No fim dos anos 1990, o depósito de bebidas de Francisco Castanho, em Belém do Pará, passou a ser alvo constante de assaltos. Os ladrões reduziram o estoque, o caixa secou e a renda da família começou a desaparecer. Para driblar a crise, o filho Thiago sugeriu um novo rumo: o pai, acostumado a cozinhar nos fins de semana, devia começar a vender pizzas feitas na cozinha de casa, porta a porta, pelo bairro.
Seu Chicão topou. Foi até o carro e levantou o tapete do assoalho, onde costumava esconder algum dinheiro. Encontrou apenas 70 centavos. Foi até o supermercado. Comprou presunto e queijo. A farinha, por sorte, já havia na despensa. A primeira pizza saiu para um amigo — e logo chamou a atenção de um vizinho.
Com as duas primeiras vendas e quase cinco reais, conseguiu criar novos recheios. Multiplicaram-se os pedidos. A notícia se espalhou pela vizinhança. Até que alguém sugeriu uma mudança no cardápio: que tal moqueca que ele fazia e todo mundo comentava? Ele topou o desafio. Aos poucos, a farinha deu lugar ao peixe. O que era improviso virou vocação e lugar para o filho, Thiago, suceder o pai e criar novas receitas.
Da junção de pai e filho surgiu o Remanso do Peixe. Desde 2011, é considerado um dos melhores lugares do Brasil para comer peixe, com receitas que celebram os sabores e os ingredientes regionais. Um destaque é a piraíba, peixe conhecido popularmente por filhote, uma das maiores espécies de couro da Bacia Amazônica, podendo alcançar três metros de comprimento e 150 quilos.
No mercado Ver o Peso, às margens do rio Guamá, em Belém, o visitante pode se deparar com sabores locais. Designado como patrimônio histórico e e uma das maiores feiras livres da América Latina, o espaço permite tomar sucos de frutas, conhecer especiarias, tomar um açaí ou conhecer os peixes que tanto sucesso fazem entre brasileiros e estrangeiros.
A culinária também chama a atenção da menos midiática Rondônia, cujos peixes ganharam projeção no primeiro governo Lula, em 2003, quando se discutia o licenciamento ambiental das hidrelétricas do rio Madeira. Temiam-se impactos sobre a migração de uma espécie de bagre.
A autorização para as obras das usinas hidrelétricas de Santo Antônia e de Jirau foi concedida. As hidrelétricas saíram do papel e geram eletricidade há mais de uma década. Os peixes continuam nos cardápios.
Às margens do rio Madeira, em Porto Velho, no bairro de São Cristovão, está o Arigó, cujo destaque é um bufê com comidas regionais e um tambaqui na brasa cujo frescor indica que a pesca é diária. Para beber, suco de cupuaçu ou de outras frutas típicas.
Na hora da digestão, ainda dá para andar alguns quarteirões e visitar o Complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, parte do Tratado de Petrópolis, firmado entre o Brasil e a Bolívia para encerrar o conflito sobre o território que hoje é o Acre.
A ferrovia, que é o ponto de partida da história de Rondônia, também é um capítulo da história do Brasil. Construída no fim do século XIX, teve a intenção de contornar o rio Madeira e escoar a produção de borracha entre Brasil e Bolívia, marco do primeiro ciclo de crescimento da região Norte.