A imprensa burguesa brasileira, porta-voz do grande capital, já não esconde mais a sua simpatia pelo ditador argentino Javier Milei. O artigo de Andrés Oppenheimer para O Estado de S. Paulo, intitulado Como Javier Milei está criando um milagre econômico na Argentina, é um exemplo claro da operação em curso para promover a política de choque econômico aplicada pelo governo ultraneoliberal argentino.
Segundo Oppenheimer, Milei estaria “colhendo resultados surpreendentemente positivos” após um ano e quatro meses de governo. Um governo que, para a população trabalhadora argentina, significou cortes brutais em salários, destruição dos direitos sociais, repressão violenta a manifestações e uma política de arrocho sem precedentes. O artigo tenta transformar essa ofensiva contra o povo em “milagre”, escondendo que ela é, na verdade, a imposição forçada de uma política de terra arrasada ditada diretamente pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
A “queda da inflação”, que Oppenheimer tenta vender como “fenomenal”, é resultado de uma paralisia completa da economia real, do esmagamento do poder de compra dos trabalhadores e da implosão do mercado interno. Não se trata de uma “recuperação econômica”, mas da destruição do tecido econômico nacional. É a miséria estatisticamente arrumada para agradar os especuladores.
O governo Milei, como seus similares históricos da América Latina — Daniel Noboa no Equador, Dina Boluarte no Peru e Nayib Bukele em El Salvador —, representa a tentativa do imperialismo de impor uma política monstruosa, que só é possível de ser aplicada por meio de uma ditadura.
Muito mais que um simples comentário sobre a política no país vizinho, o artigo do Estadão tem como objetivo apresentar um programa para o Brasil. Para a burguesia, o próximo presidente da República deve ser alguém como Javier Milei: um político impopular, sem base social real, capaz de levar o país para o buraco a serviço do grande capital.
O caso, inclusive, deve servir de alerta para os setores governistas que comemoram os pífios resultados econômicos ou celebram o cerco judiciário contra Jair Bolsonaro (PL). A cada dia que se passa, a burguesia vem demonstrando que não quer um novo governo Lula.