não há cerceamento, defesas tiveram acesso aos autos”, expressou.

Já o deputado Bohn Gass (PT-RS) disse que “o ministro Fux se equivocou 1.600 vezes? Não, não é uma pergunta retórica. É que o mesmo Fux seguiu integralmente Alexandre de Moraes em 1.692 recebimentos de denúncias envolvendo os atos antidemocráticos do 8 de janeiro. Mídia diz que em março, ele teria mudado de opinião”, contabilizou.

Julgamento justo

A deputada Maria do Rosário (PT-RS), que também acompanhou presencialmente o julgamento, disse que “o voto divergente de Fux tem só uma virtude:  é a maior prova de que se trata de um julgamento justo, com direito à defesa, contraditório e plena autonomia para decisão de cada magistrado”. A parlamentar ainda questionou: “Ele não viu violência ou grave ameaça?”, contestou Rosário, que também aproveitou para defender a democracia. “A história não vai se repetir! Aqui em Brasília acompanho de perto o julgamento daqueles que atentaram contra o Brasil e o Estado Democrático de Direito. O Brasil é soberano e democrático! Sem anistia para golpistas”, finalizou.

Apesar de contrário aos dois votos anteriores, Fux isoladamente não pode impedir a condenação do golpista. A afirmação é do deputado federal Kiko Celeguim (PT-SP) ao reforçar que “a tal “perseguição” nunca existiu, e muito menos “ditadura”. Se prova exatamente o contrário: o Brasil é livre, tanto que até os que atacaram a democracia puderam gritar suas barbaridades sem serem censurados. O que não vão escapar é da condenação, porque quem atentou contra o povo e contra a Constituição vai pagar”, defendeu.

Confiança na justiça brasileira

O deputado Rogério Correia (PT-MG) disse ser inacreditável o voto de Fux. “Ele precisa ser estudado e responsabilizado por alimentar a fúria da extrema-direita, que ele diz que foram apenas bravatas. Já disseram isto de Hitler no passado recente. Ainda temos Cármem Lúcia e Zanin para defender a democracia e derrotar a estratégia golpista”, observou o petista.

Na avaliação do deputado Rubens Pereira Jr (PT-MA), Fux provou que o julgamento é democrático, com divergência de opiniões, diferente de quando o Brasil estava sob Regime Militar. O parlamentar ainda foi didático ao explicar contrapontos ao voto do ministro. “No caso em específico, a jurisprudência do STF diz que a competência é, de fato do Supremo porque são fatos envolvidos relacionados ao exercício da presidência de Bolsonaro. Além disso, a competência é da turma conforme o regimento interno do STF”.

A deputada federal Ana Pimentel (PT-MG) não se surpreendeu com a condução do voto do ministro Luiz Fux. Porém, pontuou, “o que a primeira turma do STF analisa nesse momento, assim como legitimou sua maioria, são provas incontestáveis de que houve uma tentativa de ruptura violeta da nossa democracia, com envolvimento direto de Jair Bolsonaro e seus aliados. E isso não será perdoado, nem pela justiça, nem pela história brasileira.

 

Leia mais sobre o assunto:

Airton Faleiro (PT-PA) – Enquanto Moraes e Dino deixaram claro: golpe não se anistia, Luiz Fux fala em ‘incompetência absoluta’ do STF e pede a anulação do processo contra Bolsonaro. Incompetência absoluta é tentar livrar um golpista da Justiça! Prisão já e sem anistia pra golpistas.

Alfredinho (PT-SP) – Que ditadura do judiciário é essa que um ministro discorda da decisão dos outros e não perde o cargo? As teorias da extrema-direita não suportam um segundo de realidade.

Ana Paula Lima (PT-SC) – Espantado com o voto do Fux no julgamento do golpe? Nada novo… em 2016, Deltan contou a Moro que Fux tinha dito que a Lava Jato poderia “contar com ele para o que precisasse”. A resposta de Moro? “In Fux we trust”. Fux já defendia golpista. Hoje, a história só se repete.


Denise Pessôa (PT-RS) Diante do voto de Fux, o Brasil, atento e ansioso por justiça, precisa aguardar mais um voto para ver Bolsonaro e a cúpula do golpe condenados. Chama atenção que o ministro votou para punir os vândalos de 8 de janeiro e agora fala em incompetência da própria Corte. Sentiu a pressão externa? A gente não se dobra a golpistas! Sem anistia!

Dimas Gadelha (PT-RJ) – O destino já escreveu a queda de Bolsonaro, mas que seja com a mão firme de uma mulher. Vai, Carmen Lúcia! O Brasil inteiro te observa!

Erika Kokay (PT-DF) “In Fux, we trust”, diziam, em inglês, os procuradores parciais da Lava-Jato sobre o ministro do STF. Hoje, Fux se mostrou novamente confiável a quem age contra o Brasil e a soberania do voto popular. Seu voto relativiza a tentativa de golpe de Estado e interferência estadunidense nas instituições brasileiras. Diferente de Fux, o Brasil resistirá às pressões e sairá maior deste triste episódio.

Joseildo Ramos (PT-BA) – Um voto que reproduz, ipsis litteris, o arrazoado pela defesa do ex-presidente e uma postura bastante contraditória: não hesitou em condenar os peões do atentado contra a democracia, mas demonstra aparente complacência quando se trata de julgar o possível mandante. Por que será?”

Luizianne Lins (PT-CE) – A verdade é uma só: Bolsonaro é líder de organização criminosa armada que tentou dar um golpe de estado violento no Brasil. O povo brasileiro quer justiça!

Natália Bonavides (PT-RN) – O ministro julgou diversos casos do 8 de Janeiro e não discordou da competência do STF em nenhum deles. Só quando julga a cúpula do bolsonarismo, muda de ideia. Mudar de convicção a depender de quem está na capa do processo não é conduta de bom juiz.

Valmir Assunção (PT-BA)O voto de Fux é coerente com o plano das lideranças bolsonaristas: livra Bolsonaro e seus comparsas, e mantém as pessoas que executaram a quebradeira do 8 de janeiro na Papuda. A anistia, além de uma confissão da tentativa de golpe de Estado, sempre teve esse tom egoísta.

Zeca Dirceu (PT-PR) – O problema é a incoerência: a lei não pode variar conforme o réu. O Supremo precisa de estabilidade e previsibilidade, não de decisões casuísticas. Então fica a pergunta no ar: quando se trata de vândalos comuns, é uma coisa. Quando envolve Bolsonaro e generais, é outra. Até onde vai essa diferença de critérios?

Também comentaram sobre o assunto as deputadas Lenir de Assis (PT-PR) e Juliana Cardoso (PT-SP).

 

Elisa Alexandre

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 11/09/2025