A campanha contra o “discurso de ódio”, fabricada diretamente pelos órgãos de inteligência do imperialismo mundial, encontra eco dentro da esquerda, que, com isso, revela sua completa incapacidade de se tornar, de fato, um perigo para o capitalismo e seus representantes.

É o caso do PCdoB que, em texto publicado  recentemente na internet, afirma em seu título: “O ódio como estratégia política: a reconfiguração da mobilização no Brasil” e que “em vez de se apoiar em projetos políticos concretos, a extrema-direita tem canalizado ressentimentos e frustrações para consolidar adesões e formar identidades políticas”.

Antes de entrar no mérito do restante do texto, é preciso destacar que as pessoas que resolvem se organizar na esquerda o fazem, muitas vezes, por puro ódio — ou raiva resultante de frustração e ressentimento. É uma reação natural fazer alguma coisa contra o regime político diante da situação a que o capitalismo levou os países. O ódio é um elemento fundamental da política revolucionária.

Nesse sentido, não existe, de fato, um “discurso de ódio”. existem opiniões que, positivas ou negativas, conservadoras ou progressistas, cabem ao seu destinatário avaliar. Qualquer tutela sobre essa questão é censura pura e simples.

O texto começa com a seguinte colocação: “Nos últimos anos, a política brasileira tem sido marcada por um fenômeno inquietante: a utilização do ódio como ferramenta de mobilização e articulação”. Não nos últimos anos, mas desde sempre; não no Brasil, como no mundo todo. O ódio é uma ferramenta de mobilização e articulação. Afinal, o que estaria mobilizando os palestinos para lutar contra os sionistas na Faixa de Gaza, senão o ódio — entre outros sentimentos?

Revelando outro fracasso da esquerda, o autor do texto afirma: “As redes sociais desempenham um papel essencial nesse processo, permitindo que líderes políticos e influenciadores moldem a percepção pública, oferecendo explicações reducionistas para problemas estruturais e canalizando frustrações para um inimigo em comum”.

Uma explicação pode ser feita de maneira completa ou mais simples. Chamar uma explicação de “reducionista” não quer dizer nada. Na realidade, uma explicação curta de um problema é, em geral, um método tradicional da esquerda: “Diretas já”, “O petróleo é nosso”, “Greve geral” são palavras de ordem simples que servem justamente para mobilizar rapidamente os trabalhadores.

Segundo o autor: “Essa lógica de mobilização se sustenta em uma retórica que transfere a culpa do insucesso individual para um outro — o governo, a esquerda, as pautas feministas ou progressistas. Frases como ‘Se você não é rico, a culpa é do governo’ ou ‘Se sua família enfrenta dificuldades, a culpa é da esquerda e sua ideologia de gênero’ tornam-se explicações sedutoras e de fácil assimilação. Esse tipo de narrativa simplifica a realidade e evita análises aprofundadas sobre a estrutura social”.

A verdade é que, se você está passando fome, isso é, sim, culpa do governo — que, por sua vez, está nas mãos da burguesia. E todas as demais mazelas sociais são, de fato, culpa do governo, que, em vez de engordar banqueiros, deveria investir nos direitos elementares do povo.

Não se trata de uma “narrativa simplificada”, mas de uma realidade que a esquerda abandonou de denunciar — e que a direita, de forma puramente demagógica, resolveu denunciar pelos meios que julgou necessários e com as justificativas que acredita serem reais. A colocação do texto do PCdoB é, na prática, um decreto de falência diante da direita brasileira. Chega a ser vergonhoso.

A cantilena do FBI continua: “As redes sociais desempenham um papel crucial na disseminação da desinformação, favorecendo a ampliação de discursos extremistas”. O curioso, no entanto, é que a Rede Globo — golpista de toda hora — nunca é responsabilizada por nada.

Por outro lado, está evidente a tentativa de censurar a internet, para que sejam proibidas as “mentiras” e permitidas apenas as “verdades”. Resta saber quem irá decidir o que é verdade ou mentira: os trabalhadores ou a burguesia, que, coincidentemente, é dona de toda a grande imprensa.

Boa parte do texto do PCdoB, além do próprio decreto de falência, é uma choradeira diante do avanço da direita. Como a direita não avançaria, se a esquerda abandonou a mobilização popular e entregou a luta política ao senhor Alexandre de Moraes e aos meios tradicionais de repressão policial?

Nestes textos, é sempre bom observar as conclusões políticas. Vejamos:

A verdadeira alternativa reside na elevação da consciência política, no fortalecimento dos sindicatos e partidos políticos e na apresentação de uma concepção de democracia mais avançada e inclusiva. A defesa da democracia liberal, embora essencial, não é suficiente. É necessário conquistar corações e mentes, oferecendo um projeto coletivo que inspire e mobilize a sociedade. Somente por meio de um compromisso genuíno com a transformação social e a reconstrução do tecido democrático será possível enfrentar os desafios impostos pelo ódio como política e construir um futuro mais justo e igualitário”.

A “democracia liberal” citada no trecho acima significa a defesa do Supremo Tribunal Federal (STF) — a corte que homologou todos os golpes que o Brasil sofreu. O restante do texto é uma declaração de intenções com aspirações eleitorais, que, na prática, o que se defende é a restrição à opinião alheia (a tal “fake news”), jogando a culpa pelo ascenso da direita nas igrejas, em movimentos como o MBL, na “internet” — reconhecendo, por fim, a própria falência.

A democracia liberal de Alexandre de Moraes, com sua censura, prisões, etc., não elevará a consciência de ninguém. Nada disso conquistará “corações e mentes”, tampouco mobilizará a sociedade — e, certamente, não derrotará a direita.

 

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Last Update: 11/05/2025