O percussionista dos Beatles, que completa 84 anos de vida hoje, é frequentemente considerado o “pior” do quarteto. Segundo muitos, ele seria tecnicamente medíocre, um mau cantor, não compunha músicas e teria alcançado o banquinho da bateria da maior banda de rock de todos os tempos por “sorte”.
No entanto, nada disso é verdade. Ringo Starr é um mestre em seu ofício, com tanto mérito quanto qualquer outro membro de seu conjunto. E para homenageá-lo no dia em que ele faz aniversário, comento aqui a linha de bateria que ele mesmo disse ser sua preferida.
A canção Rain não é uma das mais conhecidas dos fab four. Ela não foi incluída em nenhum álbum dos Beatles oficial, era um single, lado B de Paperback Writer, que alcançou o topo das paradas. A linha é repleta de viradas, embora sua levada seja simples e direta. O que chama atenção é que durante a música inteira, ele quase não repete nenhuma virada de bateria, sempre introduzindo uma informação nova na batida musical.
O ponto culminante, na minha opinião, é no meio da canção, após o segundo refrão, quando param as guitarras e vozes e temos um incrível dueto de baixo com a bateria, em que ambos executam o mesmo padrão rítmico e nos conduzem para a próxima sessão da música.
Para provar a grande capacidade técnica de Ringo, vale mencionar que a gravação real de Rain era bem mais rápida do que a versão final da música. A versão final foi desacelerada para dar um efeito um tanto lisérgico na voz de John, técnica de estúdio muito usada pelos Beatles. Ou seja, Ringo gravou essa linha de bateria repleta de viradas num andamento bem superior ao que se costuma escutar.
Há muitas outras linhas de baterias gravadas por Ringo que mereceriam memória. O que seria de Strawberry Fields Forever sem as viradas de Ringo que dialogam com a voz da música a todo momento? Em Ticket to ride, Ringo criou uma levada totalmente nova para encaixar bem com o arpejo tercinado das guitarras. A memorável levada de Come Together é responsável por tornar essa canção uma das mais memoráveis da fase final dos Beatles, tanto que é impossível tocá-la de qualquer forma diferente.
Aconselho aos detratores de Ringo a ouvirem com calma as canções dos Beatles que eles acham que conhecem para se surpreenderem com a obra-prima que Ringo está criando ali no fundo enquanto os outros prestam atenção na letra, harmonia ou nos solos de guitarra.