No dia 5 de maio, o colunista Moisés Mendes, do Brasil 247, publicou um artigo intitulado “Tarcísio, o frouxo”. Logo no primeiro parágrafo, lemos que:
“Tarcísio de Freitas, aquele que autorizou a matança de quem a PM visse como bandido e avisou que não estava nem aí se fosse denunciado a uma corte internacional como mandante dos assassinatos, estaria penando para continuar governando, se fosse de esquerda.”
Até aqui, tudo bem. Poderíamos concordar com a matéria se se tratasse apenas de um parágrafo. No entanto, Moisés escreveu mais, e logo no segundo parágrafo vemos uma mudança de posição que parece contradizer a primeira:
“Assaltantes estão matando nos bairros nobres de São Paulo, há um evidente descontrole na área de segurança com as afrontas e inovações do crime miúdo, a PM continua atirando em quem se mexe, se for pobre e negro, e Tarcísio governa como se tudo estivesse numa boa.”
Primeiro Moisés acusa Tarcísio de ser um criminoso ao estilo dos sionistas na Palestina, pois nem mesmo se as fajutas cortes internacionais denunciassem o governador de São Paulo por crimes contra a humanidade, Tarcísio se importaria. Na sequência, o texto se converte em um programa televisivo de José Luís Datena, ao mesmo tempo em que o autor critica os assassinatos da PM contra os negros e os pobres na periferia.
Estaria errado, portanto, assassinar a população pobre na periferia, mas, caso a população pobre resolva assaltar alguém em um bairro nobre não seria um problema?
Moisés continua e cobra uma postura menos “frouxa” com a “bandidagem”:
“Porque os jornalões, com a surpreendente exceção do Estadão, escondem os fatos que denunciam Tarcísio como um frouxo diante da bandidagem. Nessa segunda-feira, o jornal publicou a seguinte frase de um jovem assaltado em Santo Amaro, nas proximidades da estação de metrô do Brooklin:
“Não confio mais na segurança pública de São Paulo”.
A segurança pública insegura é a do governador Tarcísio e de seu secretário Guilherme Derrite. Mas os jornalões não dão seus nomes.”
Apesar da bizarrice, Moisés mostra qual a intenção da matéria nos parágrafos acima. Sua preocupação não é nem se a polícia mata a população pobre, nem se a “bandidagem” ataca alguém em um bairro nobre. A preocupação de Moisés é em relação ao que os jornais da burguesia dizem em relação à criminalidade e a repressão policial. Para o colunista, seria importante que jornais como o Estadão ou a Folha criticassem Tarcísio, mesmo que essas críticas sejam pela falta da repressão policial contra a população, o que inevitavelmente levaria o governo, que é muito direitista, a reprimir ainda mais o povo de São Paulo. No fim, preocupações puramente eleitorais, como vemos nos parágrafos a seguir:
“Os jornalões tratam com cuidado tudo que possa atingir Tarcísio, mesmo sendo um frouxo. E mais ainda depois que descobriram que ninguém, nem Caiado, nem Zema, nem Leite, tem condições de enfrentar Lula em 2026. Tarcísio, mesmo sendo frouxo, ainda é a aposta menos pangaré.
O governador precisa ser preservado, apesar de continuar fraquejando no enfrentamento da criminalidade do terror de rua, essa que faz com que dois homens numa moto provoquem pânico em quem estiver passando por perto. O paulistano não pode ver dois sujeitos numa moto.
Mas Tarcísio e Derrite não conseguem conter os assaltos e os medos, e mesmo assim não aparecem nas notícias sobre insegurança. Porque um é candidato a candidato a presidente e o outro é candidato ao Senado.
A velha direita, que de novo não tem forças para dispor de um dos seus como nome para 2026, precisa se agarrar a Tarcísio. Para não ficar refém de uma saída desesperada do bolsonarismo com Michelle ou da volta da assombração representada por Ciro Gomes.
Tarcísio, que só existirá como candidato com a bênção de Bolsonaro, apresenta-se pelo que não é. Ainda não é o nome escolhido pelo seu líder, não é considerado bolsonarista raiz, não é um conservador clássico e não é uma figura que passe a certeza de que deseja mesmo enfrentar Lula.”.
Conscientemente ou não, o que Moisés acaba por fazer é fortalecer a posição tradicional da direita em relação ao crime, com a ideia de que a polícia e a justiça devem massacrar o “criminoso”.
Recentemente, inclusive, temos visto muitas tentativas de elementos infiltrados na esquerda de implantar nesse setor político o programa da direita para a repressão. Aqueles que tentam levar adiante essas ideias dentro da esquerda costumam dizer que a “segurança pública” seria um ponto fraco na esquerda e que, ao invés de entender o crime como um sintoma da falência da sociedade capitalista, o esquerdista deveria pedir por mais polícia.
O Estado, no entanto, não é neutro. O aumento da repressão estatal sempre levará a um aumento da repressão contra os trabalhadores, já que o Estado pertence à burguesia, não ao operariado. Sendo assim, chamar Tarcísio de frouxo por não conter a bandidagem é fazer coro com quem quer ver, justamente, alguém ao estilo de Tarcísio governando todo o Brasil e reprimindo a população.