O embate público entre Trump e Zelensky é algo sem precedentes. Quais são as suas consequências internacionais? Que lições tirar para países como o Brasil?
Paulo Nogueira Batista Jr, em seu canal no YouTube
O que aconteceu há poucos dias na Casa Branca, o embate entre Trump e seu vice-presidente e Zelensky, da Ucrânia, foi algo sem precedentes.
Eu nunca vi nada parecido na minha vida inteira. Nunca.
O modo pelo qual foi tratado foi não só um desastre para Zelensky, mas também para os europeus que são hoje seus principais aliados.
Aliás, o primeiro-ministro da Inglaterra tinha estado lá poucos dias antes e foi tratado — não digo hostilidade — mas com certo desrespeito também pelo presidente americano diante das câmaras.
Mas o ponto que eu queria frisar nesse breve comentário é que não foi bom para Trump e nem bom para os Estados Unidos.
Por quê?
Porque ficou evidente que o modo de operar do governo americano sob Trump é um modo muito truculento, muito agressivo.
O que isso significa do ponto de vista de países tipo Brasil?
Primeiro, mostra à vista de todos que não se deve nunca se colocar na posição de satélite ou de dependente de outra potência, especialmente do imperialismo americano.
Esse é um ponto fundamental que já devia estar claro há muito tempo, mas que no Brasil, por exemplo, e outros países não foi devidamente absorvido.
Mas tem algo pior para os Estados Unidos. Esse incidente dramático pode levar a uma conclusão de que não vale a pena ser aliado dos Estados Unidos.
Conclusão que está se impondo inclusive aos europeus que, na verdade, vinham se tornando quase satélites dos Estados Unidos.
Paulo Nogueira Batista Jr. é economista e escritor. Foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015. Publicou pela Editora Contracorrente o livro Estilhaços, 2024.