Por Shoumita Dasgupta
A posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos dá início a uma era de perseguição aos imigrantes ilegais, tática usada como principal promessa de campanha que levou o republicano à vitória.
Durante sua campanha, Trump prometeu fazer a maior deportação dos Estados Unidos, tese que ganhou apoiadores porque, entre os norte-americanos, há a farsa de que a política anti-imigração do republicano protegeria o país dos “genes ruins”.
Em artigo no The Conversation, a professora de Medicina da Universidade de Boston, Shoumita Dasgupta, refuta a teoria dos conservadores, de que os imigrantes são mais violentos do que os norte-americanos devido a diferenças biológicas.
Isso porque não há mais nenhuma evidência genética que apoie a predisposição biológica para cometer atos violentos. Autora do livro “Onde a biologia termina e o preconceito começa: Lições sobre pertencimento a partir de nosso DNA”, em tradução livre, Shoumita, que é geneticista e filha de imigrantes, constatou que a tentativa de usar a genética para estabelecer hierarquias sociais não é nova.
A autora explica que o conceito de essencialismo genético, quando utilizado para explicar diferenças entre povos se torna tendencioso, desconsidera o papel dos vieses estruturais nas diferenças individuais.
“Se as taxas de detenção ou encarceramento fossem usadas como evidência de violência, os resultados do estudo seriam afetados por práticas discriminatórias nos sistemas de policiamento e justiça criminal que penalizam mais severamente as pessoas de cor”, aponta a geneticista.
Características específicas, como a saúde mental relacionada às questões de raça, sexualidade e gênero, além de padrão socioeconômico e riqueza geracional, também faz com que os estudos se tornem enviesados.
O que os trompistas anti-imigração fazem, na verdade, é o racismo científico, em que a metodologia é distorcida para apoiar visões preexistentes sobre uma suposta superioridade branca, que tem como precursor Samuel Morton.
Morton tinha como interesse fornecer evidências de que os caucasianos eram mais inteligentes em comparação às demais raças. Para tanto, ele coletava crânios e os media, a fim de determinar a inteligência de acordo com a raça.
“Ao comparar as médias de cada grupo, os resultados apoiaram sua teoria original. No entanto, se, em vez disso, ele tivesse se concentrado na matriz de volumes de crânio em sua coleção, ele teria visto uma sobreposição substancial em cada um dos agrupamentos. Ou seja, cada grupo tinha uma variedade de crânios pequenos e grandes. O foco singular de Morton em provar suas crenças desde o início provavelmente influenciou sua abordagem analítica preferida. Também não há uma correlação significativa entre o volume do cérebro e a inteligência”, continua a pesquisadora em seu artigo.
A partir desta convicção, supremacistas brancos manipulam dados, a fim de criar bases científicas para “comprovar” que os brancos são mais inteligentes que os negros, resultados estes divulgados no que a autora chama de “cantos obscuros da Internet”.
No entanto, não há nenhuma evidência que comprove que diferenças genéticas relacionadas à inteligência ao desempenho cognitivo entre grupos raciais.
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