Às vésperas da COP 30 no coração da Amazônia, o maior evento sobre mudanças climáticas do mundo, uma obra do governo do Estado do Pará está envolta em polêmica entre a justiça federal, ministério público, comunidades tradicionais, movimentos sociais e setores empresariais ligados ao agronegócio e à mineração: o derrocamento do Pedral do Lourenço.
O derrocamento do Pedral do Lourenço é a explosão de formações rochosas naturais que ocupam cerca de 35 km do leito do Rio Tocantins entre os municípios de Itupiranga e Nova Ipixuna, próximo de Marabá, a montante da Usina Hidrelétrica de Tucuruí.
Os segmentos empresariais que defendem esta obra buscam tornar o Rio Tocantins completamente navegável o ano todo para reduzir os custos logísticos de escoamento da produção agrícola do Centro-Sul do país, permitindo que as commodities cheguem ao Porto de Vila do Conde, em Barcarena, próximo à Belém, pelo modal fluvial. O Pedral do Lourenço durante o período de estiagem (entre junho e outubro) impede a navegação de grandes barcaças por conta da exposição das grandes rochas.
Já os movimentos sociais, entidades científicas, Ministério Público Federal e comunidades tradicionais como associações de pescadores artesanais, povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos são contrários à obra em função dos graves e irreversíveis impactos socioambientais negativos que ela vai causar.
Estudos ambientais demonstram que a explosão sistemática do Pedral do Lourenço (por um período de cerca de 2 anos) irá alterar profundamente a dinâmica do fluxo do Rio Tocantins nessa localidade que é um berçário de inúmeras espécies da fauna aquática, elemento indispensável para a subsistência das populações tradicionais da e do equilíbrio ecológico da região.
O derrocamento do Pedral do Lourenço levará à redução significativa e/ou extinção de dezenas de espécies de peixes (algumas que sequer foram ainda conhecidas e catalogadas), ameaça à vida do boto-do-araguaia e da tartaruga-da-amazônia, além de impactar negativamente a pesca que é uma atividade essencial para a subsistência dos povos tradicionais da região, já que as toneladas de dinamite que serão explodidos no rio ocasionará a contaminação da água, a morte de parte da fauna e flora, a destruição do berçário natural, a sedimentação do leito e a alteração das margens do rio. Importa mencionar também que o Pedral do Lourenço é uma área sagrada para diversas etnias indígenas. Já pensou o escândalo que seria se uma área sagrada para populações cristãs estivesse ameaçada de explosão por conta de um empreendimento?
Em resumo, é mais um gravíssimo crime ambiental ocasionado por mais uma grande obra na Amazônia sob o pretexto do velho discurso de “progresso”, que nunca trouxe melhorias sociais para a população, mas somente lucros exorbitantes para as grandes empresas e destruição ambiental em um dos biomas mais importantes do mundo.
A recente proposta do ICMBIO de criar a Área de Proteção Ambiental do Rio Tocantins gerou revolta no governo Hélder Barbalho, pois pode impedir que esse ecocídio ocorra. O Ministério Público Federal também tem atuado através de ações judiciais exigindo a revisão de estudos ambientais e a devida consulta pública à população que será atingida pelo empreendimento, conforme determina a Convenção 169 da OIT.
É urgente que o debate e a luta contra mais este crime socioambiental ganhe visibilidade internacional para que o derrocamento do Pedral do Lourenço seja definitivamente barrado, aproveitando o momento da COP 30 na Amazônia.
Na grande marcha que está sendo organizada pela Cúpula dos Povos em Belém em Novembro de 2025, devemos gritar em alto e bom som para o mundo inteiro ouvir que os povos da Amazônia não vão permitir que a agenda de destruição ambiental das grandes corporações e dos governos que visam explodir rios, ampliar o desmatamento e explorar petróleo na região seja implementada, agravando a emergência climática global e destruindo o ambiente natural e os modos de vida das populações tradicionais.