Parlamentares da Bancada do PT lembraram pelas redes sociais os cinco anos do início da tragédia da Covid-19 no Brasil. No dia 12 de março de 2020, segundo o Ministério da Saúde, morria a primeira pessoa por causa da doença no país. Uma paciente de 57 anos foi, oficialmente, a primeira entre as 715 mil vidas perdidas no país durante a pandemia, após ter sido internada no Hospital Municipal Doutor Carmino Cariccio, na Zona Leste de São Paulo. Os petistas lamentaram o alto número de vítimas, mas destacaram que muitas delas poderiam ter sido salvas se o governo passado não tivesse adotado uma postura negacionista em relação ao vírus.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 7 milhões perderam a vida em todo o mundo. Nessa terça-feira (11/3) fez cinco anos que a OMS reconheceu oficialmente a Covid-19 como uma pandemia.
“Histeria” e “gripezinha”
No Brasil, dias após a confirmação da primeira morte pelo novo coronavírus, o então presidente Jair Bolsonaro disse que havia uma “histeria” em relação à doença. Alguns dias depois, quando o país já registrava mais de 10 mortes confirmadas pelo vírus, Bolsonaro disse em um pronunciamento em rede nacional de TV e rádio (24/3/20) que a Covid-19 era uma “gripezinha” ou “resfriadinho” e que, se ficasse doente, não sofreria tanto por ter “histórico de atleta”.
No pronunciamento ele também criticou medidas que já estavam sendo adotadas por governadores para evitar a disseminação do vírus. Entre elas, o cancelamento de eventos públicos, fechamento das atividades comerciais não prioritárias e interrupção de aulas nas escolas. A justificativa de Bolsonaro era que as medidas poderiam “prejudicar muito a economia”.
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Diversas outras vezes o ex-capitão de extrema direita também desdenhou da doença. Em uma viagem aos Estados Unidos, dias antes da confirmação da primeira morte no Brasil, ele disse durante um discurso a apoiadores em Miami que a “questão do coronavírus” não era “tudo isso” e que tinha muito de “fantasia”. No entanto, cerca de 17 integrantes de sua comitiva testaram positivo para a Covid-19 após retornarem ao Brasil.
Críticas ao negacionismo de Bolsonaro e de seu governo
A deputada federal e médica sanitarista Ana Pimentel (PT-MG) lamentou o alto número de mortes no Brasil pela doença e também criticou o negacionismo que imperava no governo Bolsonaro durante a pandemia. Ex-secretária de Saúde de Juiz de Fora (MG), ela disse ainda que, apesar da nova postura do Governo Lula, de apoio à ciência e ao fortalecimento do SUS, é preciso não baixar a guarda diante de novas pandemias que possam surgir.
“Sabemos que o Brasil avança, mas não podemos esquecer que ainda enfrentamos marcas do negacionismo da extrema direita, dentro e fora do país. Precisamos ficar atentos e lembrar que pandemia não tem fronteira. É crucial mantermos a vigilância e trabalhar incansavelmente pela defesa e fortalecimento da ciência e da saúde pública. Para que nunca mais aconteça”, escreveu.
O também deputado federal, médico sanitarista e ex-gestor municipal e estadual na área da Saúde, Jorge Solla (PT-BA), também ressaltou que é preciso relembrar a tragédia que ocorreu no Brasil durante a pandemia para que o Brasil nunca mais passe por uma situação semelhante.
“O Brasil enfrentou a maior crise da humanidade com o pior governo da história. Temos que relembrar para não voltar a viver situações como essa, onde o governo fez pouco caso das mortes e foi cúmplice no genocídio que abateu milhares de brasileiros”, observou.
Durante a pandemia da Covid-19 no Brasil, o próprio ex-presidente Bolsonaro desdenhou da complexidade da situação adotando uma postura negacionista sobre o combate ao novo coronavírus. Relembre abaixo algumas dessas situações:
Bolsonaro contra o confinamento
Nas semanas seguintes à decretação da pandemia, Jair Bolsonaro subiu o tom contra as medidas que tentavam evitar a proliferação do vírus. Ao criticar medidas de confinamento (lockdown), Bolsonaro protestou contra as iniciativas discutidas no Judiciário e no Legislativo nesse sentido e ainda incentivou que as pessoas vivessem normalmente como se a pandemia não existisse.
Em entrevista, Bolsonaro justificou sua posição afirmando que muita gente “vai pegar mesmo a doença, mais cedo ou mais tarde” e que o país não poderia entrar em “uma neurose como se fosse o fim do mundo”. Com isso, reforçava a teoria negacionista que já proliferava na internet de que a pandemia poderia ser combatida com a tal “imunidade de rebanho”.
Essas declarações foram fortemente criticadas por cientistas e especialistas em saúde. Eles apontaram que testes científicos já haviam detectado que uma pessoa recuperada da Covid-19 não tinha uma imunidade duradoura para a doença, e que poderia ser infectada novamente e ainda transmitir para outras pessoas.
Além disso, especialistas alertaram na época que a aplicação do conceito de “imunidade de rebanho” poderia levar a uma contaminação generalizada, sobrecarregando os atendimentos nos hospitais e causando milhares de mortes a mais do que as estimativas, não só por conta da doença, mas também por falta de atendimento médico.
