Em 1808, quando a família real portuguesa chegou ao Brasil, estabelecendo-se no Rio de Janeiro, as 10 mil melhores casas do lugar foram tomadas e ocupadas pelos nobres, que mandavam pintar nas fachadas a sigla PR (Príncipe Regente) e enxotavam os moradores, obrigados a deixar tudo pra trás, sem qualquer indenização. Logo, a sigla ficou conhecida como “Ponha-se na Rua”.

Ouso imaginar que o sentido prepotente da arcaica e caduca expressão deu origem a outras tão semelhantes, como a “Ponha-se no seu lugar”, que eu acreditava extinta, mas foi proferida nesta terça-feira (27/05), em pleno Senado Federal, contra uma ministra de estado, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente.

Como lembra o sociólogo e pesquisador José Almino de Alencar, a frase, carregada de todo o tipo de preconceito – de classe, origem, gênero e raça -, ainda é “frequentemente invocada para ilustrar o comportamento das classes dominantes ou privilegiadas no Brasil, país tão marcado por seu passado escravagista e pelas enormes diferenças socioeconômicas”.

Vergonhosamente, essa arrogância misógina faz parte da rotina do atual Congresso Nacional, onde as mulheres são diariamente desrespeitadas, onde diariamente enfrentam tentativas de silenciamento. Isso acontece com as parlamentares do campo progressista e com ministras de estado.

Dos ataques infantilóides e desprovidos de senso aos gritos e intimidações grosseiras, nada falta no empenho de alguns deputados e senadores da bancada do desvario em humilhar e desqualificar as vozes femininas.

A audiência com a presença de Marina Silva repetiu o repertório incivilizado, incluindo desligar o microfone da ministra!

O repugnante espetáculo foi protagonizado pelos senadores Marcos Rogério (PL), Omar Aziz (PSD) e Plínio Valério (PSDB), que não permitiram que a ministra, maior autoridade na sala, falasse sobre o tema para o qual foi convidada pela Comissão de Serviços de Infraestrutura. Quiseram que ela se calasse! Marina Silva não se calou!

O trio repetiu uma prática instalada no Congresso pelo então parlamentar Jair Bolsonaro, que por três vezes agrediu e atacou a deputada federal Maria do Rosário, chegando ao absurdo de dizer “não estupro você, porque não merece”. A frase criminosa, dita pela primeira vez em 2003, no Salão Verde da Câmara, propagou uma cultura de violência contra as mulheres que hoje invade as redes sociais, as escolas e contamina e corrompe parte da nossa juventude.

Porque nada foi feito em 2003, chegamos a esse ponto. É preciso interromper essa escalada. Os três senadores precisam ser exemplarmente punidos, para dar um recado aos agressores de mulheres disfarçados de congressistas.

À ministra Marina Silva, minha total solidariedade e admiração.

Reimont é deputado federal pelo PT-RJ

Do site do PT na Câmara

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Last Update: 30/05/2025