Pesquisa confirma a principal barreira para haver mais líderes negros nas empresas

A presença de líderes negros em cargos de decisão segue limitada nas grandes empresas brasileiras. Uma pesquisa realizada com 538 profissionais negros que já ocupam posições de liderança indica que o principal entrave para avançar na carreira não está na qualificação, mas no acesso a oportunidades e visibilidade interna.

Segundo o levantamento, 58,9% dos respondentes apontam a ausência de oportunidades e de reconhecimento como a maior barreira para progressão profissional. Em contraste, apenas 10,1% mencionam falta de capacitação como obstáculo relevante.

Os dados foram coletados durante o Future in Black, encontro anual de lideranças negras realizado neste ano em São Paulo.

Além disso, o perfil dos participantes reforça o nível de senioridade dos líderes negros ouvidos. Entre os respondentes, 48,5% têm mais de 15 anos de carreira, 61,5% são mulheres e 36,1% ocupam cargos de c-level. Mesmo assim, muitos relatam permanência prolongada nos mesmos postos e maior dificuldade de acesso a posições de comando em comparação com pares brancos.

Oportunidade supera capacitação entre líderes negros

Para Eliezer Leal, cofundador da consultoria Singuê, os resultados evidenciam um problema estrutural. Segundo ele, os dados indicam que os líderes negros chegam qualificados, mas encontram barreiras nos processos internos das organizações. Em suas palavras, “o problema não está na formação, e sim nos mecanismos de acesso, indicação e decisão, que seguem operando de forma desigual”.

A pesquisa também mostra outros fatores que dificultam a progressão. Entre eles, 39,1% citam networking limitado, 34,6% apontam ambientes organizacionais pouco inclusivos, 19,1% mencionam questões financeiras e 15,1% indicam dificuldades de equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Ainda assim, a baixa incidência da resposta ligada à capacitação reforça que o gargalo não está na qualificação profissional.

Redes de confiança limitam

Na avaliação de Maiko Pinheiro, fundador e CEO do Future in Black, os resultados confirmam um padrão observado ao longo das edições do evento. Para ele, os líderes negros que chegam a cargos elevados já cumpriram todas as exigências técnicas. O entrave surge no acesso aos mesmos círculos de confiança, indicação e visibilidade disponíveis a outros grupos.

Maiko explica que o Future in Black foi criado para ampliar esse acesso, reunindo lideranças negras em um espaço voltado a negócios, estratégia e carreira. Segundo ele, quando há conexão com redes qualificadas e exposição profissional, o avanço ocorre de forma mais rápida.

Inteligência artificial identifica padrões

A análise dos dados foi conduzida pela Singuê com apoio de tecnologia de inteligência artificial. A ferramenta examinou respostas abertas dos participantes e identificou padrões de linguagem, sentimentos e temas recorrentes, organizando percepções individuais em indicadores estruturados.

De acordo com Eliezer Leal, a abordagem permitiu visualizar de forma clara a recorrência das experiências relatadas. Para ele, quando observadas em conjunto, as narrativas mostram que os líderes negros entram no mercado atendendo às exigências, mas não avançam na mesma velocidade em promoções e movimentações internas.

Indicação pesa nas trajetórias de líderes negros

Os dados também reforçam um aspecto recorrente do mercado executivo brasileiro: a dependência de indicações para ocupação de cargos de liderança. Maiko Pinheiro destaca que muitas vagas não passam por processos seletivos abertos, o que tende a reproduzir redes homogêneas e limitar o acesso de líderes negros a posições estratégicas.

A análise da Singuê aponta que esse modelo impacta tanto a progressão quanto a permanência desses profissionais. Para Eliezer Leal, insistir apenas em programas tradicionais de desenvolvimento ignora o problema central. Segundo ele, o desenho organizacional e os processos internos seguem restritivos e dificultam a redução das desigualdades.

Encontro amplia visibilidade de líderes negros

Realizado anualmente, o Future in Black reúne executivos, gestores públicos, empresários e líderes negros de diferentes setores. Nesta edição, cerca de mil participantes estiveram presentes em São Paulo, formando uma das maiores redes de profissionais negros em posições de liderança no país.

Para Maiko Pinheiro, iniciativas desse tipo ajudam a ampliar conexões, reduzir o isolamento profissional e abrir caminhos de progressão. Segundo ele, redes de relacionamento seguem sendo determinantes para o avanço de líderes negros nas estruturas corporativas.

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