Vestindo a patética fantasia do mandatário bufão de um império em decadência, Donald Trump avisa que não pretende ampliar o prazo, estipulado em 1º de agosto, para a entrada em vigor da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Se fosse um presidente minimamente sério, não proporia tal medida, arbitrária do ponto de vista comercial e absurda do ponto de vista político e diplomático.

Do alto de sua arrogância de bilionário mimado, Trump age para subjugar países, manipular vidas e afrontar soberanias, passando por cima de tratados e organismos internacionais, tal qual certamente devia estar acostumado a fazer com seus subordinados e concorrentes do mundo corporativo.

Olhou o Brasil e, atuando em favor de interesses pessoais seus e dos achacadores que o apoiam, imaginou que poderia “deitar e rolar” sobre o país que ele deve enxergar como uma “República de Bananas”.

Deixou isso claro com o tom impositivo da mensagem publicada no início do mês, na qual avisou da nova tarifa, usando como argumentos para justificá-la o que considera uma “caça às bruxas” contra o golpista Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados; o que classificou como “ataques contínuos” às empresas digitais estadunidenses por parte do Judiciário brasileiro, bem como a suposta necessidade de reequilibrar a balança comercial entre os dois países que, segundo ele, seria deficitária para os EUA.

As manobras chantagistas, portanto, tiveram início com, ao menos, três grandes mentiras. Mais tarde, juntaram-se a elas os ataques ao Pix, classificado pela Casa Branca como uma ferramenta de concorrência desleal. E mais recentemente, veio à tona também, de maneira mais explícita, o interesse de Trump em explorar minerais e terras raras abundantes no Brasil, usados por indústrias altamente tecnológicas, cujos donos que figuravam entre os principais convidados à posse de Trump.

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Cabe destacar ainda, nesse balaio de interesses escusos envolvidos no tarifaço, os ganhos bilionários obtidos por “alguém” com informação privilegiada que agiu no mercado financeiro especulando em cima dos efeitos da carta antes mesmo dela ser tornada pública.

Ou seja, com o passar dos últimos dias, ficou claro que os ataques à soberania brasileira têm como motivo central grandes interesses econômicos do mercado e de mega-corporações, e não a defesa do companheiro da “Internacional Fascista”.

Ao que parece, Trump usou o processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) contra Bolsonaro e aliados por tentativa de golpe como desculpa para a tarifa, uma forma de “jogar para a plateia” da extrema direita brasileira, tentando fortalecê-la diante das dificuldades enfrentadas pelo seu principal líder.

Claro, Eduardo Bolsonaro, certamente teleguiado pelo pai, atiçou Trump contra o Brasil — e talvez tente, agora, buscar uma saída para a reação por ele inesperada, como forma de se colocar como o “herói” que resolveu o problema das tarifas. Mas, ao que tudo indica, Trump sempre teve em mente outros interesses, certamente mais valiosos para ele do que a prisão ou não de Bolsonaro e companhia.

É nesse quadro que está a dificuldade encontrada pelo Brasil para negociar. Afinal, para Trump “negociar” significa o Brasil abrir mão de sua soberania e aceitar uma intervenção externa no sistema judiciário; significa, ainda, entregar riquezas minerais a baixo custo às empresas estadunidenses; deixar as big techs atuarem sem nenhuma regulação e destruir um sistema público e gratuito de pagamento que deu certo, mas que incomoda as operadoras de cartão sediadas principalmente nos EUA.

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Já para o governo Lula, “negociar” significa dialogar em alto nível, sem colocar à mesa a soberania nacional, a economia e a vida dos brasileiros; deixar que as instituições sigam cumprindo seu papel constitucional de maneira independente e fazer frente a quaisquer interferências estrangeiras sobre riquezas e políticas públicas nacionais.

Com base nesses princípios, o governo Lula já manifestou, em diversos momentos — antes mesmo da tarifa de 50% — a disposição de dialogar com Trump no que diz respeito à questão comercial.

“Eu espero que o presidente dos Estados Unidos reflita sobre a importância do Brasil e resolva fazer o que num mundo civilizado a gente faz: tem divergência? Senta numa mesa, coloca a divergência de lado e vamos resolver, e não de uma forma abrupta, individual de tomar a decisão que vai taxar o Brasil em 50%”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira (28), em São João da Barra (RJ).

Em nota encaminhada à imprensa, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, reiterou que o país está disposto a tratar das questões comerciais com os EUA “sem qualquer contaminação política ou ideológica”, mas ressaltou que “a soberania do Brasil e o estado democrático de direito são inegociáveis”.

Alckmin tem sido um dos ministros que mais têm atuado para consertar a crise gerada por Trump, conversando tanto com empresários brasileiros quanto com representantes dos EUA, inclusive o secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick.

Nesta segunda-feira (28), o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi para Nova York, onde cumpre agenda na Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a questão palestina. Mas, está a postos para também tratar da questão tarifária junto ao governo estadunidense caso haja espaço para diálogo.

Estas são apenas algumas demonstrações de que o Brasil é o adulto da sala, tentando colocar ordem de maneira altiva na sala bagunçada pela turminha da extrema direita daqui e de lá, que de maneira irresponsável joga com o futuro de milhões de brasileiros e, também, de norte-americanos.

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Last Update: 28/07/2025