A Comissão de Legislação Participativa (CLP) da Câmara dos Deputados promoveu audiência pública, nesta quinta-feira (28/8), com o tema: Medidas diplomáticas e comerciais pelo Brasil em relação à Palestina. O deputado João Daniel (PT-SE) foi o requerente do debate que contou com especialistas, sociedade civil e parlamentares. A intenção do parlamentar foi a “construção coletiva de alternativas, em defesa dos direitos humanos e contra as agressões de Israel ao povo palestino”.

Palestina livre

A presidenta da mesa, deputada federal Luizianne Lins (PT-CE), pontuou para o escalonamento desse episódio brutal. “Infelizmente essa situação não é uma coisa nova e agora tomou os piores requintes de crueldade já vistos”. Diante disso, a petista endossou a importância de um debate neste momento. “Temos representantes das mais diversas instituições que representam a comunidade palestina. Por isso mesmo é que a gente pede o apoio de todo o Brasil para essa luta, que é a luta por dignidade e para que a gente abra um corredor humanitário em direção a Gaza”.

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Também fortaleceu esse discurso o deputado federal Luiz Couto (PT-PB). “A realização dessa audiência é de grande importância para discutir ações que o Brasil pode adotar, diante da crise humanitária que é esse genocídio”.

600 dias de genocídio

Já são milhares de palestinos mortos, entre as vítimas, a maioria crianças e mulheres. O deputado federal Padre João (PT-MG) foi enfático em seu pronunciamento ao lembrar o longo período desse massacre. “São quase dois anos de luta contra esse genocídio que está em curso. Temos que avançar em cortar relações com o Estado de Israel que não respeita ninguém! Não respeita a ONU e segue cometendo inúmeros crimes de guerra”.

Diante desse triste episódio que se arrasta, o deputado federal Vicentinho (PT-SP) disse: “O resultado desse genocídio ficará marcado, entre tantas dores, na história do mundo. Por isso o Brasil deve fortalecer o intercâmbio entre a nossa comunidade palestina, além da solidariedade. Palestina livre!”

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Israel ocupa ilegalmente

A relatora especial da ONU para os territórios palestinos ocupados, Francesca Albanese, denunciou a ocupação ilegal de Israel em Gaza e na Cisjordânia, previstas em leis internacionais, frisando a necessidade da retirada das tropas. Francesca também lembrou o importante posicionamento do Presidente brasileiro. “Lula foi um dos primeiros a denominar como genocídio e o fez desde o início”.

Marco na história mundial

Para Vladimir Safatle, professor do Departamento de Filosofia da USP, o caso pode ser classificado como experimento social. “Pela primeira vez na história estamos diante de um genocídio que é acompanhado, televisionado diariamente. Seja por meio das redes sociais ou dos jornais”.  Vladimir acredita que Gaza pode se tornar o primeiro episódio de um mundo sem limites. “Gaza será o capítulo número um em sociedades capitalistas globais que vão naturalizar esse tipo de violência”.

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O presidente do Instituto Brasil-Palestina (IBRASPAL), Ahmed Shehada, indagou sobre o momento decisivo. “Precisamos escolher se estaremos do lado da justiça, da dignidade humana ou cruzaremos os braços diante da crueldade diante do povo palestino e o que acontece em Gaza”.

Destruição sistemática de palestinos

Representando a Federação Árabe-Palestina (FEPAL), Maynara Nafe pediu aos presentes para imaginarem e narrou o que se tornou a realidade no território de Gaza: “Imaginem uma fila de homens, mulheres e crianças esperando por água e comida. Enfraquecidos, sedentos e famintos, tentando sobreviver com o mínimo. De repente, essa fila vira alvo de tiros e corpos tombam. Um verdadeiro cenário de fuzilamento. A chamada ajuda humanitária se converteu em estratégia de fuzilamento”.

Com isso, 400 pontos de ajuda humanitária na Palestina, organizados pelas Nações Unidas, foram reduzidos para 4 controlados militarmente por Israel.

Sionismo

O jornalista Breno Altman acredita que a Palestina se tornou a grande régua moral do mundo. Fundador do Portal Opera Mundi, Breno fez um resgate histórico ao relembrar como o isolamento internacional foi fundamental para que a África do Sul acabasse com o apartheid e se tornasse a democracia que é hoje.

“É fundamental que a comunidade internacional reaja, aqui e agora. O Brasil tem um papel importante nisso, por ter um papel de liderança, principalmente no Sul global. Foi o único que comparou o regime sionista ao regime nazista, alegando ser inconcebível que o regime sionista aplicasse aos palestinos o mesmo que os nazistas aplicaram aos judeus”, exclamou o jornalista.

Já Nuredin Allan, representante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) frisou: “o marcador sionismo-judaísmo é importante porque o sionismo se apropria da memória do Holocausto e do judaísmo como cortina de fumaça para justificar atos ideológicos. A questão Israel-Palestina nada tem a ver com religião, mas sim, com política, geopolítica e economia. Ainda assim, qualquer crítica ao Estado de Israel é tratada como antissemitismo. É fácil odiar o nazismo, mas não se permite criticar o sionismo”.

Nuredin também chamou atenção para os costumeiros crimes de guerra cometidos por Israel. “A Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento criado após a Segunda Guerra Mundial como marco civilizatório diante daquela tragédia. A Declaração tem 30 artigos. Na minha compreensão, o Estado de Israel viola todos os 30”, disse.

Rompimento das relações

Ao final da audiência pública, a deputada Erika Kokay (PT-DF) assumiu a presidência da mesa e defendeu: “Houve um posicionamento bastante contundente, de todas as pessoas que aqui participaram, no sentido de rompermos todas as relações comerciais e diplomáticas com o Estado de Israel. Romper estas relações em nome da defesa do povo palestino”.

Também estiveram presentes os seguintes representantes e autoridades: Embaixador Clélio Nivaldo Crippa Filho, diretor do Departamento de Oriente Médio (DOMA)/MRE; Shajar Goldwaser, representante do Vozes Judaicas por Libertação; Andressa Soares, representante do movimento “Boycott, Divestment and Sanctions” (BDS) Brasil; Badra El Cheikh, representante do Instituto Palestino de Diplomacia Pública; Leandro Lanfredi de Andrade, representante da Federação Única e Nacional dos Petroleiros (FUP/FNP); Mohammed El-Kadri, presidente do Fórum Latino-Palestino; Yasser Yassine, delegado da Polícia Civil de Goiás, de origem palestina; Berenice Bento, doutora em sociologia e professora do Departamento de Sociologia da UnB; Arlene Clemesha, professora, historiadora e pesquisadora sobre a questão judaica e a história da Palestina moderna; Heitor Carvalho Júnior, advogado da brasileira Assmaa Abu Aljedian (presa em Gaza); e  Caio Barroso, influencer e advogado especialista em Direitos Humanos.

Do PT Câmara

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Last Update: 28/08/2025