Nessa terça-feira (6), a bancada do Partido Democrático Trabalhista (PDT) na Câmara dos Deputados decidiu romper com o governo Lula. A decisão foi anunciada pelo líder da bancada, Mario Heringer (MG). Segundo o deputado, a decisão foi unânime e representaria um passo do PDT rumo à “independência” do governo. Até o fechamento desta edição, a bancada do partido no Senado havia decidido se manter ao lado da presidência da República.

A justificativa apresentada pelos caciques do PDT é uma intriga contra o presidente Lula. Liderados pelo ex-presidenciável Ciro Gomes, os deputados acusaram o petista de não ter tratado o ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi, devidamente e de ter escolhido o seu substituto, Wolney Queiroz, sem a anuência da bancada. Lupi, por sua vez, teria sido pressionado por Lula a se demitir porque se tornou o pivô de um escândalo de corrupção envolvendo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Este não é, obviamente, o motivo do rompimento. O fato é que, dentro do PDT, nunca houve uma unidade em torno do apoio ao governo Lula. Em 2022, por exemplo, Ciro Gomes, candidato a presidência da República pelo partido, se negou a apoiar a candidatura de Lula. Lupi, por seu turno, integrava uma ala mais favorável ao presidente. Na medida em que tanto Lupi quanto o governo ficaram enfraquecidos, a ala mais golpista do PDT tomou a iniciativa e conseguiu pressionar os deputados para que rompessem com a presidência.

Ao que tudo indica, o rompimento será muito mais que um gesto formal. O partido deverá passar a integrar parte da oposição ativa ao governo. Heringer, por exemplo, já declarou que o PDT poderá apoiar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o governo, desde que esta investigue também o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Já o governo, de tão acuado que se encontra, foi incapaz de reagir à traição à altura. Gleisi Hoffmann, secretária de Relações Internacionais, declarou que “respeita” a decisão da bancada outrora “aliada”.

O elemento central nesta crise não são as aspirações presidenciais de Ciro Gomes, mas sim o movimento de classe da burguesia contra o governo Lula. O governo vem dando sinais de esgotamento, o que tem levado os capitalistas a aumentarem o cerco contra ele, ao mesmo tempo em que cresce a insatisfação popular. A chamada “crise do Pix” expôs a extrema fragilidade de um governo que foi incapaz de chamar um único ato de rua em dois anos e meio, enquanto assiste passivamente ao crescimento da capacidade de mobilização da extrema direita.

Os jornais da burguesia comentam diuturnamente sobre a necessidade de novas reformas neoliberais e o quanto o governo Lula é incapaz de fazê-las. Mais recentemente, as entidades patronais e pelegas, autointituladas “centrais sindicais”, romperam com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), em um aceno claro às eleições de 2026. O principal dirigente destas entidades, Paulinho da Força, está apoiando a pré-candidatura de Ronaldo Caiado (União Brasil).

A saída do PDT do governo é parte do deslocamento da burguesia para um outro polo, que não seja nem o petismo, nem o bolsonarismo. A “frente ampla”, responsável pelo fracasso do governo Lula, agora o apunhala pelas costas. Como há dez anos, quando a burguesia se preparava para derrubar o Dilma Rousseff, os “aliados”, diante da pressão, agem como ratos e roem a frágil corda que os unia ao governo Lula.

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Last Update: 07/05/2025