O presidente Lula será um candidato forte à reeleição em 2026. E seus indicados terão maioria folgada no Banco Central a partir de janeiro de 2025. Os adversários estão inquietos e fabricam crises.

O que provocou a turbulência no mercado financeiro e na mídia nas semanas recentes? Criou-se uma sensação de “crise”. Os desavisados devem ter pensado que estávamos ou estamos à beira de um abismo. A onda especulativa já arrefeceu, mas vale a pena discutir o que a desencadeou.

Afinal, houve motivos para tal nervosismo nos mercados cambial e financeiro, em especial para a alta do dólar? Creio que sim. Não foram, porém, primordialmente econômicos – e sim políticos. Os resultados econômicos e sociais do governo Lula estão entre bons e razoáveis.

Menciono dois fatores de ordem principalmente política que ajudam a entender a instabilidade recente no sistema financeiro. E que nos autorizam a dizer, acredito, que a “crise” foi em larga medida fabricada.

As eleições de 2026

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante visita às obras do Quarteirão da Educação em Diadema, no bairro Jardim Promissão. / Foto: Ricardo Stuckert/PR

Primeiro fator: nos últimos meses, ficou evidente que Lula pretende disputar e será um candidato forte à reeleição em 2026. A tradicional direita neoliberal, que controla o sistema financeiro e a mídia, não vê isso com bons olhos, para dizer o mínimo.

Vou ser mais claro. Não vamos nos iludir. Boa parte dessa direita – que tem a cara-de-pau de se apresentar como “centro” – nutre ódio a Lula e à centro-esquerda. Senão ódio, desprezo. Senão desprezo, profunda desconfiança e rejeição.

A sucessão no Banco Central

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. / Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Mas há um segundo fator por trás da “crise”. E mais imediato do que 2026. Trata-se da escolha por Lula de quem exercerá a presidência do Banco Central. Até o final do ano, o presidente da República terá de escolher não só o presidente, como também dois novos diretores para o Banco Central.

Consequência? A turma, ou melhor turba da bufunfa, ficou na espreita e, no momento que julgou adequado, tratou de providenciar uma turbulência econômica, com a ajuda prestimosa de Roberto Campos Neto. Para quê? Para tentar intimidar o presidente da República e o ministro da Fazenda.

Espero que seja mesmo apenas tático. De janeiro em diante, o jogo tem de mudar. Evidentemente, ninguém vai dar um cavalo-de-pau numa instituição da complexidade do Banco Central. Mas não pode ser mais do mesmo.

O Banco Central tem funções da maior importância – conduz a política monetária, emite moeda, supervisiona e regula o sistema financeiro, integra e secretaria o Conselho Monetário Nacional, administra as reservas internacionais do país, funciona como emprestador de última instância em períodos de crise financeira sistêmica, entre outras. Não deve, portanto, ser conduzido de forma independente do resto do governo e da política econômica – e alinhado apenas com o lobby financeiro privado.

É importante acertar na escolha do presidente e dos dois novos diretores. O futuro presidente do Banco Central deve ser, na minha modesta opinião, alguém não só com conhecimento e experiência, como também muito próximo do presidente da República. Assim, ficará mais viável estabelecer a indispensável sintonia entre a política monetária e o resto da política econômica.

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Uma versão resumida deste texto foi publicada na revista Carta Capital.

O autor é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015. Publicou pela editora LeYa o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém, segunda edição, 2021.

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Última Atualização: 12/07/2024