Bolsonaro incentiva a contaminação
Enquanto milhares de pessoas morriam no Brasil, chegando ao pico de 4.249 mortes em um único dia pela doença (7/4/21), Jair Bolsonaro continuava incentivando as pessoas a saírem de casa e viverem a vida normalmente. Em declaração à imprensa ao lado de apoiadores, o então presidente disse que o Brasil deveria “deixar de ser um país de maricas” por causa da Covid-19 e que as pessoas deveriam ter “coragem de enfrentar de peito aberto a pandemia”.
Ao responder jornalistas, em duas ocasiões, nas quais foi perguntado sobre o que achava dos recordes sucessivos de mortes diárias pela Covid, Bolsonaro esquivou-se ao dizer que não poderia fazer nada e ainda desdenhou da situação. Entre outras barbaridades afirmou: “Eu não sou coveiro”, “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.
Além dessas declarações, o então presidente também confrontou as medidas de distanciamento social adotadas durante a pandemia. Em mais de uma ocasião promoveu aglomerações de pessoas – sempre sem uso de máscara – e ainda participou de motociatas por avenidas de várias cidades, por vezes sem usar capacete, ignorando a legislação de trânsito.
Bolsonaro debocha de vítimas da Covid
Outra característica de Jair Bolsonaro durante a pandemia foi a insensibilidade ao sofrimento do povo, principalmente dos infectados pelo vírus da Covid-19. Durante duas lives transmitidas em suas redes sociais, no dia 6 e 18 de maio de 2021, o então presidente imitou uma pessoa com crise de falta de ar por conta da Covid. Nas ocasiões ele criticava o ex-ministro da Saúde de seu governo, Henrique Mandetta, que havia recomendado no início da pandemia que pessoas com sintomas da doença procurassem atendimento hospitalar somente em casos de falta de ar.
Diante da falta de solidariedade em relação aos milhares de vítimas da Covid, as imitações de Bolsonaro foram encaradas por grande parte da sociedade, principalmente por pessoas que foram infectados pelo vírus e também por seus familiares, como um deboche e falta de respeito. Durante a campanha eleitoral de 2022, em entrevista ao Jornal Nacional, Jair Bolsonaro negou ter imitado uma pessoa sem ar ao falar das vítimas da Covid.
Bolsonaro defende medicamentos ineficazes
Como se não bastasse a falta de ação no combate à pandemia, Jair Bolsonaro passou também a defender o uso de medicamentos considerados cientificamente ineficazes como forma de prevenir a Covid-19. Antes mesmo do aparecimento de qualquer vacina, o então presidente passou a defender o uso da Cloroquina, Hidroxicloroquina e Ivermectina como parte de um hipotético “tratamento precoce” para evitar a infecção pelo coronavírus. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), baseado em estudos científicos, nenhum desses medicamentos jamais teve eficácia comprovada no combate à Covid.
Até janeiro de 2021, o governo Bolsonaro havia gasto quase R$ 90 milhões na compra de medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid.
Bolsonaro contra a vacina
O então presidente também tentou de todas as formas boicotar o uso das vacinas contra a Covid no país. Segundo depoimento do gerente-geral da farmacêutica Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, na CPI da Covid no Senado, o governo Bolsonaro rejeitou três ofertas de 70 milhões de doses da vacina, que poderiam ser entregues em dezembro de 2020. Devido ao atraso na compra, o governo só fechou a compra em março de 2021.
Não satisfeito, Jair Bolsonaro ainda tentou de todas as formas boicotar o desenvolvimento e a distribuição da vacina Coronavac (do Instituto Butantan). Segundo depoimento do Diretor do Butantan, Dimas Covas – também a CPI da Covid – inicialmente o governo Bolsonaro rejeitou três ofertas de compra da Coronavac a partir de julho de 2020. Somente em janeiro de 2021 foi acertado a compra do imunizante.
Bolsonaro divulga Fake News sobre a vacina
Além da demora, Bolsonaro ainda deu várias declarações levantando dúvidas sobre a eficácia das vacinas. Ecoando teorias conspiratórias de grupos de extrema direita no WhatsApp, o então presidente disse que não confiava na Coronavac por ter insumos vindos da China.
Além de ter dito várias vezes que não se vacinaria, por supostamente ter “anticorpos” que o protegeriam do vírus, sem apresentar qualquer tipo de prova Jair Bolsonaro declarou também que as vacinas poderiam ter efeitos adversos.
“Se você virar um jacaré, problema de você. Se você virar super-homem, se nascer barba em alguma mulher aí ou algum homem começar a falar fino, eles não vão ter nada a ver com isso. O que é pior: mexer no sistema imunológico das pessoas”, mentiu em entrevista à imprensa em dezembro de 2020.
O então presidente insinuou ainda que a vacinação de crianças poderia criar efeitos adversos, sem apresentar qualquer tipo de comprovação. Durante a transmissão de uma live em suas redes sociais (21/10/21), Bolsonaro reproduziu trechos de uma notícia falsa que circulava na internet que associava o uso da vacina contra a Covid-19 ao risco de contrair o vírus HIV e desenvolver Aids.
“Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados – quem são os totalmente vacinados? Aqueles que depois da segunda dose, né, 15 dias depois, 15 dias após a segunda dose, totalmente vacinados – estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida muito mais rápido do que o previsto, recomendo ler a matéria”, disse Bolsonaro a época.
Os deputados Alexandre Lindenmeyer (RS), Carlos Zarattini (SP), Bohn Gass (RS) e Arlindo Chinaglia (SP) também lembraram em suas redes sociais os cinco anos do início da tragédia da Covid no Brasil.
Héber Carvalho