Há cerca de um mês, desloquei-me à paradisíaca Ilhabela, no litoral do estado de São Paulo. Motivos vários, por longos anos, haviam me afastado dos fins de semana na íntima Ilha, com a companheira e os filhos, amigos da metrópole que também “desciam”.
Não consigo precisar, mas fotos da época me levam a crer que durante 25 ou 30 anos foi compensador enfrentar a Tamoios encrencada, a fila da travessia em balsas precárias, a maioria das estradas municipais ainda não pavimentadas, a lama brigando com as rodas dos carros e… os borrachudos (mosquitos em várias versões).
Nenhum sacrifício. Sabíamos o que nos esperava quando lá chegássemos. A prainha em frente de casa com pouco mais de cem metros, escondida.
Nela, o sossego da solidão e das águas calmas do canal de São Sebastião. Meu filho praticando mergulhos e snork comigo entre as pedras, vários peixinhos, minúsculos cavalos-marinhos, assustadoras moreias, orgulhosos chegar em casa e aferventarmos a meia dúzia de mexilhões que arrancamos das rochas. À noite, no píer da vila, assistir aos pescadores puxando cintilantes peixes-espada.
Na nossa imaginação, deixáramos a máquina mortífera da capital para vivermos como caiçaras. Até porque, no contato com eles, aprendíamos muitas coisas.
Na visita recente, mencionada no parágrafo inicial, notei que muita coisa mudou. Não irei descrever. Deixo para vocês constatarem. Melhorou ou piorou. Há controvérsias. Sei que lá voltasse com frequência recuperaria toda a minha felicidade do passado.
Por que, depois de tantos anos, voltei lá? Ver meu filho, sua esposa, nova família, e a exposição de artes plásticas em que ele participava. Sim, enquanto as filhas escolheram ser executivas em empresas multinacionais e, hoje em dia, moram nos EUA, ele escolheu a arte, pinta e é arte-educador para crianças e adultos moradores de Ilhabela.
Estivesse ele na Faixa de Gaza, atacado por Netanyahu, ainda assim iria visitá-lo.
Na antessala onde estavam suas obras, expunham colecionadores. Uma surpresa: um quadro pintado por Mino Carta. Fiquei ainda mais feliz.
Em tudo isso, vivências de cada um de nós seríamos um país feliz, sem desigualdades sociais hediondas. Mazelas diárias, a música mais diversificada do mundo, Maria da Conceição Tavares, a quem ficarei devendo minhas percepções de quando seu aluno e frequentador de simpósios.
Por que assim não ficamos? Perguntem à elite econômica nacional, que não permite perder um anel.
Inté. Na próxima volto com o decepcionante futuro do agronegócio.