Nesta sexta-feira (13), milhares de ativistas de todo o mundo iniciarão uma marcha pelo Egito para romper o cerco imposto por “Israel” contra Gaza. Denominado Marcha Global para Gaza, o movimento planeja furar o bloqueio por meio de Rafá, cidade palestina que faz fronteira com o território egípcio.
Segundo a organização informou ao DCO, cerca de quatro mil voluntários de mais de 80 países participarão da caminhada. Após desembarcar em Cairo, os ativistas viajarão de ônibus até Al Arish, no deserto do Sinai e então, sairão do veículo para dar início à caminhada, que deve durar de dois a três dias.
Nesta época do ano, a temperatura no deserto é de cerca de 45 ºC. Ao percorrer os 50 quilômetros até o lado egípcio de Rafá, os participantes dormirão em tendas coletivas. Além disso, serão acompanhados por um comboio de veículos que levará água e comida para a viagem. A volta para Cairo está prevista para o próximo dia 19.
O Diário Causa Operária (DCO) conversou com Adriana Machado, representante do Partido da Causa Operária (PCO) e do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) na Marcha Global para Gaza. Diretamente de Cairo, a militante afirmou que o clima é de animação e solidariedade:
“Muitas pessoas estão ajudando as outras financeiramente e logisticamente, comprando barracas individuais, camisas e bandeiras da Palestina lá no Egito — para não terem problemas no aeroporto —, ajudando com dicas e compras de suprimentos.”
Apesar disso, afirma Adriana, “todos do grupo estão muito apreensivos com a chegada, com a marcha no deserto, e a possibilidade de não chegarmos em Rafá por ataques de ‘Israel’ ou devido ao governo egípcio”.
Na quarta-feira, o ministro da “Defesa” da ocupação sionista, Israel Katz, afirmou esperar que o governo egípcio impeça a chegada do que ele chamou de “manifestantes jihadistas” na fronteira Egito-“Israel”. O fascista ainda disse esperar que Cairo não permita que os ativistas “realizem provocações e tentem entrar em Gaza”. “[Isso irá] ameaçar a segurança da IDF [exército sionista] e nós não permitiremos”, disse Katz em pronunciamento oficial.
Outro brasileiro, membro do mesmo grupo da representante do PCO, entrou em contato com a Embaixada do Brasil no Egito. Em resposta, os diplomatas teriam garantido apoio para os brasileiros caso houvesse necessidade:
“Fui muito bem recebido na Embaixada do Brasil no Cairo. Conversei com o diplomata responsável pelo setor político, Tiago, e com a conselheira Maria Eduarda. Eles me agradeceram por ter comunicado a embaixada sobre a movimentação, disseram que estarão disponíveis em caso de necessidade e nos pediram para mantê-los informados. Informaram que outras embaixadas foram contatadas por cidadãos de seus países.”
Confira, abaixo, o vídeo publicado na conta oficial do PCO e do Ibraspal no Instagram anunciando a participação de Adriana Machado na mobilização:
Além disso, a Marcha Global para Gaza enviou a este Diário um manifesto oficial sobre o movimento. Leia a tradução na íntegra:
“Palestina Livre
Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru, Porto Rico, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, El Salvador, Guatemala, México, Estados Unidos, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Países Baixos, Noruega, Polônia, Portugal, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido, Bahrein, Índia, Japão, Jordânia, Líbano, Malásia, Omã, Paquistão, Palestina, República Árabe da Síria, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Vietnã, Argélia, Egito, Marrocos, Reunião, Senegal, África do Sul, Tunísia e mais países se juntando a cada dia.
Cada um desses países contatou sua embaixada egípcia local e, coletivamente, houve contato com as autoridades no Egito. Estamos cientes de que algumas embaixadas — duas entre os 54 países participantes — emitiram declarações dizendo que não apoiam a marcha, mas nenhuma embaixada tem esse poder, pois a decisão cabe às autoridades egípcias. Várias reuniões ocorreram com outras embaixadas egípcias, e a marcha recebeu respostas positivas e de apoio. Pretendemos continuar abertos e transparentes com o plano para a marcha, que começa em 12 de junho. A esperança é que o Egito se una aos cidadãos do mundo em apoio ao povo da Palestina e a esta Marcha Global Pacífica para Rafá. Não temos a intenção de entrar em Gaza, mas sim de chamar atenção para a situação e tentar garantir que todas as passagens estejam abertas para permitir a entrada urgente de alimentos, água e suprimentos médicos em Gaza.
Não temos nenhuma intenção de violar a soberania do Egito ou de desrespeitar suas leis; ao contrário, desejamos contribuir pacificamente para esta luta pela paz.
Há uma necessidade urgente de ações imediatas e firmes para pôr fim ao genocídio, aos massacres e às ações militares sem mais demora, garantindo a entrada urgente e irrestrita de itens básicos e ajuda médica, implementando um cessar-fogo permanente, bem como a retirada completa das forças israelenses da Faixa de Gaza e o fim de seus ataques na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.
Esta é uma resposta cidadã, internacional, não violenta e apartidária ao que se tornou uma das maiores atrocidades do século XXI. Gaza tem sido brutalizada sob bombardeios implacáveis e cruéis por parte de ‘Israel’ há 19 meses, de uma forma que nenhum de nós poderia imaginar. Este movimento global de cidadãos não pode mais ficar de braços cruzados assistindo a esse genocídio. Estamos nos unindo para mostrar nossa solidariedade ao povo da Palestina e exigimos:
- Uso de todas as medidas disponíveis para acabar com o genocídio;
- Abertura imediata e permanente da passagem de Rafá para permitir a entrada de ajuda humanitária;
- Retirada completa das forças militares israelenses de Gaza;
- Reconstrução de Gaza;
- Fim da impunidade e responsabilização por crimes contra a humanidade;
- Fim da colonização na Palestina.
É um testemunho da mobilização dos cidadãos do mundo que se unem à Marcha Global para Gaza, à flotilha Madleen – Liberdade e ao comboio tunisiano Sumud, todos com a intenção de exigir que a comunidade internacional tome ações imediatas, que a ajuda humanitária entre em Gaza agora e que a fome forçada imposta ao povo palestino por ‘Israel’ seja interrompida.
Os cidadãos do mundo estão com a Palestina hoje e todos os dias, porque o que o povo palestino está sofrendo com a cumplicidade da comunidade internacional é o que provavelmente sofreremos no futuro em nossos próprios países, se não nos levantarmos agora pelos palestinos.
Mais de 54 países, mais de 2.500 pessoas estão se unindo para marchar pacificamente até a passagem de Rafá, exigindo que a comunidade internacional garanta a entrada de ajuda em Gaza AGORA.
Marcha Global para Gaza”