
Por ocasião de seminário no BNDES em março de 2023, o Nobel de Economia Joseph Stiglitz disse que “a taxa de juros do Brasil é chocante. Uma taxa de 13,75%, ou 8% real, é o tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia. É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte”.
Na época, o presidente do Banco Central “independente” era Roberto Campos Neto, nomeado ainda por Bolsonaro, não por Lula.
Políticos da base do governo, analistas e economistas consideravam o presidente bolsonarista do BC um sabotador. O PT denunciava que Campos Neto utilizava “a autarquia como uma espécie de bunker para a sabotagem econômica do país e plataforma de articulação político-partidária” da extrema-direita. Na resolução do Diretório Nacional de 2024, o Partido declarou que “Campos Neto tornou-se o maior entrave ao crescimento do país”.
O presidente Lula se queixava muito. Em certa circunstância, reclamou: “Não existe nenhuma justificativa para a taxa de juros a 13,5%, é só ver a carta do Copom para ver a vergonha que é esse aumento de juros e a explicação que deram para a sociedade brasileira”.
Haddad também criticava: “Você não vai corrigir a inflação de 2024 aumentando o juro”.
Reagindo ao segundo aumento consecutivo da Selic no mandato de Gabriel Galípolo, em maio passado José Dirceu disse considerar “um crime o Brasil ter uma taxa de juros alta”, de 14,75%.

O que diria hoje Stiglitz vendo Galípolo e a maioria de diretores do Copom indicados por Lula elevarem a taxa Selic a 15%, levando os juros reais à casa dos 10% acima da inflação?
O comunicado do Copom, baseado no suspeitíssimo Boletim Focus, usa um tom alarmista e fora da realidade para justificar o arrocho monetário: “o cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas […]”.
“As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 5,2% e 4,5%, respectivamente”, diz o comunicado.
Francamente, uma inflação ao redor de 5% ao ano no Brasil não pode servir de argumento para taxas de juros obscenamente elevadas, que sugarão mais de um trilhão de reais do orçamento da União só neste ano.
Nos 26 anos desde a adoção do sistema de metas inflacionárias, em 1999, a inflação média anual no Brasil foi de 6,3%, e nem por isso se ouvia tamanho escarcéu.
O problema, portanto, não é a inflação, que inclusive se situa dentro do padrão histórico da economia nacional. O problema é a meta de inflação absolutamente irrealista de 3% fixada pelo governo, quando a meta média de inflação nos 26 anos do sistema de metas foi de 4,63% – 54% maior que a atual de 3%.
O Copom se apega a essa meta equivocada para continuar impondo “uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
Quando os integrantes do BC indicados por Lula eram minoria, a unanimidade no Copom a favor dos juros altos era justificada como uma escolha tática para não atiçar o mercado contra o governo.
A partir de janeiro deste ano, com a maioria do governo no Copom optando por continuar a mesmíssima política monetária do Campos Neto e votando de maneira unânime a favor dos juros altos, a explicação passou a ser de que não se pode dar cavalo-de-pau num transatlântico.
Como Galípolo e sua diretoria não sinalizam nenhuma inflexão da política monetária, mesmo que lenta e gradual, o transatlântico continuará nessa rota benéfica ao rentismo e nefasta para o país.
Faltam menos de 16 meses para a eleição de 2026. A economia nacional e o governo Lula precisarão resistir com muita força para não sucumbirem à sentença de pena de morte decretada pela taxa de juros “chocante” no Brasil, como Stiglitz conceitua.
Publicado originalmente no blog de Jeferson Miola