Uma organização de saúde mental descobriu taxas “inquietantemente altas” de distúrbios mentais entre palestinos em Gaza, especialmente mulheres e crianças.
Em um relatório publicado na terça-feira, o Programa de Saúde Mental da Comunidade de Gaza (GCMHP) declarou que a guerra em curso de Israel no enclave produziu uma “crise de saúde mental sem precedentes” que pode durar “gerações futuras”.
O relatório concluiu que as crianças de Gaza “vivem em um estado de tragédia sem fim”, com muitas delas sofrendo de insônia, sonambulismo, terrores noturnos, tremores constantes e enurese noturna.
Um pai contou ao GCMHP que um de seus filhos molha a cama ao ouvir o som de aviões de guerra e drones voando sobre sua cabeça.
Algumas crianças desenvolvem sérios distúrbios de saúde mental. Um garoto de 13 anos mencionado no relatório sofre de alucinações visuais e auditivas.
Os crescentes níveis de ansiedade entre a população de Gaza produziram um aumento na violência doméstica.
Em uma entrevista, uma mulher disse que ficava “imaginando cadáveres” e se lembrava do corpo do filho com os intestinos saindo. Seu trauma se manifestou em nervosismo e agressão, o que a levava a gritar e bater nos filhos sem provocação.
Os médicos relataram altas taxas de desamparo e desespero entre muitas das pessoas com quem conversaram, que, como resultado, pararam de cuidar de si mesmas ou de brincar com seus filhos.
Eles também encontraram uma prevalência de “traumas complexos”, que se manifestam em negação e isolamento social, com alguns perdendo a capacidade de se expressar.
“Alguns beneficiários contam histórias de perda de pai, mãe, esposa e filhos, e ficam em um estado de estagnação e apatia, como se o assunto fosse simples e comum”, relatou um clínico.
Outro lembrou de uma mulher que riu ao falar sobre ter sido revistada pelas forças israelenses.
O trauma psicológico vivenciado por muitos também se manifesta em sintomas físicos, como dores nas articulações e no estômago, batimentos cardíacos acelerados e falta de ar.
Além de pedir um cessar-fogo e a distribuição de ajuda, o GCMHP disse que o fornecimento de apoio psicológico “deve receber prioridade máxima como parte essencial da ajuda humanitária a Gaza”.