Nosso passado é o presente e determina o futuro. Essa máxima é especialmente relevante quando se trata do legado escravagista no Brasil, que tem sido escondido por muito tempo.

Um estudo inédito da Agência Pública, intitulado “Projeto Escravizadores”, revelou que muitas famílias de políticos brasileiros têm ligações com a escravidão. A pesquisa foi realizada com a colaboração de jornalistas e pesquisadores em genealogia, arquivologia e história de várias universidades.

Os resultados da pesquisa são impressionantes. Foram identificados 33 políticos que têm ligações com a escravidão, incluindo oito presidentes da República pós-redemocratização e o fim da ditadura militar. Além disso, 16 senadores e 13 governadores também têm ligações com a escravidão.

A metodologia da pesquisa foi rigorosa e cuidadosa, e incluiu a análise de documentos históricos e a verificação de árvores genealógicas. A Agência Pública não obteve nenhuma negação dos resultados por parte dos políticos apontados na pesquisa.

Essas constatações são importantes porque revelam a extensão do legado escravagista no Brasil e a manutenção do poder político e econômico por parte de famílias que se beneficiaram da escravidão. Isso é especialmente relevante porque a escravidão foi um crime contra a humanidade que afetou milhões de pessoas.

A contextualização da invasão e colonização europeia do Brasil, o extermínio indígena e a escravização de quase 6 milhões de africanos, corrobora com os resultados da pesquisa e revela a formação da burguesia e dos políticos nacionais à prática escravagista de famílias da aristocracia política que governa estados e municípios desde então.

É necessário aprofundar os estudos e fortalecer a reparação histórica da escravidão. A direção do Banco do Brasil e o governo Lula devem ser mais proativos em relação à reparação e não apenas pedirem perdão e desculpas.

Quem são os herdeiros escravocratas que se mantém no poder?

José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

Senadores:

Augusta Brito (PT-CE), Carlos Portinho (PL-RJ), Carlos Viana (Podemos-MG), Cid Ferreira Gomes (PSB-CE), Ciro Nogueira (PP-PI), Efraim Filho (União-PB), Fernando Dueire (MDB-PE), Jader Barbalho (MDB-PA), Jayme Campos (União-MT), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Marcos do Val (Podemos-ES), Marcos Pontes (PL-SP), Rogério Marinho (PL-RN), Soraya Thronicke (Podemos-MS), Tereza Cristina (PP-MS) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PP).

Governadores:

Carlos Brandão Júnior (PSB-MA), Cláudio Castro (PL-RJ), Eduardo Riedel (PSDB-MS), Fátima Bezerra (PT-RN), Gladson Camelli (PP-AC), Helder Barbalho (MDB-PA), João Azevêdo (PSB-PB), Jorginho Mello (PL-SC), Rafael Fonteles (PT-PI), Raquel Lyra (PSDB-PE), Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP).

Quem mais poderia estar na pesquisa e lista da herança escravocrata?

Vale dizer que a extensão dessa metodologia e pesquisa sobre o lastro escravagista entre as demais autoridades institucionais do Brasil, como juízes, desembargadores e demais setores da justiça, do parlamento (deputados federais, estaduais, vereadores) e do poder executivo (prefeitos), os resultados devem ser ainda mais latentes do emaranhado de suas riquezas, poderes e passado escravagista encoberto pela história não escrita da escravidão no país.

Trafico de escravizados, formação da burguesia e dos políticos no Brasil

Entre 1501 e 1900 foram sequestradas e embarcadas em navios negreiros 12.521.331 milhões de pessoas (64,5% homens e 21,7% crianças) do continente africano para diversas partes no mundo.

Racismo para manutenção do poder e riquezas

A contextualização da invasão e colonização europeia do Brasil, o extermínio indígena e a escravização de quase 6 milhões de africanos, corrobora com os resultados da pesquisa e revela a formação da burguesia e dos políticos nacionais à prática escravagista de famílias da aristocracia política que governa estados e municípios desde então.

Familiares de políticos podem ter relação ou foram parceiros do Banco do Brasil na escravidão

Essas constatações podem fazer um elo necessário e atual na discussão do envolvimento do Estado e de suas instituições no favorecimento comercial e político dessas famílias e conglomerados comerciais, pois diversas revelações do papel das famílias e suas relações com a escravidão transcorrem no mesmo período em que o Banco do Brasil financiou o tráfico, o comércio e o suporte econômico de diversas famílias escravagistas na estruturação comercial da escravidão brasileira.

Necessário aprofundar os estudos e fortalecer a reparação histórica da escravidão

Os dados familiares dos políticos e seu envolvimento com a escravidão no Brasil é um marco importante de como, estruturalmente, o Estado amparava concretamente as vantagens, e consequentemente o poder político e econômico dessa casta política que se mantém no poder em todas esferas federais até os dias de hoje.

Por outro lado, a direção do Banco do Brasil e o governo Lula tentam, de todas as formas, negar uma justa reparação, com políticas estruturais de valorização da vida dos descendentes diretos e indiretos da população escravizada em nosso país, como a titulação definitiva dos territórios quilombolas.

A direção do BB e o governo Lula se limitam a pedir perdão e desculpas pelos seus crimes e barbaridades. Apontam a extensão de políticas afirmativas, compensatórias ou de empoderamento individual que já existem em suas gestões, insuficientes diante das necessidades de reparação de um crime tão prolongado e danoso à população negra no Brasil. Um crime praticado com a morte, o sangue e sofrimento do povo negro, traficado, escravizado, e que a instituição e o Estado administraram junto à burguesia, os políticos e os interesses do imperialismo na formação de suas fortunas e do poder político em todo esse período, incluindo dos familiares e políticos beneficiados pela escravidão.

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Last Update: 29/11/2024