A investigação aberta contra o vereador Balda (Novo), acusado de racismo por ter se referido à gestão do ex-prefeito Edinho Silva como uma “administração negra”, não passa de uma perseguição política disfarçada de justiça racial. Trata-se de uma tentativa escancarada de criminalizar a divergência, suprimir a imunidade parlamentar — garantida expressamente pela Constituição Federal — e reforçar o regime de censura no Brasil liderado por Alexandre de Moraes.
Tratar a frase usada por Balda como “racista” é uma falsificação grosseira. Ele fez uma crítica à administração petista — o uso da palavra “negra” estava claramente no plano político. Punir isso é abrir a porta para que qualquer expressão com “preto” ou “negro” vire infração ética, crime ou discurso de ódio. Estão tentando construir um Estado policial ideológico — um verdadeiro tribunal das palavras.
É preciso dizer com todas as letras: ninguém deve ser punido por dizer que “a coisa tá preta”, que viveu um “período negro”, que houve a “peste negra” ou expressões semelhantes. Tudo isso faz parte da língua portuguesa e não tem relação com preconceito racial. Criminalizar isso é cair na mais pura insanidade moralista.
A própria Constituição Federal assegura, no artigo 53, que deputados e vereadores são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato. Atacar essa garantia é minar um dos últimos instrumentos democráticos que restam contra o avanço do autoritarismo.
A censura “do bem” nunca para nos alvos iniciais. Ela avança — sempre — contra os que lutam. E é exatamente isso que estamos vendo. Um exemplo gritante é o caso de “Israel”, onde a política de censura começou com o suposto combate ao racismo. Em seguida, passou a reprimir discursos “ofensivos” às mulheres, depois à comunidade LGBT, e depois se transformou em “discurso de ódio” — um conceito vago que agora abrange qualquer coisa: etarismo, gordofobia, “carecofobia”, deficiências etc.
Hoje, essa mesma política de censura é usada abertamente para proteger o sionismo e o nazismo moderno. Denunciar o genocídio do povo palestino se tornou, segundo a narrativa oficial, um ato de “antissemitismo” ou “racismo”. Como se religião fosse etnia. Enquanto isso, o verdadeiro racismo — o extermínio de um povo colonizado — é tratado como combate ao terrorismo.
A história mostra aonde isso leva. A censura começa com palavras. Depois, vira regra. Depois, prisão. Como alertou León Trotski, “toda repressão estatal, não importa contra quem seja inicialmente dirigida, inevitavelmente se volta contra os trabalhadores e suas organizações — em especial os elementos mais avançados.”
Voltando a Araraquara: essa denúncia contra Balda é parte de uma rixa política rasteira. O vereador criticou duramente a gestão do PT. Agora, os petistas e seus aliados querem revanche — mas, em vez de travar o debate político, apelam para os instrumentos da repressão. Essa aliança entre identitarismo e autoritarismo é o que pavimenta o caminho da nova ditadura judicial no Brasil.
E atenção: nem todo negro está do lado do povo negro. Fernando Holiday é um exemplo vivo do contrário. Um verdadeiro capitão do mato do século XXI, a serviço da burguesia. Por isso, cabe a pergunta: que direitos defende um negro do PSDB, partido mais neoliberal e nazista do país? MDB? Ou Progressistas, Republicanos — legendas bolsonaristas? Só alguém muito iludido, ou muito vendido, acredita que esses partidos defendem os negros.
Mas, enquanto a briga é por palavras, ninguém denuncia a política real do NOVO — o partido de Balda, que defende a terceirização, a destruição dos direitos trabalhistas, a reforma da Previdência, os cortes em programas sociais e a entrega total do patrimônio nacional. Essa política, sim, oprime os negros. Mas o foco está numa palavra. Esse é o teatro do identitarismo: atacar a linguagem para proteger o capitalismo.
E, em nome desse teatro, se constrói um verdadeiro regime de patrulhamento. Não se pode mais dizer “as coisas estão claras”. Não se pode dizer “buraco negro”. Não se pode usar o gênero neutro que se confunde com o masculino, mesmo que isso esteja gramaticalmente correto. Querem obrigar todo mundo a dizer “companheires”, criando uma língua artificial completamente distante da realidade popular. Tudo isso para atacar a questão nacional que inclui a linguagem.
Tudo isso é tratado como “avanço”. Mas é o contrário. É repressão pura, embalada num discurso “do bem”. É uma tentativa de institucionalizar a censura. É a porta escancarada para a criminalização de qualquer um que ouse discordar do regime. É por isso que o STF, o mesmo que sentou em cima das demarcações de terras quilombolas e indígenas, que participou do golpe, que destruiu e precarizou empregos, atacou direitos e desmontou programas sociais, agora posa de guardião da moral e do Estado Democrático de Direito.
Essa “luta contra o racismo” virou a trincheira preferida da burguesia para perseguir adversários políticos, legitimar a repressão, criminalizar a esquerda revolucionária e preservar intocável o sistema de opressão.
Não se combate racismo com censura. Não se combate opressão com tribunal de palavras. Não se derruba a desigualdade com cartilhas de linguagem. Se esse fosse o caminho, os banqueiros, empresários e donos do poder estariam em pânico. Mas não estão — estão rindo. Porque sabem que essa política identitária não muda absolutamente nada, até porque são os autores dessa política.
A verdadeira luta contra a opressão racial é luta contra o sistema capitalista e o imperialismo, que impede o desenvolvimento dos povos de economia atrasada. Contra a parasitagem dos banqueiros estrangeiros — os verdadeiros donos do golpe que resultou em desemprego e miséria. Contra a especulação financeira que abocanha metade de tudo que o país arrecada. Contra a repressão estatal que assassina a população negra nas periferias — e pela organização revolucionária dos trabalhadores e de todos os oprimidos.
Todo o resto — como essa denúncia farsesca em Araraquara — é encenação, revanche política e colaboração ativa com a ditadura que está se instalando no país.