Felizes anos novos, por Eduardo Ramos
Este artigo é um texto extremamente pessoal, confessa o autor já na primeira frase. Mas sou daqueles que acredita que é a partir do pessoal que tocamos a muitos, quando temos o privilégio de “ser espelhos” para todos os que comungam daqueles pensamentos/sentimentos expressos. E, definitivamente, principalmente entre os de minha geração, penso ser o caso desse artigo/reflexão.
Sem fanatismos ou exageros, volta e meia sinto nostalgias diversas do tempo em que vivia no Brasil me trazia cargas de perplexidade, indignação, tristezas, mas nada jamais comparável a essa sensação de estar num hospício, onde as distopias se cristalizaram e parecem se cristalizar mais a cada dia, o país fraturado, tão tragicamente fraturado que, aos mais jovens deve parecer “que sempre foi assim”, essa barbárie, essa selvageria, nossa “terras brasilis”.
Pouco antes de escrever esse artigo, ao som inigualável de “The Dark Side Of The Moon”, Pink Floyd, assisti pela TV ao show de Caetano e Betânia, no Rio. Impossível não me remeter aos anos da infância e adolescência, os festivais da Record, o país lutando por sua liberdade nos anos 70 e 80, a arte fluindo como um rio refrescante, na música, no cinema, no teatro, na literatura, e no ABC paulista aquele operário barbudo de língua presa liderando as maiores greves da história do nosso país.
E em 2002, o “milagre”, Lula vence as eleições! No segundo mandato, vencidas as hostes da direita radical, mídia, forças armadas, etc., um Lula respeitado e admirado EM E POR TODO O MUNDO, LITERALMENTE, coloca o Brasil em seu auge no quesito imagem exterior, admiração e respeito de todo o planeta.
Veio a raiz, a serpente-mãe de todos os nossos pesadelos, a famigerada Lava-Jato e a podridão da Globo, Veja, Folha, Estadão, etc., obscena podridão, manipulando nossa classe média, elevando Moro a herói, e na sua esteira Dallagnol e os procuradores de Curitiba.
Nas ruas, Chico Buarque é cercado por três filhinhos de milionários, a cara, o rosto de nossas elites, e é chamado de “merda”. Alguns eventos são tão absurdamente inacreditáveis, parecendo ficção e não realidade, que se tornam exemplares e elucidativos de um tempo.
Toco nessas feridas, PORQUE NECESSÁRIO!, porque houve um tempo, décadas, em que éramos razoavelmente “normais”, chego a sentir saudade dos nossos folclóricos corruptos dos anos 70, 80, 90, não havia o grau de CINISMO DESPUDORADO que vemos hoje, não precisávamos de um “Xandão” para garantir nossa democracia.
Considerem todos os parágrafos anteriores um preâmbulo, repito, NECESSÁRIO! Mas não era esse o objetivo central desse texto, e sim, desejar a todos nós, os lúcidos, os inconformados, os nostálgicos de um tempo em que éramos minimamente civilizados, não exibíamos essas fraturas sociais expostas e tão sofridas, enfim, desejar a todos nós um 2025 com CORAGEM.
Um Feliz Ano Novo, especialmente a todos os que, por conta de nostalgias ou não, pouco importa, sintam-se inconformados com esse Hospício que nos tornamos, a torpeza, a violência assassina de parte de nossas polícias, a absolvição covarde e pusilânime do militares que assassinaram um músico no Rio num domingo ao meio-dia com mais de duzentos tiros.
Seja essa coragem o nosso lema no ano que hoje se inicia!
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