Parlamentares da Bancada do PT apontaram, durante audiência pública na Câmara dos Deputados, diversas contradições do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na defesa da manutenção da atual taxa de juros em 10,5%, a 2ª maior do planeta em juros reais (descontada a inflação). Segundo os petistas, o bom momento econômico e de inflação controlada que o Brasil atravessa deveriam conduzir justamente para a queda dos juros, interrompida pela gestão Campos Neto desde junho.
Em relação à resistência do BC em reduzir a taxa de juros, Lindbergh Farias (PT-RJ) refutou argumentos utilizados por Campos Neto para defender a interrupção da queda da taxa de juros, reconhecida por ele mesmo como “alta e prejudicial à economia”. O petista lembrou que a atitude de Roberto Campos Neto no comando do BC durante o governo passado – após ser indicado pelo ex-presidente Bolsonaro – é muito diferente da adotada na atual gestão de Lula.
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“Na sua gestão como ‘presidente autônomo’ do BC, em 2021 a inflação não estava dentro da meta e se encerrou acima de 10%, e também esteve fora da meta em 2022 (5,79%). Nesse período o senhor errou muito. Em maio de 2021, a inflação era de 8,06% e a taxa Selic 3,5%, juros reais negativos de – 4,35%, e foi assim até julho de 2022 (quando começou a subir). O senhor teve uma política monetária frouxa, que levou a inflação às alturas, quando em abril chegou a 12%. Quando entra Lula, o senhor vai para o outro lado, aumentando a taxa de juros como não houve no governo Bolsonaro”, comparou o deputado.
Petistas colocam dedo na ferida e mostram que Roberto Campos Neto não tem imparcialidade para seguir à frente do BC e conduzindo a política monetária do país.@lindberghfarias @deppauloguedes @merlongsolano @bohngass #PTnaCâmara #JurosAltos #BancoCentral #Economia #CamposNeto… pic.twitter.com/3Q3KVRhC1C
— PT na Câmara (@PTnaCamara) August 13, 2024
O petista ressaltou ainda que mesmo com a inflação controlada, projetada para 4,2% neste ano, o Banco Central interrompeu a queda da taxa Selic que chegou a 13,75% e, agora, estacionou em 10,5%. O petista lembrou ainda que outros argumentos usados pelo presidente do BC para manter a atual taxa de juro, de que existe risco de descontrole fiscal por conta dos gastos do governo e de aumento da inflação, são totalmente falsos.
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“Falar de incertezas fiscais (para justificar o juro alto) é uma maldade. Todo mundo sabe que eu fui contra detalhes do arcabouço fiscal, mas é fato que o governo Lula está saindo de um déficit de 2,3% do PIB para entregar um déficit zero ou de –0,25%. É um esforço fiscal gigantesco. Aí vem os senhores (do Banco Central) e reforçam essa falácia (de um suposto descontrole fiscal”, criticou Lindbergh Farias.
Contradições de Campos Neto
Ao inquirir o presidente do BC, o deputado Paulo Guedes (PT-MG) lembrou que o próprio presidente do Banco Central reconheceu em seu discurso inicial que a economia brasileira tem crescido acima do esperado e que a taxa de desemprego tem caído de forma surpreendente. Porém, o petista contestou outro argumento utilizado por Campos Neto para manutenção da atual Taxa Selic, de que o baixo crescimento de economias mundiais como China e Estados Unidos poderia impactar o bom momento econômico do Brasil.
“O senhor fala de dados das economias mundiais, como o da China, que teve o menor crescimento de sua economia nesse ano. No entanto, o que fez a China? Baixou a taxa de juros, da mesma forma como fez a Inglaterra e outros países da Europa diante do baixo crescimento. Tudo isso para incentivar a economia”, observou o parlamentar.
Já o deputado Merlong Solano (PT-PI) disse ainda a Campos Neto que a taxa de juros real determinada pelo BC atualmente prejudica a economia brasileira.
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“É fato que o BC pratica uma taxa de juros desproporcional. Só a taxa de juro real (descontada a inflação) já é maior do que a taxa total da maioria dos países do mundo. Isso inibe o crescimento da economia brasileira, a geração de empregos e acarreta custos para a dívida pública que consome 7% do nosso PIB no pagamento de juros”, apontou.
O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) também questionou o presidente do Banco Central sobre a falta de ação da instituição em conter a alta do dólar há algumas semanas, que subiu após um ataque especulativo. O petista explicou que a subida do dólar pode impactar no aumento da inflação, justamente uma das justificativas do BC para manter a atual taxa Selic.
O petista questionou ainda Campos Neto sobre a contradição do BC se basear no Boletim Focus (projeções do mercado sobre a atividade econômica, câmbio e inflação futura) para tomada de decisões sobre a taxa de juros.
“O Ministério Público de Contas (do Tribunal de Contas da União) vem investigando o Boletim Focus. É aquela coisa, quem determina a expectativa do mercado (sobre o futuro da economia), é o próprio mercado. E isso vira referência para a decisão do próprio Banco Central. Não é uma análise do BC ou de um órgão da economia, mas a expectativa de agentes do mercado financeiro sobre o que ganhar ou perder com as decisões do BC. É uma retroalimentação”, acusou o petista.
Segundo o deputado Bohn Gass (PT-RS), a atuação de Campos Neto no Banco Central não pode ser apontada como técnica e desvinculada do lado político.
“Assim como o senhor é um técnico, também é um político por excelência porque foi indicado pelo ex-presidente Bolsonaro. Eu votei contra a autonomia do Banco Central porque o senhor, por exemplo, foi indicado para ficar por dois anos no governo Bolsonaro e vai ficar por dois anos no governo Lula (no comando do BC), quando o presidente Lula, que foi eleito pelo povo é que deveria ter colocado alguém na instituição com status de ministro”, defendeu.
Mercado financeiro
O deputado Lindbergh Farias lembrou durante a reunião o interesse de Campos Neto em ouvir a opinião do mercado financeiro. Ele citou, por exemplo, artigo divulgado pelo ex-economista chefe do Credit Suisse Nelson Oliveira, questionando o fato de Campos Neto ter realizado, em 2022, 250 reuniões com instituições privadas e bancos. O petista também mencionou vários outros fatos que demonstram a falta de isenção de Campos Neto para presidir o BC.
“Não existe isenção quando um presidente do BC desenvolve um agregador de pesquisa para a campanha de Bolsonaro [em 2022] ou de ir votar com a camisa da seleção brasileira [símbolo adotado por bolsonaristas]. Não existe [isenção de] um presidente do BC fazer um convescote com Tarcísio de Freitas [governador bolsonarista de SP] e sair dizendo que este o convidou para ser ministro [caso venha a se eleger presidente da República]. Isso é muito grave e abala a credibilidade do Banco Central”, disse.
Do PT Câmara