do Brasil de Fato

Para encarar ameaças de Trump com menos seriedade

por Rodrigo Durão Coelho

Um dos principais temas do noticiário internacional do ano que começa será a volta de Donald Trump à Casa Branca. Mesmo antes de assumir um novo termo à frente do governo dos EUA, ele vem causando polêmicas com ameaças diversas: desde “resolver” a guerra da Ucrânia em 24h, até deportar em massa milhões de migrantes e confiscar o canal do Panamá.

Uma de suas ameaças principais é sobretaxar produtos de outros países, em tese, para beneficar a produção estadunidense. Punir com sanções países que deixem de usar o dólar para transações comerciais é outra variante desta ameaça.

Para o historiador indiano Vijay Prashad, um dos mais relevantes marxistas da atualidade, apesar de ressaltar que o novo governo dos EUA deve ser mesmo má notícia para a maioria das nações, as ameaças do bilionário não deveriam ser levadas tão a sério.

“A esta altura, 70% dos países em desenvolvimento no mundo sofrem sanções estadunidenses. O que eles vão fazer? Sancionar 100% deles? Isso isolaria os EUA. Então, acho que devemos encarar algumas dessas ameaças do Sr. Trump com menos seriedade”, disse Prashad.

O pensador indiano é o último convidado do ano do BdF Entrevista. Na conversa, ele revisa alguns dos principais assuntos que foram destaque em 2024 no noticiário internacional, como as eleições na Venezuela e nos EUA, o avanço da extrema direita, guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza, além de mudanças climáticas e a inteligência artificial.

Assista ao vídeo com a entrevista na íntegra e leia abaixo alguns dos principais trechos:

Brasil de Fato: Gostaria de repassar com você alguns dos acontecimentos mais importantes do ano, que ganharam o noticiário internacional, começando pela Venezuela. Tivemos a eleição, cujo resultado foi contestado pela oposição e por países estrangeiros, incluindo os EUA e a União Europeia. O que você achou?

Vijay Prashad: A primeira coisa que eu diria é que existem países europeus em situação de quase guerra ou de guerra e é muito difícil para eles realizar uma eleição. A imensa campanha de sanções contra a Venezuela é, na prática, uma guerra.

Você acha que devemos encarar com seriedade a ideia de abandonar o dólar e usar outras moedas em transações entre países do Brics?

Olha, eu não sou dos que acreditam que a desdolarização é algo fácil, eu acho que é muito difícil. É difícil pelos seguintes motivos. Para que uma moeda, uma grande moeda, se torne uma moeda global para reservas, comércio internacional etc, o país de onde vem essa moeda é obrigado a abrir mão do controle de seu capital. Ou seja, não pode haver controle de capital.

O que você acha das ameaças de Donald Trump contra quem desdolarizar suas transações externas?

Trump fez muitas declarações recentemente. “Tarifa” é uma das palavras preferidas dele. Ele diz que vai sancionar países que se recusarem a usar o dólar etc. Não sei quantas dessas ameaças são verdadeiras: Sanções de 100% para certos países. Isso vai ser prejudicial para os EUA, como disse Claudia Sheinbaum, presidenta do México.

Edição: Lucas Estanislau

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Last Update: 01/01/2025