Pesquisadores do Instituto de Ciências de Tóquio, no Japão, anunciaram o desenvolvimento de uma nova tecnologia de dessalinização capaz de operar com base em energia termossolar e sem a geração de salmoura como subproduto.

O método propõe uma abordagem que utiliza estanho fundido para evaporar instantaneamente a água do mar ou salmoura contaminada, com posterior recuperação de metais dissolvidos no processo.

A escassez global de água potável impulsiona iniciativas para tornar mais eficientes os sistemas de dessalinização. Atualmente, as usinas convencionais descartam aproximadamente 140 milhões de metros cúbicos de salmoura por dia. Esse rejeito, além de concentrar grandes quantidades de sais, contém elementos metálicos que, quando descartados no ambiente, podem comprometer a qualidade da água e do solo.

A nova tecnologia foi desenvolvida pelo pesquisador Toranosuke Horikawa e sua equipe sob a coordenação do professor Masatoshi Kondo. A técnica apresentada utiliza o calor gerado por energia solar concentrada para manter estanho em estado líquido a aproximadamente 300 °C. Nesse estado, o metal serve como meio para a evaporação imediata da água, que é coletada como vapor e posteriormente condensada em forma potável.

Segundo os pesquisadores, ao ser pulverizada sobre o estanho fundido, a água salgada evapora rapidamente, separando-se dos sais minerais e metais dissolvidos. Esses resíduos permanecem no banho metálico, sendo posteriormente recuperados por meio de um processo de resfriamento controlado.

A etapa de recuperação envolve o resfriamento lento do estanho, durante o qual os metais precipitam em diferentes temperaturas. O processo, descrito como uma destilação fracionada, permite a separação seletiva de potássio, sódio, cálcio e magnésio. Os pesquisadores afirmam que a técnica transforma um passivo ambiental — a salmoura descartada — em um recurso economicamente aproveitável, com potencial de gerar receita adicional às usinas de dessalinização.

“A tecnologia proposta para a coleta e recuperação de elementos metálicos da salmoura de dessalinização da água do mar também pode ser usada para destilar águas subterrâneas poluídas com arsênio sem consumir grandes quantidades de energia ou produzir resíduos”, afirmou Kondo. A presença de arsênio em águas subterrâneas é considerada um problema de escala internacional, afetando milhões de pessoas em regiões da Ásia, América Latina e África.

A pesquisa também aponta que o sistema pode ser utilizado em locais sem infraestrutura elétrica robusta, uma vez que o calor solar é a principal fonte de energia requerida. Nesse modelo, a eletricidade deixa de ser o insumo dominante, como ocorre em sistemas tradicionais baseados em osmose reversa, por exemplo. Essa característica abre possibilidades para implantação da tecnologia em áreas remotas ou com acesso limitado à rede elétrica.

O método proposto se alinha a iniciativas globais de desenvolvimento sustentável, ao possibilitar a preservação de fontes de água doce e recuperação de minerais sem emissão de carbono ou geração de rejeitos tóxicos. Os testes de laboratório demonstraram que o sistema é energeticamente eficiente, com desempenho compatível ao de plantas convencionais, porém sem a produção de subprodutos líquidos de difícil manejo.

As próximas etapas da pesquisa incluem a ampliação da escala experimental e a adaptação do sistema para diferentes composições de salmoura e águas contaminadas. Os cientistas também estudam formas de automatizar a separação dos metais extraídos, visando a aplicação comercial em projetos industriais e ambientais.

A equipe responsável afirma que a viabilidade econômica do processo está diretamente associada ao valor de mercado dos metais recuperados. Embora o sistema demande infraestrutura inicial para manter o estanho em estado líquido e capturar o vapor de água, os custos operacionais seriam compensados tanto pela geração de água potável quanto pela comercialização dos elementos extraídos.

O Instituto de Ciências de Tóquio pretende buscar parcerias com centros de pesquisa e empresas de saneamento interessadas em explorar a tecnologia. O objetivo é validar a operação em ambientes reais e iniciar a transferência para aplicação prática em regiões com déficit hídrico ou presença de aquíferos contaminados.

As conclusões da pesquisa indicam que a dessalinização termossolar com uso de metais líquidos representa uma alternativa viável e de baixo impacto ambiental aos métodos atualmente utilizados. A ausência de resíduos líquidos e a recuperação de metais presentes na água elevam o potencial da técnica como ferramenta de gestão de recursos hídricos e minerais em escala global.

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Last Update: 18/05/2025