
Conversas sobre o avanço do crime organizado passaram a fazer parte do dia a dia de empresários e investidores da Faria Lima, em São Paulo. O foco está no crescimento da atuação de facções como o PCC e o Comando Vermelho em setores formais da economia. Com informações da Folha.
Gestores de fundos, empresários e analistas começaram a tratar o “risco PCC” como um fator real ao avaliar investimentos no Brasil, especialmente diante da infiltração em diversas áreas do setor financeiro.
A preocupação é que as facções estejam aproveitando brechas legais e regulatórias para montar negócios com aparência de legalidade. Operações policiais já encontraram ligação entre criminosos e empresas de ônibus, clínicas, fintechs e fundos de investimento, o que dificulta identificar os verdadeiros controladores dessas companhias.
Promotores do Gaeco, como Fábio Bechara e Lincoln Gakiya, confirmam que as facções estão deixando práticas rudimentares para trás e atuando de forma sofisticada no mercado formal.
Um exemplo disso foi revelado na Operação Fim da Linha, que descobriu o PCC operando empresas de transporte público legalmente licitadas em São Paulo. Já no setor imobiliário, o grupo usava fundos de investimento para lavar dinheiro, misturando recursos ilegais a aplicações regulares.
O impacto no setor de combustíveis também é grave. A ausência de fiscalização e regulação efetiva abriu espaço para adulterações, sonegação e infiltração do crime em todas as etapas do processo, do refino à bomba
Para o procurador-geral da República, Paulo Gonet, o avanço das facções gera insegurança jurídica e ameaça direta ao ambiente de negócios. Ele defende a criação do Gaeco Nacional como forma de unificar ações de combate em todo o país.

A Febraban também manifestou preocupação com o uso de fintechs por grupos criminosos e sugeriu a antecipação do prazo de regularização dessas empresas junto ao Banco Central. Segundo a entidade, a concorrência precisa seguir regras de compliance e prevenção à lavagem de dinheiro.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) já se mobilizou e criou uma plataforma de colaboração internacional com 22 países. Ilan Goldfajn, presidente da instituição, defende que o combate ao crime organizado seja feito como ao terrorismo, com foco em cortar o fluxo financeiro. “A estratégia deve ser seguir o dinheiro e cortar o oxigênio do crime”, afirma.