Parlamentares brasileiros correm contra o tempo para barrar tarifa de Trump com missão aos EUA

Uma comitiva do Congresso Nacional planeja visitar os Estados Unidos para discutir diretamente com parlamentares norte-americanos a nova tarifa de 50% que começará a ser aplicada a produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A missão será liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, e deve contar com a presença de outros parlamentares e representantes de setores econômicos afetados.

A informação foi divulgada pela CNN Brasil, que detalhou as articulações para tentar antecipar a viagem ainda para o mês de julho. O objetivo do grupo é reforçar o posicionamento brasileiro contra a medida antes de sua entrada em vigor. Atualmente, a missão está prevista para setembro, mas há um esforço para viabilizar uma “missão prévia” ainda este mês.

Viagem enfrenta obstáculos institucionais nos dois países

Apesar da urgência, há entraves que dificultam a antecipação da comitiva. No Brasil, o recesso parlamentar começa em 18 de julho e se estende até o dia 31. Nos Estados Unidos, o Congresso entra no chamado State Work Period entre 4 de agosto e 1º de setembro, quando os legisladores retornam aos seus estados e não permanecem em Washington, o que inviabiliza reuniões no Capitólio durante esse período.

A Comissão de Relações Exteriores do Senado incluiu a missão na pauta de duas reuniões agendadas para esta semana. A primeira, marcada para terça-feira (15), reunirá representantes dos ministérios da Agricultura e Pecuária (Mapa) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), além de integrantes da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O objetivo é alinhar a atuação institucional com os setores mais atingidos pela nova política tarifária dos EUA. Na quinta-feira (17), Nelsinho Trad terá uma reunião privada com Gabriel Escobar, encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA em Brasília. De acordo com a CNN, foi o próprio diplomata quem propôs a missão parlamentar ainda em março, como forma de fomentar o diálogo direto entre os dois países.

Missão conta com apoio do Executivo

O Palácio do Planalto já havia dado sinal verde à proposta antes mesmo do anúncio oficial da tarifa. O vice-presidente e ministro do Mdic, Geraldo Alckmin, manifestou apoio à estratégia da diplomacia parlamentar como ferramenta complementar à atuação do governo federal nas negociações com os Estados Unidos.

A Embaixada do Brasil em Washington passou a colaborar com a preparação logística e institucional da missão nos últimos dias. O foco é garantir que a delegação tenha acesso direto a parlamentares norte-americanos com influência sobre temas comerciais.

Estão confirmados na comitiva, até o momento, os deputados Nelsinho Trad e Filipe Barros (PL-PR), presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara. Ainda serão definidos outros dois integrantes — um senador e um deputado — pelas lideranças do Congresso Nacional.

Setores econômicos pressionam por reação rápida

A nova tarifa, aprovada pelo governo do presidente Donald Trump, afeta diretamente exportações brasileiras em segmentos como agricultura, alimentos processados, papel e celulose. A medida faz parte de um pacote mais amplo que eleva encargos sobre importações de países que mantêm superávit na balança comercial com os Estados Unidos.

Representantes do setor produtivo veem a missão como uma oportunidade para argumentar contra a taxação com base em dados técnicos, impacto econômico e compromissos já firmados no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A reunião da próxima terça-feira (15), com representantes do Mapa, Mdic, CNA e CNI, será voltada à construção de uma pauta única e objetiva a ser apresentada nos encontros em Washington. A expectativa é de que a missão inclua reuniões com comitês do Congresso americano que tratam de comércio exterior, agricultura e indústria.

Diplomacia parlamentar como recurso estratégico

A criação da comitiva parlamentar para negociar com o Legislativo dos EUA insere-se na estratégia do governo brasileiro de adotar abordagens múltiplas frente ao novo contexto comercial. Paralelamente à atuação diplomática conduzida pelo Itamaraty, o país aposta no contato direto entre parlamentares como forma de ampliar o alcance político das reivindicações.

O envolvimento de líderes legislativos nos dois países pode favorecer a interlocução em um momento marcado por tensões comerciais. A expectativa é de que a comitiva apresente argumentos relacionados ao impacto da tarifa sobre o emprego e a produção no Brasil, além de potenciais prejuízos para a própria economia norte-americana em setores que dependem de insumos brasileiros.

Embora ainda não haja definição sobre a data da viagem, a possibilidade de uma missão preliminar antes de agosto é considerada prioritária. A depender da articulação entre os gabinetes, a agenda poderá incluir reuniões virtuais preparatórias e visitas presenciais segmentadas, aproveitando brechas no calendário legislativo.

Tarifa de 50% intensifica debate comercial entre Brasil e EUA

A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros foi anunciada como parte da política de revisão fiscal do segundo mandato de Donald Trump. O governo norte-americano justificou a medida como ação para equilibrar fluxos comerciais e proteger setores internos.

O Brasil está entre os países que mantêm superávit comercial com os Estados Unidos, o que colocou o país na lista de nações sujeitas às novas regras. O impacto direto da medida ainda está sendo avaliado por economistas e representantes do setor exportador.

Enquanto isso, a comitiva parlamentar brasileira acelera os preparativos para a missão nos EUA, considerada uma das principais iniciativas de reação institucional às mudanças tarifárias previstas para o segundo semestre.

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 16/07/2025