Em Pequim, na China, 14 organizações palestinas participaram de uma reunião histórica mediada pelo governo chinês. Todas as mais importantes estavam presentes: Hamas, Fatá, Jiade Islâmica Palestina, FPLP, FDLP, dentre outras. As decisões da reunião são importantes, sendo a mais impactante a aprovação de um governo de unidade nacional de todas as organizações, como também a aprovação da unidade territorial da Palestina, unificando Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém.
A reunião começou na segunda-feira (22), e já havia sido adiada uma vez. O jornal libanês Al-Akhbar denunciou que o governo da Jordânia, um lacaio do imperialismo no Oriente Médio, pressionou a Autoridade Palestina, ou seja, o Fatá, a não aceitar a proposta dos chineses para as reuniões. No entanto, a pressão sobre a AP é muito grande dada a guerra contra o Estado de “Israel” e também a própria popularidade do Hamas e das outras organizações, que é cada vez maior.
Essa foi a segunda reunião entre Hamas e Fatá na China este ano e, agora, contou com a participação de mais organizações. Ela também representou um avanço na política de unidade nacional, que é defendida pelo Hamas desde o início da guerra atual, em 7 de outubro de 2023. O Fatá, com muitas ligações com o imperialismo, resiste a essa política, mas a realidade o empurra cada vez mais para rachar com a política imperialista de isolar o Hamas e aceitar o governo da unidade nacional.
Em declaração unificada das 14 organizações, anunciaram-se as seguintes decisões:
“As organizações palestinas saúdam a posição da Corte Internacional de Justiça, que confirmou a ilegalidade da presença, ocupação e colonização.
Continuar a acompanhar a implementação dos acordos para acabar com a divisão que ocorreu com a ajuda do Egito, Argélia, China e Rússia.
Compromisso com o estabelecimento de um Estado palestino independente com sua capital em al-Quds [Jerusalém], segundo as resoluções internacionais, especialmente 181 e 2.334, e garantir o direito de retorno.
Afirmamos o direito do povo palestino de resistir à ocupação e encerrá-la segundo as leis internacionais, a Carta da ONU e o direito dos povos à autodeterminação.
Formar um governo de unidade nacional temporário com o consenso das facções palestinas e por decisão do presidente com base na Lei Básica Palestina.
O governo formado exercerá seus poderes e autoridades sobre todos os territórios palestinos, confirmando a unidade da Cisjordânia, al-Quds e a Faixa de Gaza.
Resistir e frustrar tentativas de deslocar nosso povo de sua pátria, especialmente da Faixa de Gaza, Cisjordânia e al-Quds.
Trabalhar para levantar o cerco bárbaro sobre nosso povo na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e entregar ajuda humanitária e médica sem restrição ou condição.”
O Hamas já havia conseguido formar uma frente com quase todas as organizações da luta armada palestina, o que havia sido uma enorme vitória para o movimento de libertação nacional do país. Agora, o Fatá, o antigo grande partido palestino, está prestes a entrar nessa frente que não é propriamente de luta, mas do governo da Palestina. O grande ganho político disso é que o Fatá irá perder a sua principal qualidade para o imperialismo: ser um entreve no avanço da luta pela libertação nacional palestina.
A FPLP, que luta desde a época revolucionária do Fatá, o período dos anos 1960, se pronunciou: “um governo de unidade nacional é necessário, com uma referência política nacional, encarregado de unificar as instituições palestinas, apoiar a resistência do nosso povo, fornecer alívio e reconstrução, e preparar para eleições abrangentes”.
As Forças Armadas sionistas aceitam o acordo do Hamas
No mesmo dia da reunião histórica em Pequim, todo o alto escalão das forças armadas e do aparato de inteligência israelense anunciaram que aceitam o acordo oferecido pelo Hamas para o cessar-fogo, ou seja, anunciam que estão dispostos a se render.
O Ministro da Defesa de “Israel”, Joabe Galante, o chefe de Estado-Maior do exército, Herzi Halevi, o diretor do Mossad, David Barnea, e o chefe do Shin Bet, Ronen Bar, afirmaram ao primeiro-ministro Benjamin Netaniahu que apoiam o acordo, argumentando que o período relativamente curto de seis semanas não permitiria ao Hamas se reagrupar e se rearmar de maneira significativa.
“Estamos cientes das ramificações de segurança, mas este é o momento de priorizar a libertação dos reféns, cujo tempo é limitado”, disseram os quatro ao premiê, segundo um relatório, acrescentando que sua posição leva em conta questões como o controle do chamado Corredor Filadélfia na fronteira Gaza-Egito e o retorno dos habitantes de Gaza.
O que a cúpula militar de “Israel” faz é focar na questão dos prisioneiros para passar uma aparência de vitória. Após quase 10 meses ignorando os prisioneiros e inclusive assassinando vários, agora, as forças armadas parecem se importar com essa questão. O problema é que a situação militar está insustentável e por isso eles estão dispostos a aceitar a proposta oferecida pelo Hamas.
A questão das seis semanas é justamente a brecha dada pelo Hamas para que os sionistas aceitem a proposta. De início, não parecerá uma rendição total. Mas diante das outras cláusulas do acordo, é quase impossível que, após as seis semanas, não haja um cessar-fogo completo. Justamente por isso, Netaniahu não aceita o acordo. O primeiro-ministro de “Israel” tem uma última carta em sua manga, a visita aos EUA, que começou também nesta segunda-feira (22).
A crise do regime sionista chega em seu ápice, a força da resistência palestina também.