No artigo intitulado Terra prometida, terra sem paz (23/7/2024), o colunista Moises Rabinovici afirma que, “sem Biden e sem os democratas na Casa Branca, o projeto da Palestina pode desaparecer, no Oriente Médio sem paz”, em uma claríssima defesa do atual mandatário norte-americano, Joe Biden, da vice-presidente Kamala Harris (postulante à sucessão presidencial), do Partido Democrata e, consequentemente, o núcleo mais poderoso do imperialismo.
Para a defesa da provável candidata democrata, Rabinovici lembra que o franco favorito a vencer as eleições presidenciais, o republicano Donald Trump, empreendeu uma série de gestos em apoio ao sionismo durante sua passagem pela Casa Branca. Uma eventual vitória de Trump, portanto, seria “para alegria de Netanyahu”, disse o jornalista:
“O ex-presidente Donald Trump transferiu a embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém e reconheceu a soberania de Israel sobre as colinas sírias do Golã. Lá, desde 2019, ele ganhou, em gratidão, uma comunidade batizada de Ramat Trump, ou Colina de Trump, numa altitude maior que o prédio Trump Tower, em Nova York. O ex-presidente pode ser eleito neste fim de ano, para alegria de Netanyahu, que tem um discurso previsto para as duas Casas do Congresso, em Washington, nesta quarta-feira (24).”
Se o próprio Trump já criticou as operações militares de “Israel” e, contrariando o senso comum difundido pelo imperialismo, considerou o sionismo derrotado na batalha política e defendeu o fim dos ataques, “não vem ao caso”, como diria o célebre golpista Sérgio Moro. Os governos democratas, por sua vez, resultaram em farsas grotescas como os Acordos de Oslo e os massacres de julho e agosto de 2014 na Faixa de Gaza e, claro, na atual campanha genocida em andamento.
A cifra de mortes desde o 7 de Outubro pode ultrapassar a inacreditável marca dos 150 mil palestinos, entre assassinados pela ação militar direta e indireta, devido ao bloqueio total imposto pelas forças sionistas, que impede a entrada de produtos essenciais, como alimentos e remédios. Para Rabinovici, no entanto, nada isso tampouco “vem ao caso”.
Alguém em pleno gozo das faculdades mentais, entretanto, deveria questionar se existe qualquer possibilidade de impedir o desaparecimento do “projeto Palestina”, dado que os crimes supracitados são a garantia de sua existência. Um paradoxo que só pode fazer sentido pela necessidade urgente e quase impossível de apresentar um único ângulo positivo para mobilizar apoio à candidata democrata. “Positivo” do ponto de vista humano, naturalmente, porque, para o imperialismo, sobram motivos para apoiar a ex-promotora.
É evidente que, nem por acaso, Trump faria qualquer coisa para benefício do povo palestino. É um representante da burguesia norte-americana e, mesmo tendo contradições com o imperialismo, apresentando-se uma oportunidade vantajosa, atacará os palestinos sem a menor consideração ou vacilação. O que impressiona na cara de pau de Rabinovici é apresentar os democratas como uma opção benigna ou como um suposto “mal menor”, quando eles são justamente o oposto: o que existe de pior, de mais mafioso e monstruoso na política norte-americana.
O que o articulista chama de “projeto Palestina”, a saber, um Estado palestino soberano e independente, não será concedido como uma graça divina, mas através da luta empreendida pela Resistência, que, liderada pelo Hamas, vem obtendo resultados políticos e militares impressionantes. Esse trabalho, sim, se mantido, tem a tendência a conquistar não apenas a liberdade para milhares de palestinos, que vivem o inferno no cárcere israelense submetidos a toda sorte de abusos e torturas, mas a todo o povo árabe.
Uma pessoa honestamente interessada na criação do Estado palestino tem necessariamente que apoiar o levante iniciado em 7 de Outubro, denunciar os crimes horrorosos cometidos por “Israel” em conluio com os governos democratas. E defender a verdadeira solução que ponha fim ao martírio do povo palestino: que toda a estrutura política criada para atender a ditadura dos monopólios exploda!
Qualquer outra coisa que não passe pela extinção do Estado de “Israel” e a constituição de um único Estado palestino democrático e plurinacional é, na melhor das hipóteses, inócua. Na versão apresentada pelo colunista da Folha é um tanto pior: trata-se de uma mera chantagem para que os martirizados apoiem os seus opressores.