Na última sexta-feira (19), o portal de notícias O Futuro — órgão de imprensa do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) — publicou a matéria Empresários e servidores bolsonaristas tramaram para manter Bolsonaro no poder, assinada por Maria Carolina Trevisan. O texto é uma mistura de ficção policial, espetáculo jurídico e propaganda da repressão. Uma tentativa rasteira de transformar qualquer apoio a Bolsonaro em “tentativa de golpe”. E pior: de pintar a ditadura do STF como salvadora da democracia.
Trevisan afirma que:
“A Polícia Federal identificou ao menos três núcleos de articulação da tentativa de golpe: militar, político e empresarial.”
Sem apresentar uma prova concreta, a autora reproduz passivamente as teses da operação de Alexandre de Moraes e Paulo Gonet — a mesma dupla que, sem voto, comanda o país a golpes de caneta. Segundo ela, bastaria ter participado de uma reunião, enviado mensagem de apoio a Bolsonaro ou frequentado acampamento em frente a quartel para ser um conspirador.
E mais:
“Os investigadores reuniram evidências do núcleo político e empresarial que permitiram mapear a tentativa de golpe…”
“Evidências” são o nome novo para apresentações de PowerPoint, prints de WhatsApp e delator “premiado” sob tortura. Nada é demonstrado. Inclusive, o texto admite que o financiamento dessas ações é um mistério:
“Ainda é impreciso saber quem financiou o golpe, os indícios apontam para um financiamento disperso.”
Ou seja, não há nada! Se participar de eleição, organizar manifestação ou distribuir dinheiro para campanha virou “tentativa de golpe”, então a burguesia brasileira inteira deveria ser enquadrada como golpista e presa. Mesmo assim, Maria Carolina já decreta a culpa e pede a prisão em massa:
“Além do “pessoal do agro”, cujos nomes ainda devem ser revelados, é necessário passar a limpo tanto a estrutura organizacional da articulação bolsonarista, punindo políticos, militares e agitadores do golpe, mas também ir a fundo na identificação dos financiadores.“
Não por terem cometido qualquer crime real, mas por terem se organizado politicamente. Agora, qualquer grupo que apoiou Bolsonaro é automaticamente golpista. Isso é fascismo.
O PCBR hoje apoia a perseguição de bolsonaristas, amanhã apoiará contra a esqeurda como fez de maneira velada contra Dilma Rousseff em 2016. Essa esquerda nada aprendeu com o Mensalão e com a Lava Jato. São correias de transmissão da repressão estatal, um instrumento da burguesia.
A tese absurda de que manifestações populares — como os acampamentos bolsonaristas — já configurariam crime abre precedente perigoso para perseguir a esquerda amanhã. Em meio a derrubada de Dilma Rousseff e da operação que terminou com a prisão de Lula em 2018 para que não fosse eleito, também houve mobilizações e vigílias permanentes, assim como fazem os índios e trabalhares do movimento de luta por terra. Segundo o método de Moraes, Gonet e da articulista do PCBR, esse tipo de mobilização também pode ser entendido como conspiração.
Em 2022, o que se viu foi uma atuação totalmente parcial do Judiciário. É preciso lembrar: durante o segundo turno das eleições de 2022, a Justiça Eleitoral não fez absolutamente nada para conter a ação da PRF que impediu ônibus de eleitores nordestinos de chegarem às urnas. Nenhum juiz pediu para estender o horário de votação. Não houve ação “tempestiva” de Xandão para proteger o voto popular. Mas, agora, tentam vender a ideia de que as eleições foram salvas por ele.
Fato curioso é que, em 2014, mais de 3 milhões de brasileiros, especialmente do Nordeste, foram impedidos de votar por falta de cadastro biométrico. A supressão de um dos direitos mais fundamentais de uma população gigantesca foi pelo próprio Tribunal Eleitoral (TSE), os mesmo que prepararam o caminho para o verdadeiro golpe: a derrubada de Dilma Rousseff em 2016, se arvoram de defensores da democracia.
O maior absurdo que demonstra que a operação de Moraes é uma farsa se trata do “pacote de bondades” aprovado às vésperas da eleição, inclusive com apoio da esquerda. Foram bilhões liberados para criar uma falsa recuperação econômica: aumento do Auxílio Brasil, redução de impostos, subsídios — tudo isso com aval do próprio STF. Isso foi compra de votos, mas não foi golpe. Por quê? Será que era pra favorecer Bolsonaro na disputa presidencial contra Lula? O pacote furou o teto de gastos, uma medida imposta pelo verdadeiro presidente golpista Michel Temer, sem que houvesse qualquer reação da Corte.
A matéria de O Futuro é uma tentativa cínica de justificar a escalada autoritária do STF. Há uma tentativa de consolidar o controle total do processo político, um projeto de ditadura judicial. Querem garantir que só participem do jogo aqueles que aceitam as regras impostas pelo regime golpista. Ao defender a repressão contra “bolsonaristas”, o portal está defendendo eliminar qualquer oposição, inclusive prendendo qualquer um que conteste o regime — seja de direita ou de esquerda. E o partido de Jones Manoel, que aplaude de pé esse autoritarismo.
Ao apoiar essa ofensiva, o PCBR mostra que não é um partido marxista, mas um aparelho da burguesia infiltrado no movimento operário. Não defende a soberania popular, mas a repressão. E ao atacar setores da direita, pavimenta o caminho para esmagar a esquerda. É o mesmo filme, de novo.